2.1 Eduardo

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EU DISSE PARA ELA sair e fazer o que quisesse, mas nunca imaginei que ela chegaria às cinco da manhã quando eu a esperava desde uma. Não quis rodar pelo resort a procura dela, mas a cada hora que passava, eu encarava entre a porta e as minhas novas roupas compradas. Apenas pela necessidade de ter roupas para aquela viagem que disse para ela fazer o que quisesse, se não, sabia que era necessário que desfilássemos pelo resort para que fôssemos vistos.

Precisávamos ser vistos.

Em partes, me arrependi de ter saído para comprar e de dar tanta liberdade a ela.

Depois de vê-la entrar no quarto tropeçando em seus próprios saltos e de colocar as mãos no amarro do vestido, me antecipei e falei, para que ela soubesse da minha presença.

Agora estava aqui, a encarando desenvolver a sua teoria que apenas publicar fotos em redes sociais era o bastante. Mas eu não achava que isso era o suficiente. Os acionistas me questionariam dos mínimos detalhes, desde a cerimônia à lua de mel. Por isso precisávamos criar algum cenário mais real.

Respirei fundo e abri meus olhos, encarando a pequena ordinária à minha frente.

Heloísa Braga era uma espécie de parasita em minha vida. Estava em todo o lugar e sendo sempre bem falada por todos. Meu pai, antes de morrer, a amava, e falava dela como se fosse sua filha. Se não tivesse adotado Kênia, Heloísa seria como sua única filha mulher. No entanto, eu não via nenhuma das características que ele dizia que a garota tinha.

À minha frente, eu só enxergava uma pequena mulher, com uma boca pequena que falava mais do que deveria e um desastre ambulante. Se enganavam quem acreditava que todo desastre significava ser desastrada, não era. Ela não era um desastre por ser desastrada, havia conhecimento de requinte, de educação, de modos. Ela conhecia todas as regras de etiqueta, apenas não seguia nenhuma. Sentava ocupando mais espaço do que o necessário, arrotava se sentia vontade e falava mais palavrões do que palavras.

Era um desastre. Um parasita. E como todo verme, o desejo era de exterminá-lo.

Às vezes eu queria matar aquela mulher. Apenas para que ela parasse de falar. Será que se eu colocasse a minha mão em sua boca e meus dedos em volta de seu pescoço, ela gritaria? Será que seria, em uma maldita vez em sua vida, obediente?

Nunca consegui enxergar Heloísa como uma boa garota. Sem modos, sem educação e sem vontade de seguir qualquer regra. Sempre me questionei sobre o casamento, acreditando que ela nunca aceitaria, que fugiria no dia... Não imaginava que seria o meu irmão quem faria isso. Ele era outro, volátil como a garota.

— E então, pagar de casalzinho ou fotos? — Ela colocou suas mãos em seus quadris e eu encarei todo seu corpo pequeno.

Ela estava cambaleando, mesmo estando em pé, mesmo não havendo nada para abalar o seu equilíbrio. Nenhuma mulher normal bebia tanto quanto aquela criatura. Quase todas as poucas vezes que a encontrei nos últimos anos, ela estava bebendo e a quantidade era assustadora.

Ainda pensando na quantidade de bebida que cabia em um corpo pequeno, encarei suas mãos em seus quadris, como se, dessa maneira, ela fosse se mostrar impotente, predadora, como se não passasse de um ser de um metro e meio.

O vestido era comprido, mas não arrastava no chão. Era justo o bastante para grudar em suas pernas, marcar sua barriga plana e seus seios. Havia um decote generoso, que não estava assim antes, porque possivelmente o nó em seu pescoço estava frouxo, deixando o vestido escorrer lentamente. Não precisava ver agora para saber que suas costas estavam nuas até seu cóccix, pouquíssimo acima de sua bunda. Não via a marca de sua calcinha, mas via a marca de seus seios. Não estavam assim antes, na cerimônia, o que me fazia perguntar se ela usava algo antes e não usava mais agora, por baixo da roupa.

Beirava ao pornográfico a forma como os seios dela marcavam na roupa, me deixando ver até mesmo as auréolas pequenas em volta dos mamilos enrugados de tão inchados.

O corpo dela não reagia daquela maneira por causa do frio. Não era o frio. O ar-condicionado estava desligado porque eu preferi deixar a varanda aberta, sentindo um fresco da noite. Era apenas isso. Entrava no quarto um ar fresco, mas não havia qualquer frio às cinco horas da manhã na Bahia.

E esse era mais um dos incontáveis defeitos e problemas de Heloísa. Como reagia a mim e era tão óbvia; sempre foi.

Havia um outro problema dela, seu maior defeito: Heloísa sempre foi apaixonada por mim. Seus olhos sempre deixavam claro cada pensamento seu.

Não havia coisa pior, para um homem sã, do que uma menina de dezesseis anos que te olhava. Eu, nos auge de meus vinte e nove, me afastei dela como o Diabo fugia da cruz e assim me mantive, nunca perto, sempre longe. Quando a reencontrei aos dezessete, o olhar continuava lá; felizmente, consegui me manter ainda mais longe e a vi outra vez quando ela já tinha vinte. Dessa vez, ela já não me olhava mais, ao menos, nunca como antes. Dos vinte, a vi novamente apenas aos vinte e cinco e, entre seus vinte e cinco e vinte e sete, tivemos encontros casuais tão rápidos que eu nem poderia considerar que realmente a encontrei, exceto hoje.

— Ainda estou esperando uma resposta... — me forçou a falar.

Ela gostava de fazer isso, falar demais e forçar todos à sua volta a falar tanto quanto ela, a responder no seu tempo.

— Temos que sair do quarto — falei e frisei: — Juntos. Não posso arriscar que os acionistas achem que qualquer parte disso é falsa. — Apontei de mim para ela.

— Porque é falsa.

— Claro, nós dois e nossas famílias sabem disso, mas o resto do mundo não precisa saber. Não posso arriscar minha imagem com a possibilidade de acharem que isso não é real.

— Se você continuar falando do nosso casamento como "isso", acho que vão perceber na hora que nada "disso" é mesmo real.

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