TOQUE-ME SE FOR CAPAZ

➵ 27. For you

Calina Sartori
Dias atuais...

Sinto meu estômago embrulhar e minha visão se tornar turva. Os barulhos parecem cada vez mais distante enquanto meus olhos passam por todas as pessoas cobrindo suas bocas e narizes para não respirar a fumaça. Trevor ainda se mantém em minha frente e o mascarado psicótico agora se movimenta indo até a entrada apontando o fuzil em direção a funcionária do balcão. Ela grita e mais uma vez o pânico se espalha por meu corpo.

— Se você apertar esse botão de emergência, vou explodir os miolos da sua cabeça. — Aiken rosnou entre dentes fazendo-a balançar a cabeça em concordância desesperada se afastando do balcão de atendimento.

— Qual a sua resposta, Bunny? Não temos tempo suficiente para aguardar dessa vez. — Me desvencilhei do seu redor no segundo que outro barulho de explosão ecoou.

Mas não consegui me mover o suficiente, rapidamente senti o peitoral de Aiken batendo em minhas costas. A sensação das minhas pernas fraquejando mais uma vez me atingiu, mas dessa vez não pelo fato de estar excitada e sim com medo. Meu cérebro tentava me lembrar de todos os sinais e em como eu não pensei nisso antes. Na forma como Aiken e Hunter me fizeram de idiota no trem enquanto eu lia a notícia. Na forma que eles desceram do trem, provavelmente porque Trevor estava mascarado e a polícia deve ter visto. E mais uma vez o submundo vinha em minha mente, juntamente com o combo de todas as coisas ilegais.

Merda... Eu realmente fui tão idiota ou apenas não queria enxergar que eles realmente são criminosos?

Mas como eu acabei aqui... Como saímos de uma festa da alta cúpula da sociedade, tivemos uma conversa sincera pela primeira vez e acabamos aqui. Com explosivos, armas, granadas... Puta merda. O que diabos eles estão fazendo esse tempo todo? Tudo isso foi uma grande manipulação para que eu acabasse aqui? Mais uma vez eles iriam me usar e descartar?

A máscara de repente parecia querer me sufocar, mas o medo se espalhava por cada canto da minha pele somente em pensar em retirá-la por um momento e todo mundo saber que Calina Sartori faz parte de um assalto a banco.

— Merda... Merda... Merda! — Conforme as palavras saiam de meus lábios meu tom ia aumentando. — O que vocês estão fazendo? Isso é mais um maldito plano? O que vocês vão fazer dessa vez para que a culpa caia somente sobre mim?

— O que? — Aiken as minhas costas sussurrou colocando sua mão sobre meu ombro, mas eu rapidamente me desvencilhei.

O ar cada vez mais se tornava escasso e o meu peito doía mais que o normal. Meus olhos continuavam com a maldita ardência me dizendo que eu deveria chorar, mas isso me irritava porque eu não queria chorar nesse exato momento. Eu deveria ser forte e enfrentá-los, ter todas as respostas e não realmente as coisas mais básicas possíveis. Afinal, saber seus nomes, suas idades ou o que eles fazem não me traria a resposta que eu mais desejava saber.

— Por que vocês sempre fazem isso comigo? — Meu tom de voz se tornou calmo e meus olhos encheram de lágrimas. — Por que vocês sempre me deixam para trás?

— Do que você está falando, Bunny? — Mais uma vez Aiken perguntou, mas não era ele quem eu queria ouvir.

Então dei dois passos à frente voltando a me colocar de frente para Trevor. Seu peito descendo e subindo desenfreadamente a procura de ar, mas não apenas isso, procurando coragem para me responder. Por mais que eu quisesse, o medo ainda ansiava em meu interior me dizendo que seria uma resposta que eu odiaria. E isso ainda me faria pior por saber que naquele dia, mesmo quando todo o interrogatório da polícia começou, quando eu não tinha nem mesmo um advogado porque minha família havia me abandonado, eu ainda os protegi. Eu disse durante dois malditos anos que havia incendiado tudo sozinha. Porque a decisão foi minha, mesmo que eles também tivessem jogado a gasolina e o fogo. Eu os protegi porque a decisão foi minha.