Dando Forma ao Cosmo

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       Eu finalmente havia conseguido despertar o cosmo. Me movia na velocidade da luz, quebrava qualquer coisa só de encostar, além de não sentir mais indisposição. Mas pensar que aquele era apenas o primeiro parágrafo me deixava receoso. Dominar o cosmo foi uma tarefa difícil, mas eu não imaginava que a pior parte estaria por vir.

  — Vamos ver... "Assim como um artesão confecciona suas criações utilizando seus sentimentos e experiências, o cavaleiro deve colocar sua alma naquilo que faz. Desta forma, será possível alcançar um controle único e próprio sobre seu cosmo. Engana-se quem pensa que os cavaleiros são iguais com o passar das eras. Cada constelação possui sua propriedade, mas cada cavaleiro deve moldar esta propriedade por si só."

      Não parecia difícil, aliás, na teoria parecia fácil até demais, exceto pelo fato de que a teoria nunca se iguala à prática. E foi assim que começou a segunda etapa do treino. Mais noites se passaram e embora eu dominasse perfeitamente meu cosmo, não conseguia "projetá-lo" como dizia no texto. Todavia, eu já tinha completado uma parte do treino, sabia que não era impossível nem surreal, no entanto, não era nada fácil.

  — Estes cavaleiros são de outro planeta, isso é, se eles ainda existem! Como pode alguém conseguir fazer algo tão difícil? Se eu que fui capaz de dominar o tal cosmo não consegui... Essa Athena só pode ser sádica!

      Pois é. Essa figura suplicante e depressiva era eu, caindo na areia da praia após falhar mais uma vez. O segundo parágrafo daquele escrito falava sobre a "forma do cosmo". Eu acho que era mais feliz quando achava que cosmo era apenas a energia dourada que eu havia conseguido dominar, mas descobri que não. O cosmo dourado, assim como as armaduras de ouro, era o mais poderoso entre as 88 constelações. Meu ego inflava ao saber que eu era um dos mais fortes, porém neste caso, um grande poder exigia certa persistência, mas na minha vida as melhores coisas costumavam acontecer por acidente...

— Mas que droga! Pensei que já tinha feito o mais difícil. Eu desisto! Maldito Hakurei, maldita Athena!

      Irritado após semanas tentando entender aquele parágrafo, entreguei minha mente à raiva, levantando em um pulo e dando um soco no ar. Soco este que emitiu um poderoso raio dourado no qual rasgou as ondas do mar e acertou um dos barcos vazios que passava a noite dentro da água com redes para capturar caranguejos e camarões.

  — Hahaha! Parece que ficaram com medo da ira do cavaleiro supremo! Então essa é a forma do cosmo... Pois bem, agora estou animado!

      A forma do cosmo consistia em exprimir minhas emoções e desejos, fazendo com que assim, a energia do universo se manifestasse para fora do meu corpo, me dando mais poder que antes, já que eu só conseguia usar o cosmo de perto. Passei mais alguns dias treinando aquilo. O desejo de punir o mal, fazer justiça e erradicar meu pai junto de seus comparsas deu ao meu cosmo uma forma violenta e agressiva. Gostei disso.

       Voltei para casa e fui dormir um pouco. Havia um lado bom e um lado ruim na forma de meu cosmo. O bom era que por ser violento e brutal, eu conseguia realizar afazeres como arrancar frutos de árvores com um soco no tronco, ou até mesmo derrubar a árvore batendo mais forte. É claro, sem que ninguém estivesse perto olhando. O lado ruim é que as tarefas mais delicadas não podiam mais ser realizadas por mim, já que eu tornava isso um desastre. Por outro lado, Bianca era menina e sempre fez essas coisas muito melhor do que eu. Pensando bem, não existia lado ruim!

  — Você ficou forte heim? Por acaso andou malhando?

     Disse Bianca ao me ver carregando sozinho uma cômoda velha para fora de casa.

  — Ah, sim! Sabe como é... Fiz nove anos e... Nessa idade os garotos ficam... Fortes!

      A menina sorriu bondosamente, colocando as duas mãos atrás do objeto e dando uma mínima força para me ajudar. "Esse treino todo realmente me rendeu bons frutos", pensei, orgulhoso. Passada a hora do almoço, me dirigi ao quarto correndo. Com a força que eu possuía agora, finalmente aquela caixa se abriria!

Por Baixo da CascaWhere stories live. Discover now