Capítulo 8: Eu fiz o que achava certo.

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Elisa me encarou com aquele sorriso doce, como se realmente não me conhecesse. Ok, talvez aquilo fosse bom. Me lembro de tê-la visto pedir ao irmão para não contar aos pais que tinha ido até aquela festa. Então talvez ele realmente não soubesse, ou não estaria a apresentando pra mim daquela forma e ela entrando na onda.

—Vou pra casa. Nos vemos daqui a pouco. —Ela se virou para o pai e a expressão se suavizou, antes de ela beijar a bochecha dele e se afastar. —Até mais, sr. Carson.

Acenei com a cabeça na direção dela, antes de olhar para Luc, vendo-o seguir a filha com os olhos, até ela sair da sala. Não consegui não evitar me sentir aliviado por ela não estar mais ali. Não podia vacilar justamente hoje, antes mesmo de começar aquele estágio. Ofender a filha dele certamente não seria uma boa ideia, mesmo que eu já tivesse feito isso.

—Desculpe pela interrupção. Não gosto de deixar minha família esperando, então elas tem autorização para entrar aqui sem precisarem serem anunciadas. —Luc afirmou, me fazendo assentir com a cabeça. —Mas imagino que você entenda.

—Ah, sim, os Carson's valorizam a família acima de tudo. —Abri um sorriso, porque aquela era uma verdade fácil demais de dizer. —E sua filha parece valorizar bastante sua presença nas apresentações dela.

—Eu nunca perdi uma. Acho que ela ficaria chateada se isso acontecesse. Ela faz balé, a propósito. —Comentou, e eu tive que me controlar pra não demonstrar que já sabia sobre aquilo. —Apesar de que eu já estou a chateando o suficiente.

—Posso perguntar o por quê?

—Ela quer uma moto de presente, desde que ficou mais velha. Mas eu estou tentado em comprar um carro em vez disso. Muito mais seguros. —Luc gesticulou com a mão, como se aquela fosse uma explicação óbvia. —Então estamos em um impasse que está a deixando chateada.

—Acho que se minhas irmãs pedissem uma moto pro meu pai, ele certamente teria um infarto. —Afirmei, o que fez Luc soltar uma risada, como se estivesse chegando bem perto daquilo.

—Bom ver que não sou o único que sofre com as mulheres. —Luc empurrou a cadeira para o lugar, pegando alguns papéis. —Tenho uma reunião agora. Vejo você na segunda.

—Estarei aqui, senhor. —Prometi, mais pra mim mesmo do que pra ele.

[...]

Quando sai da sala de Luc e segui para o elevador as portas estavam se fechando, então me apressei para pega-lo, antes que ele se fechasse e eu precisasse esperar. Mas talvez não tenha sido uma boa ideia, porque quando enfiei as mãos entre as portas, para evitar que elas se fecharem, e entrei no elevador, era Elisa quem estava ali. Só ela, pro meu total azar.

Ela me lançou um olhar neutro quando entrei e parei ao lado dela, apertando no último andar. As portas se fecharam, nos deixando sozinhos, em um silêncio tenso demais. Mesmo que tivéssemos fingido que não nos conhecíamos na sala do pai dela, ali era difícil fingir qualquer coisa. Havia um ar carregado de coisas entre nós dois, que estava me deixando inquieto.

Queria olhar pra ela e encarar aqueles olhos verdes. Queria que ela me perguntasse porque liguei pro irmão dela. Mas Elisa não fez nenhuma dessas coisas. Ela continuou encarando as portas do elevador, que parecia estar levando séculos para descer. Minha boca começou a ficar seca, enquanto minha pulsação disparava como um foguete.

—Elisa. —Falei, antes de hesitar quando ela trocou o peso de um pé para o outro.

—Carson. —Respondeu, ainda sem olhar pra mim, o que me fez suspirar e umedecer os lábios com a língua. Tudo bem, ela não ia facilitar pra mim. Era justo. Eu tinha a magoado, de alguma forma, porque não contei a ela o que tinha feito e ainda a entreguei para o irmão.

—Não tive a chance de me explicar pra você naquela festa. Não queria ligar pro seu irmão e te entregar, mas senti que era minha obrigação fazer isso quando percebi quem você era. —Afirmei, sentindo e vendo-a ficar tensa por um momento, antes de relaxar e trocar o peso do corpo de novo, enquanto cruzava os braços na frente do peito. Mas ela ainda não tinha olhado pra mim. —Você era menor de idade e estava numa festa sem seu irmão saber. Aquilo poderia dar um problema muito grande, pra você e também pra mim. Eu fiz o que achava certo. O que eu queria que alguém tivesse feito por mim se fosse uma das minhas irmãs no seu lugar. Sei que você me achava...

—Desculpa, sr. Carson, não faço ideia do que você está falando. —Elisa finalmente olhou pra mim, cortando minhas palavras. Ela abriu um sorriso doce e compreensivo, sem nenhum lampejo de raiva no rosto. Apenas uma máscara de perfeita calmaria.

—O que? —Soltei, encarando aqueles olhos verdes, sentindo algo faiscar dentro de mim, quando ela torceu os lábios em confusão. Ergui o óculos quando ele escorreu um pouco do meu nariz, o que chamou um pouco a atenção dela.

—Acho que você está me confundindo com alguém. Não sei do que está falando. Nós dois nunca nos encontramos até hoje. —Afirmou, com tanta convicção que eu quase me perguntei se eu estava ficando louco, até me dar conta do que ela estava fazendo. Mentindo. Fingindo. E estava fazendo aquilo tão bem que eu quase acreditei.

As portas do elevador se abriram e ela se virou para olhá-la, antes de se virar pra mim mais uma vez. Um brilho de perspicácia nos olhos, enquanto eu estava imóvel, sem saber como reagir aquilo. Ela saiu do elevador, ajeitando os cabelos pretos e deixando um perfume adocicado para trás, que grudou no meu nariz.

—Foi um prazer conhecê-lo. Espero que se saia bem no estágio. —Ela me lançou outro daquele sorriso doce, mesmo quando não consegui expressar qualquer reação ou me mover pra sair do elevador.

Ela virou as costas e saiu andando pelo hall de entrada do prédio. Finamente me dei conta de que estava congelado no lugar quando as portas do elevador ameaçaram de fechar comigo ali dentro. Tropecei para fora, seguindo para fora do prédio apressadamente. Quando passei pelas duas portas e parei do topo dos degraus, a vi entrando em um carro, rindo de alguma coisa.

—Puta que pariu. —Exclamei, erguendo as mãos para puxar meus cabelos para trás. —Que merda acabou de acontecer aqui?


Continua...

Todos os lances da conquista / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora