➵ 2. Little Bunny

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Calina Sartori
6 anos atrás...

Meus pés latejavam sob o aperto da sapatilha, minhas costas se tencionando ao se curvar e os músculos dos meus ombros ficavam cada vez mais rígidos. A versão do pas de deux de Romeu e Julieta sendo tocada por um piano rolando em nossos ouvidos, enquanto meus olhos se mantinham alinhados com o de Blake — meu namorado — em um romance lindo e doloroso. A coreografia sutil e detalhada dá aos nossos papéis principais uma riqueza de oportunidades para diferentes interpretações dos amantes condenados.

Eu amava aquela sensação. Os olhos de todos voltados para mim, me admirando, desejando ser eu. Ter meus pés flutuando no chão, sentindo o forte agarre na minha cintura que sempre me faz perder o ar. A sensação de poder fechar os olhos e saber que não vou me desesperar, porque é ainda pior não dançar, não sentir dor, não respirar.

Blake me olhando a uma pequena distância com seus belos olhos azuis carregados de desejo e angústia pelo seu personagem. Éramos o casal perfeito, ao menos nos olhos de quem nos observava do lado de fora. Com uma química invejável por qualquer um.

Em dois passos longos e lentos ele se aproximou passando as mãos ao redor da minha cintura e me levantando para ficar em ponta. E então o grande final, seus lábios tocaram os meus e um giro leve foi feito por sua parte enquanto meus braços ficavam abertos demonstrando surpresa. Logo após lentamente toquei seu rosto nos afastando em um gesto tímido, correndo em direção a parte escura do palco que foi projetado como a varanda de Julieta e então segundos depois de fazer uma cena de alívio, Blake vem também correndo para baixo da janela segurando minhas mãos. O último ato.

E então todos os aplausos e gritos chamavam nossa atenção. Não existe um clássico maior que Romeu e Julieta e quando Lúcia ordenou que os papéis principais fossem destinados a nós dois sorrimos em felicidade. Fazer essa apresentação no centro de Londres era de tirar o fôlego. Mesmo se tratando de um evento beneficente feito pela família Sartori, em comemoração aos meus dezoito anos e a primeira vez em que realmente pisei no palco sendo uma prima-ballerina. Nos aproximamos na frente do palco nos curvando em agradecimento. Blake segurando minha cintura e apresentando mais um show para o público — como um casal de adolescentes adoráveis — nossos lábios se tocaram em um selinho demorado. Retirando ainda mais aplausos da plateia.

Detalhes e mais detalhes que passavam em minha mente a cada meio segundo com a voz de Lúcia me relembrando todas as vezes sobre estar tão apaixonada por ele como Julieta estava pelo Romeu. Nunca havia conseguido entender porque ela sempre tinha que ser tão dura. Mas sempre no final de uma apresentação um fio sutilmente passa por meu corpo e eu finalmente a entendo. É por isso, por essa sensação que ela faz isso. Por que ela quer a perfeição. E nós também desejamos.

— Muito bem, Calina! — Suas mãos gélidas tocaram as minhas costas assim que passei pela grande cortina vermelha.

Com os passos cautelosos, adentrei o camarim reservado exclusivamente para mim, buscando avidamente a presença da caixa dourada. Meus olhos percorreram ansiosamente o espaço, ansiando que ela estivesse ali, aguardando-me, como tem sido o costume nos últimos cinco anos. Independentemente dos erros cometidos no passado com o ballet ou mesmo da minha ausência nas apresentações, ele sempre estava lá, aplaudindo-me na escuridão. Imagino agora a satisfação que sente ao me ver como a principal.

Anualmente, em meus aniversários, ele me presenteava com pequenas facas butterfly, gravadas com minhas iniciais no punhal, transmitindo através delas o significado das suas palavras. Encantamento, amor à primeira vista. Era isso que os bilhetes sempre expressavam, palavras traçadas em linhas imaginárias, curvadas como se fosse o seu sorriso.

TOQUE-ME SE FOR CAPAZOnde as histórias ganham vida. Descobre agora