Escândalo.

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Capítulo 7: Annabeth.

A verdade é que eu nunca quis ser uma lenda. Não para Panem. Não para os Jogos. Sempre quis ser reconhecida, mas não por ter matado cinco adolescentes aos quinze anos.

Meu sonho sempre foi seguir os passos do meu pai, construindo casas pelo Distrito. Desde as mais simples, até as maiores mansões. Uma das vantagens de se viver no 4 era que havia espaço para isso, diferentemente do que seria caso eu vivesse no 12, o que era injusto. A negligência da Capital quanto a alguns Distritos me irrita.

É claro que nunca estive lá, mas ouvi histórias. Histórias terríveis sobre pessoas morrendo de fome e frio no meio das ruas. Pessoas sendo espancadas por Pacificadores em praça pública. Explosões nas minas. Tiroteios em mercados ilegais. Uma realidade completamente diferente da que eu cresci.

É extremamente bizarro como um único país pode ter tantas facetas opostas.

Todos os mentores ficavam dispostos em um único e grandioso camarote bem próximo da cabine onde Apolo, o apresentador, e Ícaro, seu assistente, comentariam o desfile. Já o presidente Zeus e a esposa, Hera, ficavam num pedestal no mesmo nível das arquibancadas, mas ao final da pista por onde as carruagens passariam, entre os dois enormes portões banhados a ouro. Tudo isso ficava exposto a um céu aberto e cheio de estrelas.

Era glorioso, eu tinha que admitir. Todo o acabamento feito em ouro e prata brilhava a luz do luar e das tochas dispostas por entre os assentos onde se encontravam os residentes da Capital. Não só eles, mas também os outros mentores, se vestiram elegantemente para a ocasião. De onde eu estava, perto da borda do camarote com as duas mãos sobre uma barra de ferro, virei a cabeça e rapidamente localizei Luke, mais adiante no seu terno preto de seda, sem gravata, e o habitual copo de whisky nas mãos enquanto conversava com o casal de mentores do Distrito 1, Grover e Juniper Underwood, os noivos mais famosos de Panem. O casamento deles havia sido um evento quase tão grandioso quanto o de agora, também sendo transmitido ao vivo para todo o país. 

Eu estava de vestido, e eu não gostava muito de vestidos. Achava expositivo demais, mas foi o que me pediram para colocar. Anfitrite fez minha maquiagem, o que eu também não gostava, mas pedi pra ela não exagerar. O cabelo estava preso num coque bagunçado no topo da cabeça com uma mecha caindo na lateral do rosto, esta que cuidadosamente arrumei atrás da orelha antes de deixar o apartamento.

É claro que eu estava bonita. O queixo de Luke caiu quando apareci na frente dele, e a maioria dos olhares se voltou para mim quando entramos no camarote. Eu não estava vestida como a menina que eu era, e sim como uma mulher.

E isso me deixava estranhamente desconfortável.

—Ele te abandonou? —pergunta uma voz meio rouca atrás de mim. —Porque eu nunca faria isso.

Percebi que deixei a mente viajar enquanto observava Luke com o casal. Quando virei o rosto na direção da voz, vi um cara alto, cabelo loiro platinado e frios olhos azuis. Vestia um blazer aberto por cima de uma camiseta branca lisa, e vários anéis dourados nos dedos da mão direita, que usava para me estender uma taça cheia com um líquido vermelho.

—Eu não bebo. —foi o que eu disse, e nesse momento vi a cicatriz. Uma linha fina onde uma faca bem afiada havia repousado em seu pescoço.

Octavian Priest, Distrito 2. Quinquagésima quinta edição. Quase perdeu a cabeça numa luta com um tributo do 7. O corte não foi fundo o suficiente para causar maiores problemas, mas deixou a cicatriz para a qual estou olhando agora.

—Sei disso, e não estão servindo apenas álcool. —Octavian abriu um sorriso que deveria parecer amigável, colocando a taça na minha mão. —Experimenta, você não vai se arrepender.

Sacrifice Games - (percabeth)Where stories live. Discover now