30. Nunca estará sozinha

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Os marujos do Red Force se esforçavam para manter o navio esquilo no curso apesar das funções básicas como leme e vela não serem novidades para eles. O problema eram todas as tecnologias envolvidas para deixá-lo tão fácil de manusear que uma pessoa (bem treinada para isso) poderia navegar sozinha.

A tempestade rugia e a chuva açoitava os pobres coitados, que se afastavam cada vez mais do galeão viking. Depois que finalmente atravessaram o trecho turbulento, Shanks e Benn embarcam no pequeno navio, conferindo se estavam todos bem. Os homens, apenas com o olhar, pediam para Shanks conferir ele mesmo como Mia estava se sentindo. Claro, ele sabia, a garrafa de vinho fazia questão de espetá-lo a todo momento como um caco de vidro ameaçador fincado no seu pé. Bateu com calma na porta do quarto principal. De início, sentiu um calor gostoso, mas depois a pontada voltou para atormenta-lo.

- Posso entrar, Mia?

Silêncio.

Não tentou outra vez, apenas abriu, bem devagar para não assustá-la. Lá fora, no convés, ouviu o grunhido de Benn, o guardião das adagas gêmeas. Segurava-as com todas as suas forças até elas pararem de se mexer.

O quarto estava totalmente escuro e a cada passo que dava, Shanks chutava sem querer algum objeto estranho de metal. Acendeu, com certa dificuldade, uma lamparina bem fraca, que mal iluminava o local. Uma forma soturna se encolheu ainda mais no canto do quarto, como se fugisse da luz. A voz fraca e rouca surpreendeu Shanks.

- Eu estou horrível... vá embora.

O ruivo esboçou um sorriso. Sentou-se de frente para Mia, de pernas cruzadas. Os círculos escuros ao redor dos olhos de Mia indicavam que dormia pouco.

- Anda tendo pesadelos, Mia?

O chamado de seu nome, por um momento, a fez lembrar o que e quem ela era. Aquele sorriso gentil, mas por que tão triste? Tentava esticar seu braço para sentir a pele quente, mas seu corpo a traía, alegando que era perigoso demais atravessar a barreira imaginária que sua mente criou. Verdade, Mia, aqui dentro não existe dor, nem perda, nem mortos, nem feridos. E olha só que fácil, é só ficar quietinha de olhos bem abertos que as vozes, os gritos, as explosões não executam seu coral caótico.

O dedo indicador entrelaçou no seu e pela primeira vez depois de muito tempo ela viu cor e calor. Shanks já queria fazer isso a muito tempo, mas a tatuagem confundia seu julgamento. Tinha vezes que o chamava furiosamente, outras era fria como uma lufada de vento durante a nevasca. Mas hoje ele finalmente criou coragem e seguiu sua própria vontade.

- Você continua linda, Mia. - Agora Shanks se sentia um pouco mais confiante, não sairia dali tão cedo. Sentou-se mais próximo, segurando mais dois dedos, depois a mão, depois entrelaçou os dedos. Como uma pessoa podia ser tão gelada assim? Inclinou o rosto para se enveredar no emaranhado de cabelos pretos e deu de cara com o que procurava. A orbe amarela cintilava de tal forma que o ruivo corou, não conseguiu evitar. Não saberia dizer o que teria acontecido se estivesse encarando as duas, já que a outra estava oculta pelas madeixas negras. Ela estava ali! Sua querida Mia estava ali esperando por ele! - Consegue me enxergar? - Perguntou, inocente.

Os olhos piscaram algumas vezes como se para afastar a névoa chata que a impedia de enxergar a realidade. Frisou as sobrancelhas, estava com medo e sua voz tremia.

- É seguro?

Shanks sorriu. Se desvencilhou de Mia e estendeu a mão, a convidando.

- Tem mais gente preocupada com você, Mia.

A mão estava ali, parada no ar. Era só pegar. "É perigoso!". Não tenho nada a perder. "Você vai sentir dor!". Vai passar. "Ele só quer te usar!". Não... É o Shanks, ele não me faria mal nunca. "Você não tem nada, é uma inútil!". Tudo bem, posso começar de novo. E não preciso estar sozinha. Mesmo com a voz interna martelando em sua cabeça todos os possíveis pontos negativos, Mia passa pela barreira imaginária e segura, com todas as forças que tinha, a mão salvadora.

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