O Caminho Ao Lobo

Prólogo

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Primeira fase:

LUA DE MEL

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Em algum lugar da Bahia

TUDO BEM, EU, Heloísa Feitosa Braga, iria me casar.

Tudo bem, tudo bem, tudo bem.

Iria me casar com Antônio Tourinho, conhecido como Touro, meu amigo de infância. Meu melhor amigo.

Tudo bem, tudo bem, tudo bem.

Não estava surtando. Você está surtando. Não eu.

Não, não, não.

Está tudo ótimo. Tudo bem.

Com meu vestido branco de seda, minhas costas nuas e meu salto alto, eu me sentia poderosa, muito bonita, muito gostosa, obrigada. Andando em meu camarim pessoal, tocava ocasionalmente em meu cabelo, me certificando que ele estava com a trança longa que eu pedi para a cabeleireira fazer. Não queria me olhar no espelho, não queria ver a maquiagem. Olhei uma vez, batom vermelho, cílios marcantes — mas não fortes ou grandes demais. Não queria me olhar de novo e encontrar alguma imperfeição. Detestava fios de cabelo arrepiado, quanto mais maquiagem borrada.

Mas e se o batom estivesse no meu dente?

Fiz menção de me olhar no espelho, mas fechei meus olhos antes. Não havia batom no dente! Eu olhei, claro. Não ia confiar apenas nas palavras dos outros. Regra da família Braga: nunca confie nas palavras, a não ser que elas sejam escritas, impressas, assinadas e autenticadas em cartório.

Era por isso que eu estava me casando.

Me casar com um Castro Tourinho estava em meus planos desde que eu nasci. Estava nos planos de Antônio desde que ele nasceu. Se eu fosse resumir a história, diria que as famílias eram inimigas, mas perceberam que unir forças era melhor do que atacar a concorrência. Então quando eu ainda era um embrião na barriga de minha mãe e Totó — porque ninguém o chamava de Touro no meio familiar — já era uma semente mais evoluída, nossos pais decidiram que nós nos casaríamos, dessa maneira, HFB — minhas siglas que eu explicaria sua função em outro momento — se uniria a ACT — as siglas de Totó.

Mesmo antes de nascermos, nós já tínhamos identidade, um CNPJ, mas uma identidade. E mesmo antes de nascermos, já tínhamos nosso futuro traçado na maternidade. Nada romântico como Cazuza cantava em Exagerado, algo mais dramático que isso.

Quando eu nasci, poucos meses depois de Antônio, nossos pais assinaram um contrato selando de vez a união de nossas famílias e firmando uma parceria de CNPJs.

Totó se tornou o meu melhor amigo, assim como sua irmã caçula, Kênia, que seria adotada poucos anos depois de ele nascer.

Com isso, eu esperava muitas coisas de meu amigo, a sua não pontualidade, o seu sarcasmo, as suas piadas sem graça, as suas bebedeiras e xixis em lugares impróprios, menos que...