➵ 33: In the shadow of monsters

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Calina Sartori
Dias atuais...

— Isso é o que? — Minhas sobrancelhas ergueram-se e a dúvida de ter ouvido errado se instalou em meu cérebro. — Eu ouvi certo? Uma caçada... humana?

Meus lábios quase se curvaram em uma risada desacreditada, mas as feições deles pareciam sérias demais para apenas uma brincadeira. Levei meu olhar para o telão mais uma vez, observando a tela pausada.

Meu interior mais uma vez estremecia, com um sentimento nublado. Eu pensei que era algo menor, talvez apenas minha família sendo uma escória como sempre. Mas isso... Porra, isso é muito mais. Como a minha mãe lidou descobrindo isso e vivendo embaixo do mesmo teto que Heitor Sartori?

Não consigo imaginar o medo, na verdade pânico de sempre se deitar ao lado de um monstro. Ela deve ter sofrido tanto sozinha. Por Deus, eu me amaldiçoou por nunca ter visto isso acontecer. Nunca ter visto seu rosto triste ou o medo em seu toque.

Ela sempre afastou-se deles, como dizia ter medo de ambos. Mas para mim, não fazia ideia de que era sobre isso.

Eu me ressenti dela durante algum tempo quando me vi presa naquele manicômio por algumas semanas e agora posso ver claramente. A única coisa que ela queria era a minha proteção, me colocando dentro daquele lugar para ser intocável.

Durante aqueles dias, eu me perguntava porque ela tinha decidido me afastar de casa e não o Willian. Ele havia tentando me matar...

[...]

Fecho meus olhos, desejando apenas que eu pudesse dormir logo. O som da música ecoava pela nossa casa e a festa de pequenos negócios continuaria pelo resto da noite. Graças a mamãe eu consegui vir para o meu quarto, ela alegou para o papai que amanhã eu teria ensaio bem cedo e como ele nunca quer me ver errando, me permitiu descansar.

Estou cansada disso. Cansada dessas festas idiotas lotadas de pessoas falsas. Aqueles olhares me trazem arrepios. Por que sempre me olham assim? O que eu fiz de tão errado?

Eu apenas estou dançando, sorrindo, sendo apenas uma boa filha. Mas eles continuam me observando com pena ou com raiva, uma mistura de sentimentos tão difíceis de decifrar, mas que me sufocam. Eu tenho 10 anos, mas me sinto uma adulta, onde todos esperam a perfeição e a única coisa que eu quero é ser criança.

Quero pular de felicidade comendo os doces da mamãe, correr pelo jardim brincando com um cachorro, dançar ballet podendo errar e não ser punida. Eu quero ser apenas eu. Sem sentir medo.

— Isso é impossível, Calina... — Murmuro a mim mesma na escuridão e forço meus olhos a fecharem-se.

Não quero chorar e nem posso, então apenas preciso engolir isso e descansar. Mas um ruído da porta sendo aberta me despertou e lentamente virei meu pescoço pensando ser a mamãe. Mas apenas vejo a silhueta do meu irmão parado no batente com os braços cruzados. Tadinho, também deve estar cansado de todo esse fingimento.

— Quer dormir aqui? — Me sentei na cama abrindo espaço para ele. — Ainda vai demorar para acabar?

— Provavelmente mais umas duas horas. — Seus pés deslizam pelo chão e ao se sentar na cama ele retira os sapatos.

Com a pouca luz que vinha da janela, ao virar seu rosto consegui ver seus olhos marejados. Arqueei as sobrancelhas, confusa por essa reação. Eu jamais vi Willian chorar, nem mesmo com as punições.

TOQUE-ME SE FOR CAPAZOnde as histórias ganham vida. Descobre agora