CAPÍTULO 30

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   A festa de ano novo logo chegou e embora não tenhamos aproveitado as festividades como normalmente fazíamos, com muita bebida, doce, dança e sexo… foi uma boa festa. As apresentações estavam impecáveis e apesar de Lian está a todo momento preocupado com minha saúde, ainda comi bastante e dancei um pouco com meu marido. Os fogos de artifício depois das apresentações dos artistas foram o ponto alto da virada de ano, principalmente porque pude passá-la com meu amado.
   Quando o castelo quase inteiro já estava dormindo, Lian e eu nos dirigimos para nosso quarto. Meu marido foi atencioso ao me cobrir com os lençóis, mas ao invés de dormir, me encheu de afagos e carícias, me dando beijos suaves, passando a mão sobre minha barriga e volta e meia falando com nossos bebê.

– Aposto que o fizemos em nosso aniversário de casamento.

   Quando ele encostou o ouvido em minha barriga para escutar o bebê, eu ri. Lian, o imperador do caos, o demônio cruel que conquistou o mundo e em breve seria seu ditador maligno, o homem que uma dia eu odiei com cada fibra de meu ser… estava agora mostrando como era um bom pai, beijando minha barriga e fazendo uma voz fofa enquanto contava uma história de ninar para nosso bebê.
   Os dias se passaram e no segundo mês do ano, um grande baile foi preparado em homenagem a mim e ao nosso filho. Lian fez questão de convidar os reis de cada reino da Terra. Haviam tantas pessoas que eu não conseguia imaginar como tanta coisa pôde ser preparada em tão pouco tempo.
   Lian fez um discurso breve, mas comunicou a todos da existência de seu herdeiro e após eu e ele dançarmos no salão, a pista foi liberada para que todos os outros aproveitassem o baile.
   Me controlar com o vinho não foi fácil, mas me controlar quanto aos doces foi impossível! Óbvio que Lian me repreendeu.

– Você tem que pensar na saúde do bebê, se continuar comendo assim, a criança vai nascer diabética.

– Eu tô pensando na saúde do bebê, fique você sabendo que ignorar desejo de grávida é pecado e se eu não comer algo que quero, quando nosso bebê nascer, vai nascer com a cara daquilo que eu queria comer e não pude.

– Ah! Que bom! Você quer transar desde semana passada e não pode, então ele vai nascer lindo como o pai.

   Eu lhe dei um soco leve no ombro enquanto olhava em volta para checar se alguém tinha escutado a brincadeira.

– Lian! Isso não se diz em público.

– Eu falei baixo. Ninguém ouviu. Se bem que você tem razão. Quem come sou eu, você é comida.

   O estapeei no braço e lhe lancei um olhar de reprovação enquanto rezava para ninguém perto ter escutado aquela brincadeira indecente.

– Lian!

– Tudo bem, desculpe. Não quero estressá-la, mas… eu nunca tinha ouvido falar dessa superstição. Sério que você acha que se quiser comer algo e não comer, sei lá… uma azeitona por exemplo, então ele vai nascer com cara de azeitona?

– Não é algo popular em Bismuto?

– Lá, nós acreditamos que se você pegar muito ranço de alguém durante a gravidez, então a criança nascerá com a cara da pessoa.

   Lian e eu começamos a falar sobre algumas crenças populares distintas de nossas regiões e eu rio com algumas delas, mas somos constantemente interrompidos pelos convidados que vinham falar conosco e desejar uma boa saúde ao nosso bebê.
   Confesso que travei um pouco ao ver Sekani, que fez uma reverência bem educada antes de se dirigir a nós.

– Boa noite Imperador Lian e Imperatriz Emily. Agradeço pelo convite à festa.

   Quando ergueu sua cabeça, Sekani fitou meus olhos.

– Desejo tudo de bom para vocês e sua criança. Estou sendo sincero, acredite ou não.

   Embora eu não tenha enxergado qualquer sinal de enganação em sua face, não me deixei levar. Esse idiota me enganou por anos e partiu meu coração.

– Tanto faz se é ou não um desejo sincero, se não for, não importa, pois o que vem de baixo não me atinge e se for, bem… não é como se fosse merecer um prêmio por nos desejar o mínimo.

   Digo secamente antes de virar meu rosto para não encará-lo. Infelizmente pude escutar o leve riso que saiu de seus lábios.

– Você mudou. Isso é bom.

   Quando o encarei novamente, Sekani já havia virado de costas e estava se retirando. Idiota, mentiroso, desgraçado…
   Me acalmo ao sentir a mão de Lian envolver minha cintura. Seu hálito quente envia arrepios por meu corpo quando ele fala em minha orelha.

– Não se deixe enraivecer por conta da presença de um mero inseto. É uma festa. Divirta-se.

   Virei meu rosto para beijá-lo em agradecimento antes de seguirmos com a noite. Conforme o tempo passou, alternei entre conversar com Lian e com aqueles que vinham falar comigo, mas quando Lian precisou se retirar para discutir assuntos políticos, aproveitei para comer alguns doces enquanto olhava Isac e Niara conversarem à distância, usando código morse.

– Princesa! Que bom vê-la novamente.

   Disse Isac, caminhando em minha direção com seu sorriso gentil característico, assim que terminou sua dança com a condessa de Rubi. Tanto ele quanto Niara já sabiam sobre meu bebê, pois falamos a eles pelas cartas.

– Olá Isac, é muito bom vê-lo novamente.

– Saiba que Niara e eu estamos muito felizes por você.

   Logo que o ruivo terminou de falar, Niara surgiu atrás dele, falando em um tom quase de ameaça.

– Acho bom ser uma garota. Vou ensiná-la a ser a guerreira mais incrível que esse império já viu!

   Isac riu um tanto sem graça, já eu achei uma reação muito engraçada e quase gargalhei ao imaginar as cenas de treinamento.

– Niara, você nem sabe se a criança de Emily será como você e gostará de lutar. Ela pode nascer como uma dama bem gentil, meiga e feminina.

   Quando Isac fez sua indagação, Niara zombou.

– Então ela vai morrer rapidinho, esqueceu em qual meio a gente vive?

   Infelizmente tive que concordar com ela.

– De qualquer forma, Amélia ou Dominic será uma criança muito amada. Vou adorar ter a ajuda de vocês para criá-la.

   Nós conversamos brevemente e rimos um pouco, mas Niara saiu depois de um tempo, pois não queria dar indício que estava arranjando desculpa para ficar com Isac. O medo que ela tem de que seu romance seja descoberto é assustador.
    Os meses se passam e eu faço o meu melhor para controlar a alimentação que tenho. Isac desenvolveu uma receita de café descafeinado que não é tão bom assim, mas que dá pro gasto. Embora seja difícil, eu diminuo o consumo de líquido gradativamente, embora seja incapaz de ficar muito tempo sem comer algum doce.
   Quando o bebê começa a se mexer, Lian passa a falar com ele com ainda mais frequência e apesar de achar algo fofo, também passo a odiar isso. Dói muito ser chutada e sentir essa forma de vida se mexendo dentro de mim e parece que assim que Lian abre a boca, o bebê chuta com ainda mais força e com bem mais frequência. As vezes é possível contar os dedos dos pés desse feto através da minha pele. E que raiva! Detesto ter que me levantar a todo momento para urinar! Respirar também passa a ficar difícil e eu odeio não poder fazer esforço sem me cansar, para não dizer que desde que Lian não conseguiu encontrar a língua de boi cozida que eu pedi quando acordei às 03:00 da manhã, tenho medo de meu bebê nascer com cara de bezerro.
   Mas devo admitir que apesar desses incômodos, olhar para meu ventre e pensar em nossa família toda feliz e juntinha, faz tudo valer à pena. Faz esses aborrecimentos parecerem supérfluos, pois a única coisa que importa, é o bebê que nascerá e o que vamos construir para ele e junto a ele. A família que seremos é tudo o que importa…

EMILY E LIAN: A PRINCESA PRISIONEIRA E O IMPERADOR DO CAOSWhere stories live. Discover now