Quinto dia da lua de mel

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   Quando acordei, Lian já tinha levantado. A que horas esse homem acorda? Faço o de sempre e após o café vou até o jardim para observar as flores e pensar um pouco. Nunca vi Lian tão sério quanto ontem. Será que peguei em algum ponto sensível dele?
   Eu olho para o céu claro e penso nas palavras que ele me disse e nas perguntas que fez.
   Não é possível que eu seja a errada nessa história, não é? Ele é a pessoa cruel e sem escrúpulos que matou os próprios subordinados, aprisionou minha irmã e me chantageou.

*
– Você sabe o que eu de fato estou fazendo? Sabe o porquê estou fazendo e qual o meu objetivo final?

– Não, eu não… eu não sei!

– Então não venha me dizer que me odeia e me dar tapas. Você não conhece minha história, não sabe pelo que eu passei e muito menos sabe quem eu realmente sou, então não ouse me chamar de crápula e vir me dar tapas. Você não tem autoridade e nem direito.
*

   Aquelas palavras não param de reverberar na minha mente. De fato estou curiosa. Quem é Lian? Qual será o seu objetivo final e o porquê de tudo isso? Eu simplesmente pensei que ele quisesse o posto de imperador, mas… ele deu a entender de que se tornar imperador é um meio para um fim. O que será que ele planeja?

*
– Me diga, Emily, você por acaso me conhece? Você sabe onde cresci, quem foram meus pais, se tive ou tenho irmãos, quais amigos eu possuo ou já possuí, quais são meus medos e esperanças, qual o meu maior desejo no mundo e por que?
*

   Eu sei que eu não sou a errada nessa história, mas talvez exista algo a mais. Talvez ambos estejamos certos? Ou será que ele pensa que está certo mas na verdade está errado no fim? Para saber mais é melhor investigar. Até lá continuarei agindo como devo, afinal de contas, esta farsa deve continuar.
   Eu passei o dia ocupando minha mente com afazeres. Pintei um quadro em aquarela e pratiquei meu bordado, caminhei pelo jardim e ao final do dia fui até a sala de música para tocar um pouco de violino. Eu hesitei ao encarar aquelas portas duplas e lembrar daquilo que aconteceu ontem, mas se tem algo bom para ocupar a mente é a música.
   Eu toco completamente imersa na sinfonia e de fato esqueço de tudo à minha volta, meu coração acelera ao ritmo em que o arco arranha as cordas do instrumento feito em madeira de abeto, bordo e salgueiro.

– Já ouvi inúmeras músicas tocadas por violinos e algumas em específico foram tocadas por violinos Stradivarius, mas nenhuma jamais se igualará a qualquer coisa que você seja capaz de tocar, isso eu devo admitir.

   Eu parei de tocar assim que escutei a indagação inicial de Lian, surgindo em frente a porta da sala. É estranho. Ele está tão descontraído, encostado no batente da porta e me encarando com aquela clássica expressão debochada e arrogante. Sequer parece que aquela cena de ontem aconteceu.

– O que você quer?

   Acho que meu tom de voz soou mais rude e seco do que eu quis.

– Digo… você não me parece chateado ou com raiva.

– Por que eu estaria?

   Aquela resposta me surpreendeu. Ele não se lembra do que ouve ontem? Por acaso eu sonhei com aquela briga!

– Mas… ontem…

– Está irritada por ontem?

   Eu não respondo. Estou de fato incomodada com o que aconteceu.

– Eu não vejo razão em ficar com raiva de algo tão trivial quanto uma discussão, sendo que ficar irritado de nada me adiantará e em nada me beneficiará. Simplesmente não perco meu tempo com tais coisas.

EMILY E LIAN: A PRINCESA PRISIONEIRA E O IMPERADOR DO CAOSDonde viven las historias. Descúbrelo ahora