2.2 Eduardo

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— Se você continuar falando do nosso casamento como "isso", acho que vão perceber na hora que nada "disso" é mesmo real.

— Mas para algumas pessoas vamos ter que fingir ser.

Ela riu e passou suas mãos por seu corpo.

— Claro, não podemos deixar que pensem que eu sou uma noiva troféu e que você é gay.

Se ela me enxergasse como eu a enxergava, eu poderia ter certeza que ela sabia que não estava mais tão escuro assim, que os olhos rapidamente tinham se acostumado a penumbra e, além de se adaptado, até mesmo achado que estava claro, mesmo sem luz.

E quanto mais a encarava, percebia que ela estava me enxergando muito bem e, por isso, conseguia sentir meu olhar cravar ainda mais sobre o dela. Nem mesmo eu sabia se o que sentia era apenas raiva, talvez fosse também um desgosto, porque não queria estar aqui, porque não queria ter me casado — e muito menos com ela. Preferia tudo, do que estar aonde estava. Preferia tudo a ter que fingir que era casado com a mulher à minha frente.

— Por mim, podem achar o que quiserem — pontuei, entediado com a forma dela de tentar me provocar. — Só não podem descobrir...

— Eu sei... — me cortou. — E não vão.

— Vamos. — Segurei o cotovelo dela e a puxei para a porta.

— Para onde?

— Dar uma volta, lembra? Marido e mulher.

— E as fotos? — Ela parou na porta e puxou o seu braço de minha mão.

Respirei fundo, encarando a porta. Era tão difícil para ela apenas me ouvir e obedecer a um comando tão simples?

— Podemos fazer. — Abri a porta pensando que ela não falaria mais nada, mas eu estava sempre enganado quando se referia a supor o que ela não faria.

— Você está descalço — falou, ainda parada.

— Estamos em um resort, em lua de mel — provoquei encarando os olhos dela. — É normal estar descalço. — Desci meus olhos pelo corpo dela, fixando naqueles saltos altos com laços confusos. — Por que você ainda está calçada?

— Achei que... — começou, mas não concluiu e se abaixou para tirar o laço que prendia o sapato.

Ela estava prestes a tropeçar quando eu rosnei, irritado, mau humorado e cansado de esperar por atitudes simples que a mulher não seguia, não fazia ou simplesmente, naquele momento, não conseguia cumprir. Segurando os braços dela, a dei estabilidade antes de me abaixar, com um joelho no chão, para eu mesmo tirar de vez aquele maldito par de sapato.

Segurei uma panturrilha dela com uma mão para conseguir levantar o tecido do vestido e, com a mão livre, pude desamarrar o diabo do laço complexo do sapato. Fiz o mesmo com o outro pé, e apenas quando os dois pés estavam livres do sapato e perfeitamente apoiados no chão, a soltei e ouvi o gemido escapar dos lábios dela enquanto, ainda por cima, fechava os olhos.

— O que é isso? — Encarei-a após o gemido de puro êxtase.

Aos poucos Heloísa mexeu as suas pernas e, consequentemente, seus dedos e abriu seus olhos.

— Você não é uma mulher — pontuou ela.

— Observação tardia, mas interessante — respondi e ela me olhou com fogo em suas pupilas.

— Como eu ia dizendo... Você não é uma mulher que usa salto, você não tem noção da dor que é usar e do alívio que é tirar.

Abri mais a porta e segurei, esperando que ela saísse na minha frente.

— Basta não usar.

— Homens... — Revirou seus olhos e deu alguns passos, mas antes de andar mais, parou na minha frente e apontou para a amarração em seu pescoço. — Ajusta pra mim?

Queria dizer não. Queria tomar banho e dormir. Queria beber. Fumar. Qualquer coisa. Menos aqui. Menos estar com ela. Eram cinco da manhã, porra. Cinco da manhã e eu me sentia um adolescente, perdendo a noite para dar uma volta com uma garota que, no fim, não me daria nada.

Senti a minha garganta travar e forcei o movimento de meus dedos para a amarração do vestido, puxando-o para cima e dando um nó mais forte do que o necessário; no entanto, ela não reclamou.

A segurando pelo cotovelo, puxei-a pelo corredor depois que bati a porta. Seu riso não me passou despercebido.

— Por que você está rindo?

Paramos de andar próximo ao elevador, se esticando nos pés, sussurrou em meu ouvido:

— Quem vai acreditar que somos um casal quando você me puxa desse jeito?

Soltei a minha mão do cotovelo dela e dei um passo para o lado, me afastando de sua boca e de seu hálito de álcool. Percebi, tardiamente, que ela também cheirava a bebida.

A questão sobre mulheres que bebiam era que, assim como a fumaça do cigarro, que impregnava pelo corpo, o cheiro do álcool impregnava na boca e se uma mísera gota caísse sobre a roupa, todo o cheiro mudava, todo o cheiro da pessoa passava a ser mais álcool do que qualquer outra coisa.

Álcool e cigarro marcavam o que você fez e quem você era.

O problema disso era que, havia alguns homens que não bebiam e nem fumavam, completamente abstêmios, no entanto, eu nunca fui esse homem. Eu gostava do cheiro e gostava de álcool. Qualquer tipo. Qualquer dose.

E vir misturado ao cheiro de mulher só intensificava a vontade de beber.

De canto de olho, vi um casal, distante, saindo de seu quarto e caminhando pelo corredor, vindo em direção ao elevador no momento que ele abriu a porta.

— Vão acreditar.

— Por quê?

A criatura me fazia grunhir quase todas as vezes que abria a sua boca para sempre perguntar ou provocar sobre alguma coisa. Era insuportável.

Espalmei uma mão entre seu cóccix e bunda, sem me dar muito conta da pressão e praticamente a dando um tapa, para conduzi-la para dentro do elevador. No movimento, ouvi seu suspiro e outra vez o som do seu gemido.

Como não acreditariam que éramos um casal morrendo de tesão em plena lua de mel quando minha mulher gemia por aí?

Meu toque deve ter sido a resposta, porque ela calou a boca e, dentro do elevador, se encostou na barra de inox e cruzou as pernas. Ainda fez o favor de fechar os olhos.

O Caminho Ao LoboTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang