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Após deixar Misdreavus e Beautifly para serem tratadas no entro Pokémon próximo ao ginásio, Crystal acompanhou Gary por algumas quadras até chegarem a um pequeno campo de treinamento no qual crianças com seus pokémon filhotes de estimação e adolescentes que haviam acabado de obter sua Licença de Treinador e seu primeiro pokémon inexperiente utilizavam para treinar.
Subiram até o alto das arquibancadas de cimento que ficavam á sombra dos pinheiros e assistiram os novatos e seus pokémon tentarem treinar os poucos golpes que sabiam e arriscar alguma batalha. Crystal achou particularmente engraçadinho uma menina, com talvez seus oito anos, tentando fazer com que seu Oddish imitasse seus rodopios e passinhos para algo que parecia uma tentativa de Contest.Os Torneios Pokémon (mais conhecido entre o meio de participantes como Contests) eram eventos onde treinadores e seus pokémon trabalham juntos em apresentações para encantar a plateia e serem julgados por um júri artístico especializado. Nele, o treinador e seu pokémon formam uma dupla que irá se apresentar de forma artística e olímpica com coreografias e apresentações previamente ensaiadas a fim de produzir um espetáculo. Os Contests se originaram em Hoenn há algumas décadas e rapidamente caíram no gosto popular, se tornando o tipo de apresentação preferido após a Liga Pokémon.
Ver aquela menininha com seu pokémon, lembrou Crystal de quando era criança e passava horas dos dias se imaginando uma famosa e talentosa apresentadora de Torneios Pokémon. Mas quando começou a frequentar a escola e descobriu sobre a vida de treinadores pokémon e suas jornadas, apaixonou-se por esse estilo e meta de vida. E nas brincadeiras sobre "ser treinador e mestre pokémon" que fazia ao lado de Kenta por compartilharem o mesmo sonho, decidiu que ser uma treinadora era o que queria. Então, havia estudado, se esforçado e criado coragem para seguir esse caminho e atingir os objetivos para tal sonho. E vinha realizando- aos pouquinhos ao mesmo tempo em que descobria (e aprendia) que tal sonho não era como havia idealizado em suas fantasias infantis e expectativas adolescentes.Observou a insígnia que havia obtido cerca de uma hora atrás. Sempre havia conquistado todas as suas insígnias em batalhas até o fim, mesmo que algumas vezes tivesse de desafiar o líder de ginásio mais de uma vez. Mas aquela havia sido a primeira vez que ganhara uma insígnia praticamente de presente. E isso, aliado as circunstâncias de como havia ganho, tornava a conquista estranha e até incômoda.
— Será...que o Morty está bem?
Gary meneou a cabeça, parecendo pensar.
— Talvez seja tenso mas...ele vai ficar.
Crystal não tinha tanta certeza. A mestra Agatha, avó dele, se revelara uma pessoa de índole não apenas difícil de lidar, mas também maldosa e cheia de veneno. E pelo pouco que pudera ver da discussão, o fato de Morty não mudaria sua conduta com ele. Provável que estaria sendo pior.— Eu... – Crystal começou, escolhendo as palavras. – Não queria acabar meio que sendo responsável por causar atrito entre ele e a avó.
— Você não tem culpa de nada. – Gary falou. – Morty e a avó estão em conflito há tempos, desde que ela saiu da Elite. A situação estava ficando insustentável, uma hora ia arrebentar. E essa hora chegou.
— Por que eles não se dão bem? – a garota perguntou, mas logo se arrependeu pois poderia parecer interesseira.
— Agatha é autoritária e presa a tradições, como boas parte dos anciões da geração dela. Como ela foi uma daquelas precursoras por ter criado e expandido o meio dos Treinadores e Liga Pokémon, além de fazer parte daquele grupo que se tornou "lenda" nesse nicho, se acha uma autoridade máxima e dona da verdade. Esse pessoal como ela, por terem criado e expandido legados, exigem que os membros da família mantenham isso e que caminhem dentro das regras que eles acreditam serem as certas e socialmente aceitas. Agatha sempre foi assim e meu avô também não foge muito disso.
— O professor Carvalho, sério? Mas ele parece ser tão legal, tolerante e engajado nas coisas atuais. Sei que ele é participativo nas ONGS de pokémon abandonados, prega sempre o bem estar de humanos e pokémon buscando opções seguras e justas para os treinadores em jornada e até tem um canal no PokéTube onde fala sobre pokémon com o todo o conhecimento que ele tem, dando dicas para treinadores iniciantes!
— Ah, sim. – Gary tirou o maço de cigarros e o isqueiro do bolso. – O professor Carvalho é a celebridade-mor do mundo pokémon, uma lenda. Se importa de eu fumar do seu lado? – a garota negou e ele acendeu o cigarro. – Não me entenda mal, meu avô é realmente um cara e tanto que realmente se preocupa com os pokémon, a vida dos treinadores iniciantes e a qualidade e direções de todo o sistema relacionado a esse "sonho de viver" que a maioria dos jovens tem. Ele merece todo o reconhecimento e louros da glória que recebe. Mas fora dos holofotes, no ambiente familiar, as coisas são um pouco diferentes.
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A Lenda de Cristal
General FictionQuão assustador pode ser a realidade de uma lenda esquecida? Para Crystal, uma jovem treinadora Pokémon, as descobertas sobre si e os outros ao seu redor, se tornam um árduo aprendizado em meio á um destino que ela e todos aqueles que são envolvidos...