CAPÍTULO 3

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   Assim que entramos no quarto minha primeira reação foi soltar as bolsas no chão e me jogar na cama.

– Estou tão cansada que poderia dormir por três dias seguidos!

– Era de se esperar, considerando que não parou quieta nem por cinco minutos.

   Ele pôs as bolsas que segurava do lado das minhas e foi em direção ao banheiro.

– Eu sou mais rápido, então tomarei banho primeiro, depois você entra.

   Eu sorrio comigo mesma enquanto repasso em minha mente cada evento que ocorreu esta noite. São quase cinco da manhã e eu me diverti por nove horas seguidas sem pausa! Isso foi incrível! Foi… foi a melhor noite da minha vida e… isso é tão estranho, sempre achei que minha vida era perfeita e completamente feliz, mas descobri um tipo de alegria diferente que nunca tinha experimentado antes!
   Desvio meus olhos inconscientemente e quando percebo estou encarando o par de olhos âmbar da pintura que fiz de Lian. Lembro de como o comparei com um demônio inúmeras vezes e penso nas interações que tivemos desde quando nos conhecemos, penso naquelas que me amedrontam e nas que me irritaram, mas termino pensando no piquenique e no festival.

– De fato este homem é um diabo encarnado.

   Mas no fim das contas, pode não ser tão terrível assim conviver com ele. Como eu havia dito para mim mesma. Não poderei decidir o que realmente sinto em relação a ele antes de saber quem de fato é ele, por enquanto vou apenas aproveitar cada momento. E os momentos que me foram proporcionados neste festival certamente foram os melhores de todos que já tive. Um diabo encarnado, irritante, provocador e até mesmo cruel, mas certamente uma ótima companhia quando o assunto é se divertir, sou obrigada a aceitar. Seja para uma competição de degustação de vinhos, um piquenique ou uma festa.
   Meus pensamentos vagam enquanto eu encaro a pintura por tempo indeterminado, até que escuto Lian falar.

– Já pode tomar seu banho.

   Ele realmente se lava mais rápido que eu mas certamente se higieniza bem, pois fica completamente limpo e cheiroso. Outro ponto que devo admitir.
   Eu tomo banho, tiro os ramos de flores que ficaram presos no meu cabelos e o lavo bem, depois visto minha camisola e me enfio debaixo das cobertas.

– Eu sempre soube que Peridot era um reino perfeito mas nunca de fato presenciei tanta beleza!

– Perfeito, você diz?

   Não sabia que ele ainda estava acordado.

– Sim! Você sabe… sem pobreza, miséria, doenças, crimes graves, violência… Perfeito! Porque meu pai é incrível!

– Entendo. Me responda uma coisa, Emily… o que você acredita que seu pai faria comigo caso descubra sobre toda essa farsa do nosso casamento?

   Eu não entendi a pergunta repentina, mas respondi mesmo assim.

– O certo seria te executar eu acho, mas nós não fazemos execuções. Meu pai é bondoso demais para isso, então ele só anularia o casamento e exilaria o seu reino de qualquer tipo de acordo comercial e político, ou te prenderia.

– Entendi.

   Eu fecho meus olhos e adormeço no mesmo instante.

   Eu realmente estranhei a ausência de mendigos nesta vila em específico, acredito que quisessem evitar que a princesa soubesse sobre eles e por esse motivo essa vila é melhor cuidada que as outras. Um de meus três infiltrados no palácio do imperador, especificamente aquele que faz parte de sua corte, me informou que há um decreto que proíbe qualquer pessoa doente, pobre demais ou feia se aproximar da realeza, sobretudo da princesa. As ruas pelas quais a carruagem real costuma passar tem casas mais coloridas justamente para que ela pense que todo o resto da cidade é assim, quando na verdade é só a rua principal e o centro onde ocorrem os eventos. Nesses locais em específico também é proibido que pessoas feias, muito pobres e doentes fiquem.
   A princesa pensa que seu pai é alguém bondoso quando na verdade é completamente o oposto. Ele, o pai dele e também o avô, não foram os três imperadores mais cruéis que o mundo já conheceu, mas certamente merecem reconhecimento por sua brutalidade e todos sabem disso, mas acredito que seja proibido falar sobre tais assuntos com Emily. Eu sei que as execuções ainda ocorrem e que o público em geral sabe disso, mas Emily não faz ideia.
   Já conheci muitas princesas ignorantes mas o caso de Emily é um tanto diferente. Ela é mantida na ignorância, não por escolha própria e sim pela vontade de terceiros. Me pergunto como ela reagiria se soubesse o que de fato acontece em seu reino e sobretudo em seu próprio palácio. Mesmo que ela não saiba, eu lhe farei um favor quando tirar a vida de seu pai.

EMILY E LIAN: A PRINCESA PRISIONEIRA E O IMPERADOR DO CAOSUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum