A Herança do Universo

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"Quando o universo em que vivemos surgiu, se originou uma grande explosão que deu forma à tudo. Todos os átomos nesse mundo possuem uma herança da criação, ou seja, cada coisa existente possui um cosmo dentro de si. Cosmo é o nome dado a energia na qual herdamos do universo. Para atingir o poder, deve se concentrar e queimar seu cosmo."

      "Certo, mas e agora? Já faz quase um mês que estou tentando executar essa droga!  Esses textos filosóficos podiam ser mais resumidos... Acho que o velho Hakurei não sabia que o 'cavaleiro desta geração' gostaria de coisas simples, direto ao ponto." Pensei irritado, voltando a tomar novamente a posição que me fora ordenada no pergaminho. Mãos fechadas, pernas semi abertas, braços dobrados.

  — Agora eu acho que vai! Cosmo, queime!

      Uma energia dourada se formou ao redor de meu corpo. Podia sentir tudo se alinhando perfeitamente dentro de mim, até um mosquito passar próximo ao meu ouvido, tirando minha concentração ao zumbir.

  — Eu... Eu estava quase lá! Maldição!

      Misturar teoria e prática era algo um pouco difícil para mim. Antes de ler este pergaminho, eu sabia que existia um poder quando eu tocava a caixa, mas na verdade era o contrário! "O cosmo emanado pelo cavaleiro entra em sintonia com sua constelação e esta o recompensa com o poder da armadura sagrada.", era o que estava escrito.

  — Eu não vou me render tão facilmente. Passei praticamente um ano estudando essa língua doida!

      Tentei de novo, de novo e de novo pelas noites que transcorriam. Não iria aceitar ter perdido tanto tempo fazendo poses feito um idiota e mais os dez meses que fiquei sentado, dedicando minha vida a fazer a coisa que mais odeio, estudar. Ainda engordei um pouco por ter passado tanto tempo sem me mover muito.

      Mas naquele dia não dava mais. Nunca consegui fazer nada forçado ou sem estímulo. Todo dia após todos dormirem, pegava minha urna, meu pergaminho e voltava ao treino pela noite a fora. No dia seguinte, após não dormir quase nada, ainda tinha que disfarçar o cansaço para que ninguém percebesse, embora às vezes meus instintos deixassem isso claro...

  — Eu acho que isso deveria ficar... Ah... Bem... Ah! Isso deve ficar aqui! Hehehe...

      Disse um pouco sem graça, colocando o jarro sobre a mesa, mas em um discuido, esbarrando e derrubando no chão.

  — O que foi isso?!

      Magnólia saiu da cozinha, vendo o jarro em pedaços no chão.

  — Me...  Desculpe. Acho que, foi um discuido meu.

      Respondi um pouco zonzo. Na última noite havia treinado tanto que cheguei em casa quando o sol acabara de nascer.

  — Você não parece nada bem. Parece morto de cansaço! Anda, vai pra cama que já já vou ver se está com febre.  Deixa a arrumação por minha conta! Dio mio! Esse vaso foi presente de casamento dos meus pais...

      Subi afoito, já fazia um tempo que não sabia o que era dormir. Pelo menos havia voltado ao meu peso normal com aquele treinamento. Eu estava até mais forte pra falar a verdade, mas do que adiantava força se minha disposição era gasta durante a noite?

       Eu precisava vencer aquele treinamento. No fim, não dormi aquela tarde. Deitei de lado e fiquei pensando em um jeito próprio de dominar esse dito cosmo. Nenhuma idéia veio, então, como de costume peguei minhas coisas e parti para a praia após todos adormecerem.

  — Dessa vez eu vou conseguir...

      Executei todos os exercícios necessários, me concentrando e tentando. Não foi dessa vez, mas não me daria por vencido. Fui até o mar e lavei o rosto, voltando para perto da urna e tentando novamente. Eu chegava perto, mas estava fazendo algo errado; no último momento tudo desandava.

  — É agora ou nunca. Ou eu aprendo essa noite ou não tento nunca mais. Se o sol aparecer e eu não tiver conseguido, pra mim chega!

      Mais uma vez iniciei o processo. Com as mãos "desenhei" no ar os quatro pontos da constelação de cancer. Deixei o corpo sólido e me concentrei novamente. Desta vez foi mais forte que o normal. "Vou conseguir!", pensei. Entretanto, quando estava próximo, mais uma vez falhei. Atirei o pergaminho longe e caí no chão, deixando as lágrimas descerem pelos cantos de meu rosto.

  — Por que?! Eu podia ter feito qualquer outra coisa, nesse tempo! Não admito ter jogado mais de um ano no lixo...

      Levantei, olhando para o céu e lembrando de tudo o que passei. Era como se minha vida fosse uma vinheta diante de meus olhos. À medida em que ia avançando, lembrava dos momentos que me despertavam emoções fortes. À medida que estes iam passando em minha mente, sem perceber, meus sentimentos explodiam como o universo citado no pergaminho.

   — Meus irmãos, minha mãe.... Não, eu não me esqueci se vocês. Não vou permitir que aquele homem nojento prospere em nome da injustiça e do oportunismo... Não vou ser mais um que viveu sua vida covardemente e acabou em um cemitério imundo como um dejeto qualquer. Eu vou... Fazer se tornar real o sonho da minha mãe! Em nome desse ódio... Por esse cosmo que queima dentro de mim!

      Executei novamente os quatro pontos, enrijeci meu corpo, mantendo vivas todas aquelas emoções de uma vez. Senti um poderoso estouro, que expandia minha alma ao infinito. Finalmente meu cosmo havia despertado. Olhava para minhas mãos , sentindo a energia correr pelo meu corpo. Por fim, exausto, caí deitado.

Por Baixo da CascaWhere stories live. Discover now