CAPÍTULO 14

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   Caminhando pelos jardins do palácio de Bismuto, eu deixo minha mente vagar sem rumo através dos 15 anos de vida de Amélia. Eu lembro de suas primeiras palavras, de suas músicas, suas roupas, seus livros e atividades preferidas… lembro de suas risadas e de seus choros, dos passeios de carruagem e das cavalgadas, das conversas descontraídas e das brincadeiras… lembro de cada aspecto de nossas vidas…

– Imagino que ainda esteja bastante abalada.

   Me viro para ver Isac se aproximando de mim e enxugo minhas lágrimas.

– Não se preocupe, pode chorar à vontade. Não faz bem segurar o choro.

– Eu sei… é que… eu só… eu…

– Não precisa se explicar, acredite, sou a última pessoa do mundo que irá julgá-la.

   Eu engulo o choro e respiro fundo algumas vezes.

– Eu tenho medo… medo de me esquecer dela… de não pensar nela o suficiente… tenho… saudades dela! É como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado à força!

– É doloroso mesmo, perder alguém que se ama tanto.

– Meu pai já está velho, ele está cada dia mais debilitado e… ele vai morrer em breve, eu sei disso, estava me preparando para isso, mas… Amélia era tão jovem… tão doce e tão… eu não… não esperava que ela morresse assim, tão de repente…

– Sim, é estranho mesmo, confesso que ainda não caiu a fixa para mim, é estranho não tê-la por perto para fazer incontáveis perguntas, dar risadas gostosas e fofocar com as empregadas. Ela se tornou uma presença tão viva neste lugar. Parece que a qualquer momento ela irá surgir e começar a falar alegremente.

– Sim… ela sempre foi alguém muito alegre…

   Percebo que voltei a chorar e enxugo minhas lágrimas novamente, respirando fundo para parar de soluçar.

– Ordenei que fizessem os preparativos para o funeral dela, assim que encontramos o cadáver. Liam me mandou te buscar para isso.

   Eu finalmente me viro para encará-lo. A pele pálida de Isac contrasta com seus cabelos vermelhos de uma forma bem chamativa, eu teria reparado melhor nele se tivéssemos nos encontrado em outra situação.

– Eu nunca tinha… reparado nos seus…

– Cabelos?

– Eu ia dizer, olhos.

   Começamos a caminhar e ele levanta sua mão para tocar seu olho desbotado.

– Ah! Isso? Foi uma infelicidade que sofri quando criança.

   Eu achei estranha a forma como ele falou de um evento que lhe deixou parcialmente cego com um sorriso tão gentil e descontraído em sua face. Não é como o de Lian que sempre aparenta ser arrogante.

– Mas… devo admitir que seus cabelos também são bem chamativos, ainda mais por serem do tamanho dos de Lian, acabam se destacando muito.

   Seu sorriso se alargou conforme seus olhos se fechavam, formando uma face muito mais descontraída e gentil que a anterior.

– Sim! Me destaco bastante mesmo, mas já houveram muitas vezes em que eu o pintei de preto.

   Isac aparenta ser uma pessoa muito boa, mas é estranho ficar a sós com ele, tentar conversar de forma descontraída é tão estranho considerando a situação em que estamos.

– Então… onde ela será enterrada.

– É justamente por isso que Lian a está chamando. Vamos lhe mostrar um mapa do nosso reino e você escolherá o local, como irmã mais velha, ninguém é melhor que você para decidir onde ela mais gostaria de descansar eternamente. Não podemos gravar em sua lápide o seu nome verdadeiro já que Lian e você convenceram todos de que Amélia morreu e seu corpo foi perdido, mas se você quiser gravar uma mensagem ou um apelido no lugar do nome, pode.

EMILY E LIAN: A PRINCESA PRISIONEIRA E O IMPERADOR DO CAOSOnde histórias criam vida. Descubra agora