Capítulo 10: Diário.

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Nicholas não é meu irmão de verdade. Ele é filho de dois grandes amigos do meu pai, que faleceram. Meu pai virou o tutor dele quando ele tinha 17 anos e passou a cuidar dele como um filho. Então ele se tornou meu irmão de coração quando eu nasci, porque sempre foi assim que ele me tratou. Meu nome é em homenagem a mãe dele, Elisabeth Jackson. E ele é um completo chato, como um irmão mais velho deve ser.

Nic — Fiquei sabendo que o Caleb vai fazer um estágio com o papai.
Por favor, não seja rancorosa com ele.
O coitado só estava tentando ajudar aquela vez.

Elisa — Ele não é coitado.
E você não deveria saber de nada, então vou fingir que você não me mandou essas mensagens sobre ele.

Enfiei minha cara no travesseiro, me sentindo constrangida por meu irmão saber da minha época de adolescente vergonhosa, quando eu tinha uma quedinha pelo Caleb. Na noite da festa, depois que voltei, Ella, a esposa do meu irmão, ficou tão preocupada por eu não parar de chorar que acabei contando a ela. Eu só não esperava que meu irmão tivesse ouvido tudo.

Nic — Achei que já tinha superado isso.

Elisa — Eu já superei, sim!

Nic — Tem certeza?

Elisa — Vou comprar canetinhas novas pra Madison riscar todas as paredes da sua casa.

Nic — Você não vai querer deixar a Ella chateada.
E você não me respondeu.

Elisa — Você está preocupado comigo ou com ele?

Ele mandou uma figurinha de um cara revirando os olhos, enquanto eu me sentia tão constrangida, querendo que meu irmão deixasse de ser tão intrometido. Mas ser intrometido parecia estar no sangue de irmãos mais velhos. Pelo menos era isso que minha amiga Taylor costumava dizer. E ela tinha quatro irmãos mais velhos.

Elisa — Eu já superei sim.
Só vou chutar a bunda dele se tiver a oportunidade.
Ou colocar tachinhas na cadeira dele.

Nic — Agora eu estou preocupado com ele.

Soltei uma risada, enviando uma figurinha de cara feia pra ele, antes de deixar o celular de lado. Já estava deitada na minha cama pra dormir, mas não conseguia fechar os olhos. Infelizmente, aquele reencontro não saia da minha cabeça. Tinham milhares de escritórios de advocacia em Nova Iorque. Por que ele precisava ir justamente no do meu pai?

Deslizei para fora da cama, acendendo a luz do abajur, antes de ir até o closet. Do meio dos meus casados pendurados nos cabines, puxei a caixa de papelão rosa onde eu guardava algumas coisas daquela época, que se eu pudesse mudaria. Voltei pra cama com ela, abrindo-a depois de um segundo de hesitação.

A primeira coisa que vi foi a bola de beisebol que atingiu minha testa naquele jogo em Aspen. Tinha a jogado no lixo assim que cheguei de viagem, antes de recuperá-la e então guarda-la naquela caixa, para permanecer esquecida, assim como as outras coisas que estavam ali. A deixei de lado, puxando o diário onde eu costumava escrever as maiores atrocidades, que hoje tenho vontade de me enterrar viva só de lembrar.

Abri na página marcada com uma nota adesiva, fazendo uma careta para as fotos e recortes de jornal que eu havia colado ali, de Caleb em seus jogos. Pelo menos eu não tinha contado a ele sobre esse diário. Seria o ponto mais vergonhoso da minha vida. Eu era uma adolescente muito esquisita, isso era um fato.

Fechei o diário, porque não queria ficar vendo as fotos dele. Quando olhei de novo pra caixa, observei a camisa xadrez que estava escondida embaixo do diário antes de eu pega-la. Cheirava a guardado, mas ela tinha ficado com o cheiro dele por muito tempo. O pensamento me deixou com um frio esquisito na boca do estômago. Guardei apressadamente o diário e a bola de beisebol, porque não queria nenhuma daquelas lembranças. Enfiei a caixa embaixo da minha cama e me deitei, apagando a luz do abajur.

[...]

Desci do Uber, ajeitando o gorro nos meus cabelos, antes de seguir em direção ao prédio que eu teria aula. Eu estudava artes cênicas, porque tinha sido o curso que mais me chamou atenção e mais me deixaria perto do balé. Eu tinha vontade de me tornar professora. Principalmente de quem estava iniciando no balé.

Sorri para a moça que estava entregando alguns panfletos na entrada do prédio, aceitando um deles antes de escapar da neve que grudava no gorro e nos meus cabelos. O sorriso do meu rosto morreu quando vi que era sobre todos os times oficiais da universidade. Entre eles, beisebol, com Caleb aparecendo em uma foto enorme, como um garoto propaganda.

Amacei o papel e joguei na primeira lixeira que encontrei, me perguntando se ele passaria a me perseguir daqui pra frente. Tinha a intenção de assistir os jogos de beisebol da universidade, mas agora tinha a certeza de que não iria em nenhum. Não queria vê-lo jogar e muito menos que ele me visse lá.

Parei no meio do caminho pra sala, querendo enfiar minha cabeça na lixeira mais próxima, quando vi uma das irmãs de Caleb pegando suas coisas em um armário. Não tinha ideia de qual delas era, porque as duas eram gêmeas idênticas. Também não sabia que uma delas fazia artes cênicas.

—Eu deveria ter escolhido outra faculdade. —Choraminguei, percebendo que evitar Caleb ou qualquer coisa relacionada a ele seria muito difícil.

Fui direto pra minha sala, afundando no primeiro lugar que encontrei vago. Balancei a cabeça negativamente, sentindo que iria enlouquecer se visse mais alguma coisa relacionada a ele. Fiz uma careta quando meu celular começou a vibrar, querendo colocá-lo no silencioso, já que a aula já ia começar.

Mas então, o nome de Caleb surgiu no meio da tela, quando ele começou a me seguir no Instagram. Quase caí da cadeira, enquanto soltava um gritinho de raiva que fez a sala inteira olhar pra mim. Abri um sorriso constrangido, enfiando o celular na mochila e desejando que aquela aula acabasse bem rápido.


Continua...

Todos os lances da conquista / Vol. 1Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin