7.1 Heloísa

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HOMEM ERA BICHO BESTA MESMO. Kênia estava certa, eu dava atenção demais a Eduardo. A questão era: tudo bem eu dar atenção sem ele perceber que eu dava atenção; o problema era dar atenção com ele sabendo que eu dava atenção, querendo ser vista.

Bastou que Rô, o bartender que eu já tinha conversado, trocado número e figurinha, se ajoelhasse em minha frente para preparar minha bebida que o homem, que ia sair sem falar nada, totalmente mal-educado e ranzinza, voltasse. Sorri, triunfante, mas continuei olhando para Rô, fingindo não ver a muralha em pé que me encarava enquanto bebia seu uísque.

Quando Rô terminou seu show e me deu meu drinque, Eduardo o encarou fixamente e se sentou ao meu lado. Meu bartender preferido ainda me deu um sorriso de canto enquanto sumia de minha visão.

— Qual o problema? — perguntei, sem olhar para ele. — Cansou de fugir? — Bebi meu drinque pesadíssimo no álcool enquanto gemia baixinho de puro êxtase. Havia poucas pessoas que faziam uma bebida tão gostosa e alcoólica quanto Rô. Às vezes álcool era tudo que eu sentia em outros drinques, mas ele conseguia equilibrar o sabor.

— De que eu fugiria? — Também me olhou.

Eu ri e apontei para a garrafa, desviando-me de sua retórica.

— Duvido você beber tudo isso nos próximos minutos.

Com uma perna dobrada frouxamente, um braço apoiado no sofá e outro segurando seu copo cheio com seu uísque, ele riu. Me virei no sofá, deixando uma perna embaixo da outra e ainda havia aquele espaço entre nós dois, mas, ao mesmo tempo, eu não sentia que havia tanto espaço assim. Comecei a beber em maiores goles quando ele bebeu em apenas dois todo o líquido que restava em seu copo.

Ao mesmo tempo, viramos nossa atenção para a garrafa que ainda tinha boas doses de uísque. Peguei-a e coloquei um pouco do uísque em meu drinque. Pela primeira vez, ouvi o riso de Eduardo. Não foi nada de mais e não demorou muito tempo, foi mais um "ha-ha" abafado, que escapava sem querer das narinas do que um som real de um riso de um humano.

— Você... rindo — disse, meio assustada, meio impressionada.

— Você não vai aguentar. — Apontou para a minha bebida e eu girei meu copo. Sorrindo, coloquei minha boca direto no copo de vidro e bebi longos goles; depois, coloquei-o em cima da mesa de centro, me dando um tempo, porque eu queria que ele bebesse muito, não eu.

Alguns pingos do drinque tinham escorrido por meus lábios e limpei com as pontas dos meus dedos, com aquela mesma mão apontei para ele.

— Agora é sua vez.

— Você não bebeu tudo.

— A minha tá misturada, a sua não — avisei.

— Por isso mesmo, você deveria conseguir beber tudo.

Franzi meus olhos e peguei novamente no copo, bebendo o restante e sentindo minha garganta queimar. Sem querer, bati o copo na mesa mais forte do que o necessário.

— Valeu agora? — Me encostei no sofá, colando minhas costas no estofado.

Eu estava louca ou Eduardo sorriu de canto? Eu possivelmente estava louca. Aquele homem era um humanoide, não sorria, não comia, não dormia. Só bebia, pelo visto.

Sua resposta foi ao beber o resto do uísque e despejar o conteúdo que ainda havia na garrafa no copo, finalizando com o líquido em poucos segundos.

— Este foi só o primeiro round — disse estendendo minha mão.

— Mas você já bebeu dois drinques — pontuou ele.

— Que valeram por um.

Rô não demorou para vir até mim.

— Meu amor... — falei com meu bartender preferido. — Já sabe, né?

Era o momento para ele preparar a minha caipiroska de um jeito especial, apenas como ele sabia fazer.

— Sim, querida. — Virando-se para Eduardo, que só faltava rosnar sozinho, perguntou: — E o senhor?

— Mais uísque.

Rô acenou e deu a volta, indo pegar nossas bebidas.

— Você conhece ele de algum lugar? — perguntou.

Virada no sofá, me aproveitei para me mexer um pouco e me aproximar, saindo da extremidade e indo para o meio, mas não demais. Uma música começou a tocar e eu soube que eram onze horas da noite. Nunca tocava música em um volume mais alto antes desse horário; talvez achassem que antes disso ninguém estava bêbado o suficiente.

— Sim — respondi. — Daqui.

— Daqui? Você já veio para este resort?

— Com Totó, inclusive — admiti. — Nunca bebemos tanto em nossas vidas... Rô preparou tudo. — Apontei para o bartender que voltava com mais uísque e meu drinque em tempo recorde.

Depois que ele se afastou, Eduardo começou a beber com uma velocidade frenética. Pensei que ele comentaria alguma coisa sobre meu último comentário, mas como não falou nada, continuei, instigando algum assunto pacífico:

— Conseguiu falar com Totó, por sinal?

Eduardo fez um som gutural antes de engolir mais um longo gole. Colocou a garrafa e copo em cima da mesa e passou suas mãos por seu cabelo.

— Não quero falar desse idiota — comentou. — Por causa dele estou aqui.

Casado. Comigo. Era o que aquilo significava.

— É, deve ser péssimo mesmo, recesso de quatro dias em um resort all inclusive lindíssimo, com piscinas naturais, hidro, praias... Que pesadelo. Ainda tem que dividir o quarto com uma mulher com tesão, que horror.


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oieee.

e aí, gente, o que estão achando desta história?

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