4.2 Eduardo

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— Eu não preciso fazer nada...

— Você faz essa mesma cena com meu irmão? — perguntei e vi o ódio no olhar quando ela cruzou seus braços e se ajustou na banheira, sentando. Não conseguia ver nada além de espumas em volta de seus braços.

Era bom provocá-la, melhor ainda sabendo seu ponto fraco: inventar histórias com seu nome.

— Totó é como um irmão para mim... Que nojo.

— Você tem certeza que ele te vê da mesma maneira?

Um vislumbre de algo passou por seus olhos antes de ela se levantar da banheira, querendo me distrair, querendo voltar a ter o controle, como ela achava que tinha. Abaixei meu olhar, não vendo nada além de espumas e também me levantei, respirando fundo e me virando de costas.

Se havia uma coisa que eu aprendia a ter ao lado de Heloísa era paciência; como domar a minha e não sair do controle. Muitas vezes me sentia na borda, este era um dos momentos.

Respirei fundo e me virei pegando o robe preso na parede e jogando no corpo molhado dela.

— Chega! — rosnei. — Aposto que você tinha suas regras pré-estabelecidas com meu irmão — falei a vendo finalmente me obedecer em algo, vestindo o robe e enrolando o nó em volta de seu corpo.

Não olhei para baixo em nenhum momento, não vi nada e preferia continuar sem ver.

— Algumas — admitiu.

— Então nós teremos as nossas. — Não tentei forçar a minha voz a soar mais rouca do que normalmente era, mas era possível que isso tivesse acontecido, porque, pela primeira vez, eu vi o corpo de Heloísa se contrair e ela recuar quando meu rosto se aproximou.

— Eu não sou um porquinho. — Ela arregalou uma sobrancelha grossa, de pelos escuros como seu cabelo.

— O quê? — Eu quem dei um passo para trás, tentando entender àquela loucura e confirmando que eu não tinha ouvido coisas.

— Não adianta o quanto você sopre, eu não desabo.

— Você enlouqueceu? — Franzi meus olhos.

— Você quem enlouqueceu.

— Do. Que. Você. Está. Falando? — falei, pausado, porque com certeza algum neurônio havia se partido e eu precisaria a levar à emergência.

Ela passou suas mãos em seu rosto, afastando seu cabelo e cruzou seus braços, saindo da banheira e se aproximando a mim. Recuei até bater as minhas costas na parede aposta a banheira. Quando não havia mais para onde ir, eu parei e ela também, no entanto, ainda teve a indecência de ficar na ponta dos pés, me encarando.

— Você talvez seja o Lobo Mau lá fora e coloque medo em alguém, mas eu não sou um porquinho, a minha casa... — Bateu fraquinho com uma mão em seu peito, a única parte dela que ainda estava descoberta. — ela não desaba. Eu não desabo, não interessa o quanto você sopre.

Encarei os resquícios de batom vermelho em sua boca e pouco ao redor de seu rosto.

— Você tem uma boca grande demais... — falei e a peguei desprevenida, ao ponto de ela descer do apoio de seus dedos e segurar a bancada da pia.

— Quer que eu diga que é para te comer melhor? — Heloísa sorriu. — Quer ser a Chapeuzinho do meu Lobo? Eu posso ser mau...

Contraí meus lábios, segurando meu riso. Aproveitei que ela se distraiu e abri a porta do banheiro, indo para o quarto e sabendo que também me seguia.

Precisava de mais espaço dela, de tudo.

No quarto, continuei a olhando e disse de uma vez:

— Nós teremos regras.

— Tudo bem — concordou —, mas não altere seu tom de voz, não tente me dar medo outra vez.

— Eu não... — Não concluí, não adiantava; a ideia que tinha, não tiraria de sua mente e eu não seria a pessoa a fazê-la mudar de opinião. — Esquece. Regras.

— Quais?

— Nós não teremos nada e não dormiremos na mesma cama. Cada um terá seu quarto na casa. — Riu, mas deixou que eu continuasse: — Você viajará comigo, estará comigo em eventos, daremos as mãos, nos abraçaremos e só.

— Qual seu medo, hein?

— O quê?

— Por que a gente simplesmente não fode? — perguntou como se me perguntasse o que eu queria comer no café da manhã.

Passei uma mão em minha barba e em meus olhos. Estava cansado. Precisava dormir, precisava de um banho.

Ela continuou:

— Será simples. Estamos casados, é até mais prático.

— Não será simples exatamente porque estamos casados — respondi. — Não quero sequer te beijar.

Estava sendo racional, mas percebi que aquilo a pegou de um jeito diferente. Seus olhos, aqueles ordinários que sempre me encaravam como se fosse superior a todos, piscou. E sua boca, entre sua cor rosa natural e vermelho do batom, tremeu — apenas um pouco, quase inexpressivo, mas aconteceu.

Antes que eu abrisse a boca para ditar mais regras, ela pontuou com seus dedos, contando.

— Regra número um, não teremos nada, nem beijo. Número dois, quartos separados. — Ela conseguiu simplificar bem as regras, admitia.

— Precisamos colocar nas regras que você viajará comigo? — perguntei.

— Não, já sabia que era necessário. — Nesse momento, seu tom de voz era de puro desinteresse.

— Regra número três, você poderá ter os seus casos, relacionamentos, seja o que for. Eu poderei ter os meus. Só... não engravide. Faça o que for, não me interessa, anticoncepcional, camisinha, pílula do dia seguinte, só não engravide.

— E você?

— Não vou engravidar ninguém — disse.

— Tudo bem — respondeu ela. — Sem toques. Quartos separados. Sem filhos. — Resumiu muito bem novamente. — Parece simples.

Era simples.

Não era simples.

O Caminho Ao LoboWhere stories live. Discover now