Capítulo 13: Quantos anos você tem?

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Nova Iorque

Tinha conseguido organizar meus horários do estágio com os períodos das minhas aulas, dos treinos e dos jogos. Eu teria o tempo corrido até pra comer e dormir, mas pelo menos aquilo seria só por um ano. Na segunda de manhã, eu já estava no elevador do escritório, encarando meu reflexo no espelho. O óculos ficava o tempo todo escorregando pelo meu nariz, mas Hazel me fez coloca-lo antes de sair.

—Primeiro dia? —Um rapaz que estava no elevador comigo indagou, provavelmente notando meu nervosismo, já que eu não parava de mexer na gravata, erguer o óculos ou passar a mão nos cabelos. Olhei pra ele, encarando o punhado de cabelos loiros rebeldes, antes de concordar com a cabeça —Fixo ou estágio?

—Estágio. —Falei, vendo-o sorrir e balançar a cabeça, como se compreendesse meu nervosismo de primeiro dia. —Estava esperando por isso desde o terceiro semestre da faculdade, cara. Quero muito causar uma boa impressão.

—Eu entendo. Fiquei bem assim no meu primeiro dia aqui. Derramei café em um dos advogados mais antigos porque não consegui controlar minhas emoções. —Ele riu quando exibi uma expressão horrorizada, porque do jeito que eu estava me sentindo, era bem capaz de eu fazer o mesmo. —Mas o Luc é incrível, cara. Ele não vai mandar você embora por um deslize se perceber que você está mesmo se esforçando.

—Ou seria por que ele já conhecia você? —Indaguei, lançando a ele um sorriso torto, porque ele tinha o chamado de Luc e não de Dr. Graham. O rapaz riu, balançando a cabeça negativamente, antes de estender a mão pra mim.

—Julian Patton. E você deve ser o Caleb. —Aceitei a mão dele e confirmei com a cabeça. —Luc elogiou você na última reunião. Então nem se preocupe, você causou uma ótima primeira impressão já.

—É bom saber disso. —Falei, engolindo em seco quando as portas do elevador se abriram, me perguntando se aquilo seria suficiente pra terminar a faculdade com um currículo perfeito.

[...]

Não derramei café em nenhum dos advogados do escritório, mas precisei sair correndo da empresa pra aula e ainda sim cheguei meio hora atrasado, o que me rendeu um olhar fulminante do professor quando entrei na sala completamente silenciosa, batendo a porta com mais força do que seria necessário. Depois ainda precisei correr para o treino. Não cheguei atrasado, mas fui pro meu alojamento arrastado, porque me sentia exausto e morto de fome.

—Vou sair pra comprar alguma coisa pra gente jantar. —Adam me encarou com uma careta, já que eu estava jogado na cama com os braços latejando por conta do treino. —Hazel me disse que só está esperando a Hannah chegar pra virem pra cá. Vou comprar pra elas também. Não devem demorar.

Minha única resposta foi soltar um "aham" quase inteligível, que arrancou uma risada de Adam. Ele bateu a porta do quarto, enquanto eu fechava os olhos e soltava um suspiro pesado ao ouvir meu celular vibrar. Não queria me mexer, porque meus braços estavam estranhos, como se eu ainda estivesse movendo o taco de beisebol pra acertar os lançamentos.

Arrastei a mão até meu celular, erguendo-o na altura do meu rosto. Havia uma quantidade considerável de mensagens dos meus irmãos, no nosso grupo. Li as mensagens pela barra de notificação, porque não queria responder ninguém agora.

Kyle — Como foi o primeiro dia?

Peter — Deveríamos nos preocupar se ele está vivo.
Ele não entra desde as 7 da manhã.

Zack — Bem-vindo a vida de adulto.

Peter — Será que a Elisa jogou ele no fosso do elevador?

Kyle — Quem é Elisa?
É a irmã do Nicholas?
Era dela que a Hazel estava falando?

Joguei o celular longe quando Zack mandou um textão contando tudo. E, como eu imaginava, agora todo mundo saberia, só porque Adam foi fazer fofoca para Hazel. Elisa parecia decidida demais em fingir que eu não existia. Ela não tinha me seguido de volta, mas postou fotos da sua última apresentação. Não esperava vê-la tão cedo dando as caras no escritório do pai.

—Ah meu Deus, eu só quero morrer em paz! —Exclamei, assim que alguém bateu na porta do meu quarto.

Não era minhas irmãs, isso eu tinha certeza, porque as duas tinham a chave da porta e costumavam entrar sem bater, como se fossem donas do lugar. A pessoa bateu de novo quando não me mexi para levantar, me arrancando um grunhido de frustração. Me arrastei para fora da cama, caminhando até a porta enquanto esfregava os olhos. Estava tão cansado que poderia dormir em pé.

A mudança de rotina tinha acabado comigo e aquele era só o primeiro dia. Abri a porta pronto pra mandar quem quer que fosse embora, porque só precisava de sossego. Seria capaz de brigar com meus colegas de alojamento se eles resolvessem fazer outra festa no quarto ao lado.

—Ah... oi. —Falei, sem saber como reagir quando dei de cara com Elisa ali, bem na frente do meu quarto.

Pela cara de susto dela, ela não parecia estar esperando me ver ali, além de ter ficado visivelmente sem palavras. O rosto dela ficou vermelho quando ela deu uma olhada em mim, já que eu estava sem camisa e só com uma calça de moletom, com os cabelos úmidos. Algo se agitou dentro de mim, espalhando um arrepio pelo meu corpo.

—Desculpa, acho que errei o número. Estava procurando pelo quarto de um amigo. —Afirmou, desviando os olhos de mim, parecendo super constrangida, enquanto eu mordia o lábio para não sorrir. —Não sabia que morava aqui. Sinto muito.

—Que coincidência você errar o número e bater bem na minha porta. —Comentei, o que a fez voltar a olhar pra mim, cerrando os olhos como se procurasse pelo tom de provocação na minha voz.

—Realmente. —Ela torceu os lábios, antes de abrir um sorrisinho. —Como foi o primeiro dia, sr. Carson?

—Foi muito bom. Tenho certeza que tenho muito a aprender com o seu pai. —Tombei a cabeça de lado, me perguntando como ela conseguia fingir tão bem. —Você pode parar de me chamar de senhor. Não sou tão velho assim.

—Tem razão. —Os olhos se iluminaram com sarcasmo, enquanto eu esperava ouvi-la me chamando de Caleb. —Estagiário. Desculpa de novo, mas eu preciso ir.

Apertei a mandíbula, sentindo a frustração subir pelo meu sangue quando ela deu alguns passos para trás, pronta para se afastar. Onde estava aquela garota que foi até um jogo de beisebol só pra me ver e depois fugiu pra uma festa pra me encontrar, eu não fazia ideia.

—Se você se sente confortável em fingir que a gente nunca tinha se visto até segunda passada, vá em frente. —Falei, o que a fez parar e olhar pra mim, exibindo aquela expressão de desentendida, enquanto eu dava de ombros. —Mas no fundo nos dois sabemos da verdade. E eu posso jogar esse jogo com você, Elisa.

—Eu devo ser muito parecida com ela pra você me confundir assim com tanta certeza. —Ela me lançou um olhar compreensivo, como se eu estivesse ficando louco.

Ela sorriu e teve a cara de pau de piscar pra mim, antes de dar as costas e seguir pelo corredor, fazer meu sangue esquentar. Me inclinei para fora do quarto, umedecendo os lábios com a língua. Elisa poderia fingir bem, assim como eu poderia provocá-la. E eu era competitivo o suficiente para fazer aquilo

—Ei, Elisa? —A chamei, fazendo-a parar e me encarar por cima do ombro, parecendo desconfiada, o que me fez abrir um sorriso muito, muito grande. —Quantos anos você tem?

Ela piscou algumas vezes, me encarando como se estivesse tentando entender o sentido da pergunta. Enfiei minhas mãos no bolso da calça, me escorando no batente da porta enquanto não deixava de encara-la um segundo sequer. Minha pulsação disparou quando ela pareceu enfim ter entendido, com as bochechas ficando vermelhas de novo, antes de sair dali tão rápido que quase vi a fumaça que ela deixou pelo caminho.

Continua...

Todos os lances da conquista / Vol. 1Where stories live. Discover now