Capítulo 21: Da próxima vez eu quero as vermelhas.

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Elisa ergueu mais o queixo, como se não quisesse baixar a guarda, mesmo que eu notasse a mudança nada sutil na sua respiração com a minha proximidade, além dos olhos verdes parecerem quase calorosos. Prendi o fôlego, sentindo o calor atravessar meu corpo como eletricidade, deixando minha pele arrepiada.

Eu tinha certeza que não deveria me aproximar demais dela. Ainda mais em uma sala dentro da empresa do pai dela, onde ele poderia aparecer a qualquer momento. Mas o fato de ela ter vindo atrás de mim, tão furiosa, e aquela tensão entre nós dois tornava impossível não querer ficar mais perto.

—E se eu não quiser nada de você? —Sussurrou, com a respiração batendo contra o meu queixo quando inclinei mais meu rosto pra perto, vendo-a engolir em seco, claramente nervosa.

—Se você não quisesse, não teria vindo até aqui. Teria jogado aquelas flores no lixo e fingido que não tinha as recebido. —Afirmei, umedecendo os lábios com a língua quando minha boca ficou subitamente seca. Elisa desceu os olhos e observou o movimento, antes de encarar meus olhos de novo, ansiosa. —Você me disse como se sentiu aquele dia, mas não deixou que eu falasse como eu tinha me sentido.

—Por favor, me conte. —Ela soltou uma risada, cruzando os braços na frente do peito, como se estivesse tentando se proteger da minha proximidade. Neguei com a cabeça, usando o dedo indicador pra erguer meu óculos, o que chamou um pouco a atenção dela.

—Sabe, você chamou minha atenção no jogo. Seus olhos, principalmente. —Falei, aproveitando o momento para levar a mão até os cabelos dela. —Minha cor favorita sempre foi verde. E o verde dos seus olhos é quase de tirar o fôlego, de tão bonitos. E depois do jogo, fui naquela festa pensando no quão sortudo eu seria se você estivesse lá.

—Mentiroso. —Retrucou, mas sua voz vacilou um pouco, como se ela quisesse acreditar em mim, mas estivesse com medo.

—Tudo bem, não precisa acreditar. Eu tenho certeza absoluta do que eu senti quando te conheci. —Afirmei, deslizando os dedos pelos cabelos dela, sabendo que Elisa estava ciente disso quando sua pele ficou corada. —E fiquei decepcionado quando comecei a pensar que você provavelmente era menor de idade. Uma linda bandeira vermelha. E então, quando eu percebi quem você era e você foi embora, fiquei com uma sensação estranha pelo restante da noite, me sentindo frustrado por ter encontrado você no ano errado.

—Cuidado, estagiário. —Elisa se inclinou pra perto de mim, até seu nariz quase roçar no meu, com aquela faísca entre nós dois deixando aquela sala menor e mais quente, assim como meu sangue. —Pra não desejar aquilo que não pode ter.

—Será que eu não posso? —Ergui uma das sobrancelhas, abrindo um sorriso que fez a confiança dela oscilar um pouco, mesmo que ela continuasse me encarando com muita determinação. Quase me desafiando a continuar. —Você é a princesinha do papai e da mamãe, não é? Aposto que eles mimaram você até onde podiam. Precisei apenas ver você com seu pai uma vez pra saber disso.

—E o que isso te diz respeito? —Ela torceu os lábios, claramente incomodada com o meu comentário, mesmo que fosse óbvio que eu estivesse certo.

—Isso diz muito sobre você. E tudo que envolve você, tem meu interesse. —Afirmei, dando de ombros, como se aquela fosse uma explicação muito simples, antes de meu sorriso sumir. —E só pra você saber, não gosto que me façam ciúmes.

—Ciúmes? —Ela soltou uma risada incrédula, antes de ficar séria quando percebeu que eu estava falando sério. —Ah, ele é a estrela do time de basquete, sabia? A promessa do time pra depois da formatura.

—Não me importo. Sei que você prefere beisebol. —Retruquei, vendo-a abrir um sorriso debochado, enquanto eu adicionava aquele cara a minha lista de inimigos, sem nem o conhecer. —E sei que você amou as rosas.

Elisa parou de sorrir, com os lábios tremendo enquanto me encarava. Meu peito subia e descia com força, enquanto meu coração estava tão disparado que trazia um frio esquisito pro meu peito, me deixando cheio de ansiedade. Tirei a mão dos cabelos dela pra tocar sua bochecha, quando a vontade de tocar nela tomou conta de mim, mas o barulho do meu celular tocando a deixou rígida, como se tivesse se dado conta de onde nós dois estávamos.

—Você ainda não me disse o que quer. —Sussurrei, ignorando o som do meu celular tocando, enquanto via o nervosismo se misturar com a confiança dela, que começava a se desmanchar. Fiquei tenso quando Elisa afastou as mãos de si e usou uma delas pra erguer meu óculos, antes de tocar meu peito e me empurrar pra longe.

—Da próxima vez eu quero as vermelhas. —Ela me lançou um olhar afiado, antes de abrir a porta e sair. Mas ainda tive um vislumbre daquela timidez e da garota doce que eu conheci, antes de ela desaparecer.

Abri um sorriso enorme, antes de ajeitar minha gravata e sair da sala, vendo-a seguir pelo corredor até o elevador. Puxei meu celular que havia parado de tocar, antes de me virar e parar quando dei de cara com Julian, no meio do movimento de levar o copo de café até a boca. Ele olhou pra mim e depois pro elevador se fechando, com um ponto de interrogação enorme na testa.

—Eu fui atrás de você e te liguei, porque você não apareceu e eu fiquei preocupado achando que tinha acontecido alguma coisa. —Explicou, como se sentisse a obrigação de fazer aquilo, enquanto eu soltava minha gravata e ajeitava meu óculos de novo, um pouco sem graça.

—Ela te viu? —Indaguei, vendo-o negar com a cabeça na mesma hora. Aquilo era bom, porque não queria vê-la preocupada com a possibilidade de isso chegar aos ouvidos do pai dela. —Isso é bem pior do que derramar café em um dos advogados, não é?

—Bem pior. —Julian soltou uma risada nervosa, enquanto eu abria um sorriso tenso pra ele, porque acho que não faria diferença se eu tentasse falar que não havia acontecido nada. Não do que ele poderia estar imaginando. —Mas ninguém viu nada, então...

Eu acabei rindo, vendo Julian gesticular na direção da sala dele, como se nunca tivesse saído de lá, o que o fez se atrapalhar com o copo de café e derramar um pouco no seu terno. Dessa vez ele foi comigo até minha sala, murmurando sobre precisar ficar de olho em mim para que eu não fosse sequestrado de novo. E eu estava começando a amar meu emprego.


Continua...

Todos os lances da conquista / Vol. 1Where stories live. Discover now