TOQUE-ME SE FOR CAPAZ

➵ 21. Loser

Calina Sartori
Dias atuais...

Cruzei a linha de chegada envolto pelo eco de gritos e olhares confusos. O pulsar das vozes misturadas com a perplexidade estampada nos rostos, indagando quem poderia ter vencido. As perguntas pairavam no ar, um emaranhado de mistério e curiosidade. Mas todos ficariam sem a resposta, afinal são pessoas comuns que não existe a necessidade de saberem sobre o nosso jogo.

Aumentei gradualmente a velocidade, permitindo que o ronco do motor se manifestasse como um grito, afastando todos ao redor. Avistei Strike encostado em seu Honda Civic Coupé e manobrei na direção dele, minha janela se abrindo para um pequeno espaço, revelando seu sorriso imediato.

— Você realmente ganhou... — Ele expressou, sua admiração transbordando ao me ver cruzar a linha de chegada. — Não posso acreditar que a máquina foi estragada.

— Algumas coisas precisam se quebrar para que outras se consertem. — Sussurrei enquanto ele girava ao redor do carro, mostrando uma careta diante da porta amassada. — É hora da parte dois do plano, Strike.

Estendi meus dois dedos para fora, exibindo o cartão dourado entre eles, fazendo Strike se apressar para segurá-lo, seus olhos cintilando de excitação. Para ele, frequentador das noites do Submundo, apenas ter aquele cartão em mãos era extraordinário. Conseguir essa preciosidade foi árduo, mas graças ao segurança, com uma ameaça velada de demissão, tudo se concretizou. Strike posicionou o envelope branco abarrotado de notas na minha janela, aguardando que eu pegasse os 5 mil, porém, apenas o empurrei de volta para ele, provocando um ponto de interrogação em sua testa.

— Parte do pagamento da minha dívida com você. — Seu sorriso se desenhou lentamente enquanto ele erguia o envelope branco, levando-o até o nariz e inalando profundamente, arrancando um suspiro reflexivo logo em seguida.

Assim que percebi o alvoroço das pessoas se intensificaram mais uma vez, indicando a chegada da tríade pesadelo, fechei a janela do carro. Era evidente que eles estavam atravessando a linha de chegada. Aproveitando a grande distração que levou as pessoas a se dispersarem ao meu redor, acelerei em direção ao imponente prédio do Submundo. Sabia que eles logo estariam lá, impulsionados pela fúria que eu instiguei em seus interiores.

...

Desembarquei do skyline, lançando as chaves para o jovem manobrista, cujos olhos brilharam ao me avistar de longe. Muitos jovens sentem o chamado irresistível de contemplar esses carros de perto; eu mesma fui uma delas. Quando frequentei minha primeira corrida, foi como se tivesse descoberto a essência mais fascinante da vida.

Adentrei o prédio, puxando o moletom para cobrir totalmente minha máscara, aproximando-me da garota de cabelos loiros curtos para estender-lhe o outro cartão.

— Me acompanhe, por favor. — Indiquei, estendendo o cartão em sua direção.

Seu braço moveu-se em direção ao elevador, e em passos apressados, entramos nele. As portas se fecharam lentamente, permitindo-me observar os três rapazes adentrando o saguão. Hunter exibia uma carranca tão intensa que parecia capaz de fazer qualquer um naquele espaço desaparecer. Aiken, parcialmente ensanguentado, apoiava-se em Hunter, quase como se fosse uma criança sendo carregada. Bugsy permanecia imóvel à frente deles, ombros tensos e mãos cerradas, como se estivesse prestes a esmurrar alguém.

— Para qual andar? — Perguntou a mulher, quando a porta do elevador se fechou completamente.

— Para o andar das lutas. — Murmurei, mordiscando levemente meu lábio, a imagem de Bugsy flutuando em minha mente naquela noite de seis anos atrás.

Ele era tão sedutor. Seus movimentos eram como uma dança cativante. Um sorriso fugaz surgiu em meus lábios enquanto reprimia pensamentos sobre Chris. Será que eu realmente queria algo que me lembrasse dele? Adquiri tantos vícios apenas para experimentar o que eles proporcionaram, apenas por uma noite. Ninguém no mundo foi capaz de me proporcionar a mesma sensação de liberdade que eles.