Capítulo 9: Do que você está rindo?

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Elisa

O silêncio no teatro me deixava nervosa, mesmo que eu já tivesse feito aquilo várias vezes. A melodia estava ecoando por cada espaço daquele lugar, enquanto eu e as outras garotas rodopiávamos juntas, com os movimentos que tínhamos treinado o mês inteiro. Me inclinei para o lado, com o movimento leve e fluido, fechando meus olhos para me concentrar naquele momento.

Dançava balé desde que eu tinha 4 anos, quando minha mãe me deu o conjunto completo e eu corria pela casa vestida nele. Era uma briga enorme para me fazer tirá-lo, porque eu amava aquela roupa. Depois disso, ela me colocou pra fazer aula e eu nunca mais parei. Tinha se tornado algo que fazia parte de mim. Não conseguir me ver fazendo outra coisa que não fosse balé.

Abri um sorriso quando me lembrei da minha primeira apresentação, deixando a melodia passar por mim e guiar meus movimentos. As vezes parecia que eu estava flutuando, de tão focada que eu ficava naquilo. Não tinha certeza se as outras garotas pensavam o mesmo, mas eu amava cada segundo de cada apresentação.

Quando a música chegou ao fim, nós nos inclinamos para frente, em um gesto de agradecimento. O teatro explodiu em uma salva de palmas, enquanto eu abria os olhos e encarava todas aquelas pessoas, correndo os olhos até parar nos meus pais, de pé, com sorrisos muito orgulhosos no rosto. Eles sempre ficavam assim, em qualquer coisa que eu fizesse. E eu estava sempre focada em deixá-los ainda mais orgulhosos de mim.

[...]

Como prometido, saímos pra jantar depois da minha apresentação. Meus pais pareciam muito animados, como se aquele dia tivesse sido perfeito. Eu não podia dizer o mesmo, apesar da minha apresentação ter sido o ponto alto do meu dia, um reencontro desagradável foi o suficiente pra deixar a comida amarga na minha boca.

—Está tudo bem? —Minha mãe tocou meu braço, percebendo que eu estava comendo quase nada. —Você não parece feliz. Aconteceu alguma coisa? A apresentação foi tão bonita, achei que ia estar mais animada.

—Só estou cansada. Agora eu tenho que dividir meu tempo na universidade também. —Falei, dando de ombros, porque não era totalmente mentira. Entrar na faculdade era meu sonho, mas um único dia foi suficiente pra eu saber que aquilo ia sugar minhas energias e roubar todo meu tempo.

Minha mãe me deu um sorriso compreensivo, erguendo a mão para colocar as mechas de cabelo escuro atrás da orelha. Minha mãe era a pessoa mais calma e compreensiva que poderia existir. Até mesmo quando eu fazia alguma coisa errada, ela tentava dialogar antes de brigar comigo. Eu não podia ter tido mais sorte no quesito mãe.

—E o rapaz do estágio? —Me encolhi na cadeira quando minha mãe perguntou aquilo ao meu pai, que até então parecia perdido nos próprios pensamentos. —Como foi?

—Foi bom. O rapaz se parece muito com os irmãos, então acho que vai se sair muito bem. —Meu pai afirmou, enquanto eu olhava pelo restaurante, torcendo os lábios em desgosto. —Ele vem de uma boa família. Tenho a certeza de que vai ser um bom advogado.

—Ah, isso é muito bom. Nicholas fala muito bem da família dele. Vai ficar contente quando souber que ele vai fazer um estágio com você. —Minha mãe abriu um sorriso, enquanto eu me sentia uma idiota rancorosa por esperar que ele se desse mal no estágio.

Quando eu tinha 15 anos, vi uma foto dele no Instagram do Nicholas. Sabia que ele era irmão de um dos amigos dele, mas não consegui não pensar no quanto ele parecia bonito demais. Como uma adolescente boba, stalkeei ele, até descobrir que ele jogava beisebol.

Eu já gostava do esporte, mas depois daquilo fiquei fissurada, seguindo os passos de Caleb pela internet. Sabia de todos os jogos dele e fazia questão de assistir pela internet. Um ano depois, quando meu irmão resolveu passar as férias de verão em Aspen com a família, o incomodei por um mês inteiro até ele me levar junto.

Aspen era uma cidade muito bonita, mas eu queria ir até lá por causa de Caleb. Sabia que ele morava lá e mesmo que estivesse na faculdade, iria passar as férias em casa. Meu sonho era apenas assistir um jogo dele pessoalmente, porque eu não era burra a ponto de achar que ia rolar alguma coisa. Eu era menor de idade e ele bem mais velho.

Mas eu fui tão tola e patética naqueles dias. Quando ele veio falar comigo no campo, depois que uma bola de beisebol me acertou, tive uma pontada de esperança. Não queria fugir do meu irmão e me meter em confusão, mas fiz isso mesmo assim, achando que poderia conseguir alguma coisa com Caleb.

A maldita festa tinha sido um sonho no início, até eu me arrepender amargamente de ter ido até lá. Caleb era mesmo o que eu esperava quando o observava pelas redes sociais, mas o fato de ele ter me dado atenção, ser gentil e carinhoso, pra depois sair e ligar pro meu irmão, sem fazer questão de me contar, tinha me machucado.

Se ele tivesse me contado que tinha avisado Nicholas, eu teria ficado chateada, mas teria entendido. Se ele tivesse me pedido pra ir pra casa, eu teria entendido e teria ido. Mas não foi isso que aconteceu. Ele me deu uma pitada de esperança e depois jogou um balde de gelo na minha cabeça, logo depois de eu ter confessado que tinha ido até lá por causa dele.

Tudo bem, eu era só uma adolescente imatura que teve sua primeira desilusão com alguém mais velho. Ele era o maduro da situação, que poderia ter sido sincero comigo. Nunca vou esquecer da sensação amarga de vergonha e decepção, quando meu irmão agradeceu a ele. Depois que cheguei no hotel naquela noite, me tranquei no quarto e chorei até minha cabeça doer.

Não o odeio, mas estou longe de ser sua maior fã agora. Simplesmente não queria mais ver qualquer coisa relacionada a ele. Encontra-lo na sala do meu pai foi um choque e tanto, apesar de eu ter conseguido me controlar. Fingir que não o conheço, torna a situação bem mais fácil de se lidar.

Encarei o meu prato, sem conseguir conter a risada que escapou pelos meus lábios quando me lembrei da cara dele quando sai do elevador. Eu tinha deixado Caleb sem palavras. Ele estava tão chocado que nem mesmo se mexia. Tive que usar todo meu autocontrole pra não soltar uma gargalhada na frente dele.

Mas eu só não queria que ele usasse aquela época contra mim. Não queria me sentir envergonhada por aquilo e, principalmente, não queria que ele percebesse que eu tinha guardado rancor dele durante esses dois anos, apesar de que isso eu tenho certeza que agora ele sabe. A questão é que eu não era mais aquela Elisa boba. E o tempo de ele se explicar já tinha passado.

—Do que você está rindo? —Meu pai indagou, me fazendo perceber que tinha mesmo rido alto, o que chamou a atenção dos dois, porque ambos estavam olhando pra mim com as sobrancelhas erguidas.

—Só me lembrei de algo engraçado que aconteceu mais cedo na universidade. —Dei de ombros, soltando outra risada, porque rir de Caleb seria meu passatempo agora, porque eu me recusava a chorar por qualquer coisa relacionada a ele de novo.

Continua...

Todos os lances da conquista / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora