CAP 18

18.8K 1.6K 19
                                    

CAP 18
Elisa.

. À noite logo chegou e eu estava cansada de ficar em casa e gorda por ter comido tanto sorvete em um dia só. Olhei meu relógio que ficava na parede que dava pro meu quarto e são sete horas da noite. Vou pro banheiro, tomo um banho rápido, saio coloco uma saia rodada estampada e uma blusa branca lisa por dentro dela, calço uma sapatilha, penteio meu cabelo deixando-os solto, passo perfume e estou pronta para dar uma volta.
. A lua cheia estava tão linda que era impossível não se apaixonar por ela... Apaixonar, tão difícil essa palavra que talvez tenha me acertado em cheio. Estava chegando há uma praça quando encontro aquele meu aluno que no dia das bolinhas de papéis ergueu a mão apenas para não tomar uma suspensão de Thiago, ele estava sozinho e aquilo me deixou intrigada, aproximei-me cautelosa e quando ele me viu, deu um sorriso fraco e abaixou a cabeça.
- Olá Saulo, posso me sentar aqui com você? - pergunto.
- Oi professora, claro que pode. - ele me dá um espacinho no banco.
- O que está fazendo aqui sozinho? - pergunto e ele se cala por um tempo, insisto. - Não vai me responder?
- Vim buscar meu pai... - ele responde.
- Sentado em um banco, aonde ele está?
- Essas horas deve estar em um bar enchendo a cara. - deu um sorriso, estava nervoso.
- O seu pai bebe Saulo?
- Bastante professora.
- E sua mãe? - sou curiosa.
- Deve estar em casa preparando o que comer para nós. - respondeu.
- Você tem irmãos?
- Eu tinha. - ele responde e eu vejo que se emociona.
- Por que tinha?
- Ele morreu, de tiro.
- Quer me contar como é a sua vida? Eu conto a minha também se quiser.
- Pode ser. - ele fala brincando com os dedos.
- Pode começar. - o encorajo.
- Pra começar o meu pai não é meu pai,nem a minha é minha mãe. Eu fui deixado em um orfanato quando eu tinha uma semana de vida e com quatro anos eu fui adotado por essa família. Tínhamos bastante dinheiro, eu tinha luxo, só andava bem vestido. Eu tinha um irmão, ele se chamava Brian, era militar e tinha vinte e seis anos. Um belo dia ele foi fazer uma operação em uma periferia e foi morto com quatro tiros, dois na cabeça, um no braço e outro na barriga. Ele ficou na UTI por um mês e depois veio a notícia de que ele havia falecido. Ele era o filho prodígio da casa, era o melhor mas eu não sentia ciúme e tão pouco sentia inveja, pelo ao contrario... Eu me sentia orgulhoso de poder olhar pra ele e ver no homem que ele era. A sua morte foi um baque para todos nós e nisso meu pai adotivo começou a beber, jogar, trair a minha mãe e perdeu todo o nosso dinheiro. Hoje ele é alcoólatra e bate na minha mãe quando chega bêbado em casa. Ela sofre bastante mas não sabe se defender sozinha e eu não posso ajudá-la enquanto a isso. - ele diz e eu me lembro do que Cláudio fazia comigo, eu era como a mãe dele, não sabia me defender, apanhava inocentemente... Sinto que ela precisa de ajuda assim como um dia eu também precisei.
- Que história triste Saulo, eu sinto muito pelo seu irmão, pela sua mãe e por seu pai ser assim... Posso lhe dar um abraço? - peço estendendo o braço e ele me abraça, parece que aquele ato era tudo que ele precisava pois o garoto chorou muito que chegou a molhar um pouco minha blusa.
- Me desculpe. - ele diz afastando-se rapidamente e limpou a lágrima.
- Pode chorar, Saulo. - respondo.
- Não posso não, homem não chora, meu irmão não deve estar feliz lá em cima por me ver tão vulnerável. - ele limpa as lágrimas.
- Você é um adolescente muito forte Saulo, Deus ainda vai te recompensar muito. Um dia você estará no auge do sucesso e vai se lembrar do que que a sua professora Elisa, no meio de uma praça te disse, pode confiar. - acaricio seu rosto, ele sorri fraco.
- Sua vez, me conte sua história. - ele disse.
- Eu me casei quando tinha dezessete anos, fui obrigada. - digo.
- Por que?
- Os meus pais eram muito rígidos, eles achavam que só por que ele com a minha mãe se casaram cedo eu também deveria. Eles tinham alguns amigos, e esses amigos tinham diversos filhos. Um belo dia, eu resolvi beijar o filho de um dos amigos deles e meu pai nos pegou com a boca na botija. Nisso, ele me grudou pelos cabelos, me deu algumas bofetadas e disse que filha dele tinha que prestar, não podia ser uma vagabunda igual as outras meninas. Com esse garoto ele não fez nada além de obrigá-lo a se casar comigo. Nos casamos obrigados, não nos amávamos e vivemos por conveniência dez anos. Quando completamos três meses de casados, esse meu marido começou a me agredir e foi até esses tempos pra traz. Eu mesmo só consegui me livrar dele, depois de dez anos. Meu pai faleceu há um tempo e minha mãe continua viva, uma vez eu tentei contato com ela mas ela não quis ser minha amiga, disse que não era minha mãe, meu pai antes de morrer havia feito a cabeça dela até deixá-la louquinha.
- Professora, posso te fazer uma pergunta? Promete que não irá ficar bolada comigo?
- Sim. - digo.
- O seu bebê é do diretor, não é? - ele pergunta e eu me calo. - Eu sou muito observador professora Elisa, a senhora não conseguiu me enrolar. - deu um sorriso fraco. - Mas fique tranquila, eu não irei contar pra ninguém, será o nosso segredo, ok? - ele diz acariciando meu rosto, que carinho bom.
- Tudo bem, meu filho é do diretor Thiago, mas a gente não transou... Eu fiz inseminação artificial e o esperma era dele. - digo.
- A sim, dessa eu não sabia. - sorriu.
- Ninguém sabe que foi por meio de uma inseminação além de você e do Thiago.
. Quando ele ia dizer algo, um homem caindo de bêbado apareceu e o segurou pelo braço, me assusto.
- Esse é meu pai professora Elisa, eu preciso ir agora. - deu um sorriso forçado, estava com vergonha. - O seu segredo estará bem guardado comigo, até amanhã. - ele beija meu rosto e se vai.
. Fiquei comovida com a história de Saulo, por ele ser um adolescente de pouca idade, sofreu como um adulto. Adoraria ajudá-lo se eu também não tivesse problemas.

O DiretorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora