7.2 Heloísa

27 10 5
                                    


deixe seu voto e comentário <3

.

.



Kênia me mataria com o cadarço neon de um de seus tênis se pudesse ter ouvido a minha frase. Minha amiga foi clara para eu pegar devagar, mas eu não conhecia limites nem sabia o que era ser devagar. Eu era uma mulher intensa, o que eu poderia fazer? Qual seria a minha estratégia se não falar a verdade? Se eu não falasse a verdade, não falasse o que sentia, eu não seria eu.

Respirei fundo e finalizei meu drinque, também colocando o copo à minha frente, na mesa.

Falar que estava com tesão não era nada de mais, não é? Não disse que estava com tesão dele — ou que queria dar para ele. Mesmo que eu quisesse. Como eu queria! Mas eu não disse isso. Ter tesão era genérico, eu poderia ter sem ser de alguém específico.

Me ajustei no sofá e percebi os músculos tensionados de Eduardo. Sua mão, que segurava o encosto do sofá, apertou o estofado com força, afundando-o e fazendo seus dedos mudarem de tom; fez o mesmo ao apertar o braço do sofá com seu outro braço. Seus olhos se fixaram em algum ponto em seus joelhos, não me olhando. Era impossível não perceber como sua respiração se tornou rarefeita, devagar. Totalmente desarmônico com o jeito do qual ele normalmente agia.

Levantei minha mão, preste a tocá-lo no ombro, com medo de que eu tivesse quebrado o Lobo de alguma forma. Tinha hackeado o sistema cognitivo dele, desestabilizado o seu modus operandi?

Antes que o tocasse, ele se levantou do sofá e andou, a passos largos, para fora do bar. Levei longos segundos entre respirar fundo e agir. Me levantei também, seguindo-o.

Ele entrou no elevador que estava parado naquele andar e eu pulei, entrando logo atrás dele antes que ele acionasse o sistema de fechamento da porta.

Eduardo acionou o nosso andar e não disse uma palavra. Abri meus braços, mas também não falei nada. Esperei que ele dissesse alguma coisa, que ele me explicasse algo, mas o homem era uma incógnita.

Abriu a nossa porta com o cartão e andou direto à varanda, o segui depois de fechar a porta. O maço de cigarro já estava ao lado de um isqueiro em uma mesa de apoio naquela área, a qual ele pegou, tirou o cigarro, colocou em sua boca e acendeu com o isqueiro. De costas para mim, apoiou seus braços e se inclinou na proteção da varanda.

— O que é? — perguntei, alterando meu tom de voz. — Fala alguma coisa!

A respiração dele foi tão pesada que eu pude ouvir da entrada da varanda.

— Já fizemos o que tínhamos que fazer — disse ele. — Não preciso ficar mais lá.

— Só isso?

— Só.

— Você nem está olhando na minha cara! — Entrei mais na varanda e não me aproximei muito dele. — Se levanta sem dizer nada e nem me olha quando fala! Eu tenho o que pra você? Algum tipo de doença contagiosa grave? Sou tão horrível para olhar?

A minha voz deveria causá-lo algum tipo de combustão, porque queimou o cigarro praticamente inteiro no cinzeiro. Quando pensei que falaria comigo porque se virou, passou direto, entrando no quarto.

— Responde! — gritei. — Fala alguma coisa! — Bati a porta da varanda com força. — Assim não dá! — Minhas mãos foram para o meu cabelo.

Ele parou, pouco a minha frente e eu bati no peito dele, depois estalei meus dedos em frente ao seu rosto para ver se ele era realmente um humano e estava vivo. Às vezes, desconfiava que ele era um metamorfo pronto para se transformar em um morcego, vampiro ou demônio. Alguma coisa ruim.

— Quais são as regras? — foi o que ele me perguntou.

— O quê?

— As nossas regras de convivência.

Respirei fundo.

Sem toques. Quartos separados. Sem filhos. Por quê, querido marido?

— Mais uma regra: sem conversa desnecessária.

Abri a boca para discutir, reclamar, qualquer coisa, mas o babaca saiu do quarto mais rápido do que o Flash — ou, em uma referência mais tragicômica, o Trem-Bala em The Boys.


.

.


o que está achando desta história?

O Caminho Ao Loboحيث تعيش القصص. اكتشف الآن