Capítulo 5: Preciso de um estágio.

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2 anos depois
Nova Iorque

Minhas irmãs tinham o irritante costume de sempre viajarem com 10 malas pesadas, que restava para eu e Adam carregarmos. Pelo menos dessa vez tínhamos chegado mais cedo, mas isso não evitou que encontrássemos os corredores do alojamento lotado de estudantes. Era sempre assim no início do semestre.

—Ah, está tão frio lá fora. —Hannah resmungou, abrindo a porta do quarto que ela e Hazel dividiam, antes de começar a tirar as várias camadas de roupas que estava usando. —Já estou com saudades de casa. Podemos voltar?

—Quer uma resposta sarcástica ou uma sincera? —Questionei, vendo-a girar a cabeça e mostrar a língua pra mim, enquanto eu deixava as coisas dela sobre a cama.

—Dottie! —Hazel quase derrubou Adam quando o empurrou do caminho, correndo até o aquário ao lado da sua cama. Ela abriu um sorriso enorme ao enfiar a mão lá dentro, pegando a sua mini tartaruga de estimação. —Espero que a minha amiga tenha cuidado bem de você enquanto eu estive fora.

—Acho que ela cuidou. A Dottie tá viva, não tá? —Adam soltou, se aproximando de Hazel e ganhando uma cotovelada dela.

Minha irmã se sentou na cama, deixando a tartaruguinha na palma da mão, enquanto acariciava a cabeça dela. A tartaruga abriu e fechou a boca, como se estivesse tentando morder o ar. Hazel sempre gostou de animais, de uma forma que a tornava um tanto peculiar, porque ela queria um sapo de estimação, que minha mãe fez questão de recusar veemente, até Hazel aceitar a tartaruga no lugar.

—Olha, já deixamos tudo aqui. Vocês precisam de mais alguma coisa? —Indaguei, já me encaminhando até a porta, porque não via a hora de ir pro meu próprio quarto. Mas o alojamento que eu e Adam morávamos era do outro lado do campus, o que nos renderia uma boa caminhada até lá, com todas as nossas coisas.

Quando as duas negaram com a cabeça, eu e Adam nos despedimos e deixamos o alojamento delas, atravessando o campus da universidade. Havia um movimento muito grande, já que as aulas se iniciariam amanhã, mesmo com toda neve que cobria cada superfície. Minha respiração parecia fumaça, saindo dos meus lábios.

—Só de pensar que preciso acordar cedo amanhã, já tenho vontade de morrer. —Adam resmungou, me fazendo soltar uma risada, antes de olhar pra ele.

—Aula?

—Não, o treinador marcou uma reunião no primeiro período já. O maldito nem espera a gente se despedir das férias direito. —Afirmou, me fazendo soltar um suspiro pesado, porque também tinha reunião com o time de beisebol a tarde. Estava ansioso por isso, porque gostava mesmo de jogar.

Adam jogava no time de basquete, além de cursar medicina do esporte, um curso totalmente diferente do meu. Nunca pensei muito quando as pessoas me questionavam o que eu queria fazer. Metade da minha família foi pra direito. Meu pai era um dos melhores advogados de Aspen, assim como Zack e Peter. Não consegui não pensar em seguir o mesmo que os três. E não via a hora de poder voltar pra Aspen e trabalhar no mesmo escritório que eles.

Eu e Adam fomos direto para o nosso quarto quando entramos no alojamento, precisando tomar cuidado para não trombar com os vários estudantes que enchiam os corredores. Aquele lugar era sempre um caos, ainda mais quando algum engraçadinho resolvia dar uma festa clandestina em um dos quartos, quando os outros alunos estão tentando dormir. Hoje era só o primeiro dia, mas não me surpreenderia se tivesse uma.

—Você vai trabalhar amanhã? —Indaguei, enquanto entrávamos no quarto. Fui direto arrumar minhas coisas, porque sabia que não teria tempo amanhã e provavelmente nem no restante da semana.

—Vou. Já recebi um e-mail do centro de patinação. —Adam revirou os olhos, deixando suas coisas em um canto e se jogando na cama, sem ter a menor intenção de arrumar alguma coisa. Ele sempre fazia isso e depois passava a semana seguinte procurando suas coisas na mala, ficando frustados e irritado quando não as encontrava. —E o pior é que vou precisar fazer hora extra, por conta dos dias a mais que peguei por conta das férias. Tenho a sensação que esse ano eles vão arrancar todas as minhas energias.

—Ah, vai, não é tão ruim assim. Você só atende as pessoas e entrega os patins. —Falei, dando de ombros, o que o fez bufar em resignação.

—Claro, porque atender 50 crianças a cada hora não é cansativo, junto com um bando de pais que não sabem impor limites. —Resmungou, erguendo as mãos para esfregar a testa, como se já soubesse que iria se estressar amanhã, quando fosse para o trabalho. —Você já resolveu o que vai fazer?

—Estou pensando. Enviei meu currículo para várias empresas, mas... —Dei de ombros, aproveitando o momento para pegar meu notebook e checar os meus e-mails.

Me sentei na cama, pegando meu óculos da minha mochila. De 7 filhos, lógico que eu seria o azarado que teria falta de vista em algum momento e precisaria de óculos para conseguir ler de perto. Hannah fez piada por uma semana toda comigo quando comecei a usá-los, mas Hazel fez questão de dizer, com o tom de voz mais doce possível, que aquilo me deixava atraente. Óbvio que acreditei nela, mesmo quando Hannah fez um som de nojo com a boca.

—Você nem precisa se preocupar com isso de qualquer forma. Tem um emprego garantido depois da formatura com o tio Josh e os seus irmãos. —Adam afirmou, me fazendo torcer de leve os lábios, enquanto abria o e-mail e observava o que havia chegado ali.

—Preciso de um estágio, Adam. Todos os meus irmãos conseguiram e se saíram super bem, com cartas de recomendação perfeitas. —Rebati, erguendo o óculos com o dedo indicador, antes de engolir a frustração que causava um nó na minha garganta, porque só havia recebido e-mails com coisas relacionadas a faculdade. —Quero que eles saibam que vou ser um bom advogado, como eles. Isso é importante pra mim.

—Orgulhar seu pai, você já falou várias vezes. —Adam balançou a cabeça negativamente, sem precisar dizer nada, porque eu já sabia que ele estava pensando que eu estava exagerando naquilo, já que estava desde o início da faculdade tentando provar que seria bom como meu pai e meus irmãos. —Tenho certeza que o tio Josh sente orgulho de você, independe do que você faça.

Revirei meus olhos ao ouvir aquilo, porque não era o que eu pensava. Quase deixei o notebook cair do meu colo pro chão quando abri a caixa de spam, sentindo meu coração chegar a garganta quando reconheci o endereço de um dos e-mails que havia chegado ali.

—Puta merda, me diz que não estou vendo errado! —Exclamei, me atrapalhando para clicar em abrir o e-mail, enquanto Adam erguia a cabeça para em encarar, com as sobrancelhas erguidas em curiosidade.

Devo ter soltado alguns palavrões, porque Adam ficou de pé e correu pra ver o que tinha me deixado tão incrédulo. Mas eu tinha recebido um e-mail de um dos melhores escritórios de advocacia da cidade, me convidando para uma reunião para falar sobre uma vaga de estágio.

—Não acredito! —Adam riu ao meu lado, quase enfiando a cara dentro do notebook para ler. —É o Graham?

—É sim. —Falei, abrindo um sorriso que fazia minhas bochechas doerem. —Mandei meu currículo pra eles no terceiro semestre da faculdade. Não acredito que eles finalmente me responderam!

Continua...

Todos os lances da conquista / Vol. 1Where stories live. Discover now