my hero

325 49 30
                                    

11

Como era de se esperar, o cansaço caiu sobre nós duas depois de algumas horas trancadas ali. Eu não consegui pregar meus olhos por mais de cinco segundos, a sensação de estar ali era horrível e eu nunca conseguiria dormir desse jeito.

A impotência, o medo, o suor quente escorrendo da minha testa até a ponta do meu queixo. Cada detalhe era péssimo. Mas felizmente a inquietação vinha apenas da minha parte, que precisava de muito menos preocupação que a Lilly. Sua crise havia lhe dado uma trégua e ela caiu num sono profundo.

Mas confesso que chequei a respiração dela diversas vezes para ter certeza de que estava bem.

Tirei o meu moletom e o deixei aberto no chão de terra, usando-o como um lençol. Me deitei sobre ele, apoiando o rosto sobre as minhas mãos.

Aceitar o pior era a única coisa que eu podia fazer naquele momento. A estrada estava a pelo menos dois quilômetros de distância do bunker, seria impossível para qualquer pessoa ouvir um pedido de socorro. Isso se alguém passasse por ali, que também pode ser julgado como impossível.

Tudo que teria naquela floresta era o maníaco. E se não fosse por alguma lei idiota que proíbe a caça, talvez algum caçador passasse por aqui e ouvisse meus gritos, mas isso também era uma possibilidade nula.

Eu quero fugir dessa minha realidade deprimente. Como não tenho uma boa garrafa de uísque do meu lado para me ajudar com esse desejo, tentar dormir é tudo que posso fazer.

[...]

— Claire? Ei, Claire — ouvi uma voz calma distante, chamando o meu nome diversas vezes. Em até certo ponto, eu tinha certeza de que era apenas um sonho ou delírio, mas mudei de ideia no segundo em que acordei e me deparei diretamente com aqueles olhos azuis sobre mim.

Recuei imediatamente, me arrastando para o mais longe que eu conseguia. Conseguia sentir meu coração palpitando contra o meu peito, quase saindo pela boca com o susto que eu havia acabado de tomar.

O cara do mercado e da casa da Lilly. O que ele está fazendo aqui?

Esfreguei meus olhos com força, me certificando de que realmente não era um sonho. No fundo eu sabia que era verdade, sua respiração quente e ofegante contra o meu rosto foi real demais.

Olhei por cima do ombro dele, direcionando minha atenção para o canto onde Lilly estava, mas ela já não estava mais lá.

— O que fez com ela? — perguntei.

— Relaxa, eu não fiz nada — ele se levantou e andou até mim, oferecendo sua mão para me ajudar a levantar também. — Eu a tirei daqui, Lilly precisava tomar um ar fresco. Eu vim ajudar vocês.

— E como diabos você veio parar aqui? — empurrei as mãos dele para longe de mim, me levantando por conta própria e batendo na minha roupa para tirar o excesso de terra.

— Jake? — a voz da Lilly vinda do topo da escada me tranquilizou. — Ela acordou?

— Acordou. Já estamos subindo — ele respondeu. O estranho pegou meu moletom no chão e me entregou de volta, se aproximando de mim sem pressa, como se achasse que sinto medo dele. Eu não sinto. — A propósito, eu sou o Jake.

— Ainda não respondeu como chegou aqui.

— Eu aceito apenas o agradecimento. Agora podemos sair daqui antes que o mascarado volte e tranque nós dois aqui em baixo dessa vez?

Tell Me Lies (DUSKWOOD)Where stories live. Discover now