6.1 Eduardo

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ERAM POUCO MAIS DE NOVE HORAS DA NOITE quando Heloísa voltou para o quarto. Eu estava na varanda, com a porta fechada, deixando lá dentro com o ar-condicionado ligado, mas aproveitando o frescor natural da noite para fumar um pouco.

A poltrona que eu estava sentado, quase deitado, só intensificava a dor que eu sentia nas costas. Tinha dormido um pouco de tarde, na cama, quando percebi que ela não voltaria, mas o fato de dormir na cama só fez com o que o sono fosse embora e não a dor depois de ficar em uma poltrona por horas. Hoje daria lugar da poltrona ao chão, era melhor dormir no piso duro do que torto. Usaria almofadas ou qualquer outra coisa para amortecer...

Me levantei da poltrona e soprei a fumaça para longe, me apoiando na proteção da varanda. Virei minha cabeça para trás e acompanhei os movimentos dela... Como a cortina estava aberta e a porta que separava aquela área e o quarto era vidro, conseguia ver tudo. Desde o momento que ela entrou e tirou seus sapatos, ao momento que entrou no banheiro e saiu, com um vestido branco curto e cabelo úmido. Ela demorou, demorou em cada movimento, do andar ao tempo que passou no banheiro, mas eu continuei a olhando.

Acreditei que ela ainda não tinha me visto, estava de costas, mexendo em sua mala sobre a cama antes de jogar a mala de volta ao chão. Seu cabelo longo se balançava a cada passo que ela dava. Quando se virou em minha direção, não me olhou. Esperei que ela viesse até mim em mais uma de suas piadas, falas aleatórias e conversas sem propósito, mas não o fez.

Traguei profundamente no instante que ela colocou seus dedos nas alças de seu vestido. Nessa posição, eu conseguia ver o decote profundo de seu pijama e suas pernas nuas. Soltei a fumaça e Heloísa soltou as alças, que deslizaram por seus braços, fazendo seu vestido descer, deixando-a apenas em uma calcinha vermelha, fixei minha visão ali, não querendo me distrair.

A maldita não queria assumir, mas ela era a porra da Chapeuzinho Vermelho em uma versão paralela, esperando para ser devorada.

Heloísa se deitou na cama e se cobriu. Continuei fumando, tragando e soltando a fumaça, esperando que ela viesse até mim, que fizesse qualquer coisa, menos mexer em seu celular até dormir.

Passava de meia-noite quando eu entrei no quarto, fiz um monte com lençóis achados em um closet e almofadas do sofá, próximo a porta da varanda, no chão. Deitei. Quando dormiria sabendo que havia uma mulher — "minha" mulher — seminua na cama? Não sabia, mas deitei.

Quando acordei, mais ou menos cinco da manhã, me surpreendi que Heloísa não estava mais no quarto. Fui para a cama e dormi nela por mais duas horas. À tarde eu saí e talvez ela tenha voltado, à noite eu retornei e ela chegou apenas para tomar banho e dormir. Nossa rotina foi essa até o último dia de nossa "lua de mel". Já tínhamos tirado fotos e sido vistos, não acreditava que precisávamos de mais nada.

Porém, às dez horas da noite, quando eu estava novamente na varanda e ela entrou no quarto, tomou seu banho, não deitou direto na cama com ou sem roupa, não. Dessa vez, ela veio até mim. Depois de dias sem ouvir sua voz, me soou estranha quando abriu a porta deslizante da varanda e disse:

— Temos que sair.

Vestia mais um de seus vestidos, esse não era um pijama para dormir, era um vestido preto justo em seu corpo com a gola alta. Não queria assumir que gostava como a roupa se ajustava ao seu corpo e um colar dourado em envolvia a gola me chamava atenção para seu busto. Havia um decote de um recorte triangular entre seus seios e o pingente do colar caia bem ali.

— Nosso voo será... — comecei, voltando minha atenção para meu relógio de pulso.

— Às oito da manhã de amanhã — disse ela. — Temos tempo. Ou você prefere que desconfiem de nosso recente casamento?

— Quem iria desconfiar? — pontuei. — Não conhecemos ninguém aqui.

— Eu tenho mais de cem mil seguidores. — Ela voltou com esse assunto. — Você acha que eles não estão me perguntando cadê você nas fotos que estou publicando?

— Que tipo de foto você está publicando? — procurei saber enquanto tragava pela última vez e soltava a fumaça, queimando a bagana no cinzeiro e a seguindo para dentro do quarto.

— Nada de mais — disse se sentando na beirada da cama e colocando seu salto alto com mais um de seus laços. — Apenas meus pés dentro da água da piscina, meu almoço, coisas assim. Não tô exagerando para eles não perceberem que estou sempre sozinha. — Não olhou para mim enquanto falava.

Também parei de olhar para ela e entrei no banheiro.

— Me dê dez minutos.

Não ouvi sua resposta, não procurei ver sua reação, apenas fui me arrumar e em sete minutos, eu já tinha tomado um banho rápido e me vestido com sapato, calça e camisa social, a mesma roupa do casamento, que eu já tinha colocado na lavanderia do hotel. Para usar no hotel, no dia a dia, comprei bermudas e camisas mais leves, não havia e eu nem busquei por roupas mais formais, porém, vendo que ela estava bem-vestida, não colocaria qualquer roupa.

Quando saí do banheiro, Heloísa se levantou e me olhou:

— Você vai assim?

— Não tenho outra opção de roupa.

Ela se levantou e olhou em volta do quarto; sem eu falar que podia, mexeu no saco de roupas que eu comprei e tirou de lá uma camisa azul, de botões, mas mangas curtas. Jogou a camisa em minha direção e mandou:

— Vista esta. — Abri a boca para questionar, mas ela continuou: — Ou não. Faça o que você quiser.

Encarei a camisa e pensei em discutir, mas às vezes era mais fácil simplesmente não protestar. Dei meia-volta, entrei no banheiro e troquei a camisa. Ao voltar para o quarto, Heloísa já estava parada na soleira da porta, de braços cruzados, me esperando.

Sem me olhar, disse:

— Não vou levar meu celular. Traga o seu para as fotos. — E saiu.

Fui obrigado a pegar o meu celular e segui-la, como se eu fosse o cachorro adestrado dela. Ao me aproximar dela em frente à porta do elevador, disse:

— Pare de rosnar!

A encarei entrando no elevador e segurei a porta, não entrando e impedindo que fechasse.

— Não estou rosnando.

— Está sim! — Abanou a sua mão. — Só... entre. Vamos logo!

O Caminho Ao LoboWhere stories live. Discover now