Meu Nome é Máscara da Morte

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      "Está acabado", pensei. Caminhei pela feira até a floricultura, onde roubei três rosas brancas e um punhal, voltando aos corpos de Bianca e seus pais, onde me ajoelhei tirando meu elmo e coloquei uma rosa na mão de cada um deles, lhes dando um beijo de despedida na testa e dizendo:

   — Me perdoem... Vocês com certeza estão em um lugar bonito agora... Ao contrário de mim que em breve pagarei por tudo...

      Me afastei, ainda vestindo a armadura, peguei de volta minha máscara de caveira e a urna. Então caminhei lentamente até chegar na praia. Sentei-me na parte rasa do mar, começando a chorar como uma criança que acabara de nascer, talvez pela última vez em minha vida.

      Durante meu treinamento, sempre que o pesar batia em minha cabeça, eu ia para dentro do mar chorar. Ver minhas lágrimas caírem naquele imenso oceano fazia parecer que elas não significavam nada diante daquela infinidade de águas. Passei o resto da tarde, o pôr do sol e o começo da noite chorando ali até tomar coragem e mirar o punhal em meu pescoço. Quando este seria furado, percebi aquelas luzes douradas surgindo atrás de mim. Uma mão arrancou o punhal de mim e o lançou longe. Então ouvi aquela voz:

  — Por que choras pequeno guerreiro das estrelas? Pelo jeito eu estava realmente certo e acabamos nos vendo de novo...

      Olhei para trás. Lá estava ao meu lado o rapaz cuja armadura possuía asas douradas, seus cabelos eram castanhos e curtos, e em sua testa estava amarrada uma faixa vermelha; aquele que me deu o pergaminho pelo qual aprendi sobre o cosmo e os poderes da constelação de cancer. Atrás dele, de braços cruzados, estava o outro, cuja capa esvoaçava ao vento, seus cabelos eram longos e loiros e seu elmo cobria quase todo o seu rosto, tendo uma face do lado direito e esquerdo. O segundo então se apresentou:

  — Eu sou Saga de Gêmeos, cavaleiro da terceira casa no Santuário de Athena. A armadura de Câncer lhe escolheu para ser o guardião da quarta casa, então, viemos lhe buscar.

      Buscar? Santuário? Será que eu havia morrido e agora estava delirando? Não, as armaduras deles seguiam o mesmo padrão da minha. Por algum motivo as constelações principais do zodíaco brilhavam intensamente naquela noite, parecendo querer me dizer alguma coisa. Ainda não sabia o que responder. Então, o rapaz que tentava me consolar, se apresentou:

  — E eu sou Aioros de Sagitário. Sei que deve estar confuso com tudo isso, sinto parte da dor dentro do seu coração, mas um cavaleiro deve seguir em frente pela justiça. Nossa Matriarca, a deusa Athena logo irá voltar, e precisamos estar firmes e fortes para recebê-la de joelhos como seus representantes na terra.

      Ir ao tal Santuário com eles... Não me parecia um problema. A partir daquele momento todas as minhas dívidas com a vida estavam quites. Não importava qual fosse, eu seguiria a justiça que fosse capaz de colocar a ordem e se impor sobre esse mundo onde habitava uma raça tão suja. Levantei-me e olhei para os dois, respondendo de forma um pouco brincalhona, escondendo meu sofrimento:

  — Eu não tenho nada a perder mesmo, aceito a oferta de vocês.

      Aioros e Saga encararam um ao outro nos olhos, mas logo voltaram a me fitar. Aioros forçou um sorriso e coçou a nuca, dizendo meio sem jeito:

  — Bem... Antes de irmos, qual seu nome, pequeno cavaleiro?

      Meu nome. De fato, eu não sabia meu nome... Peguei a máscara de caveira e por um instante olhei para ela. Daquele momento em diante, que as ondas levassem meu passado e que meu futuro fosse em devoção da salvação deste mundo, como o sonho de minha mãe. Eu puniria aqueles que cruzassem meu caminho e fossem contra a justiça, puniria todos com a morte. Lancei a máscara longe no mar. As ondas aos poucos foram levando-na para distante. Levantei o olhar para a constelação de Câncer e pensei...

      Os maiores então sorriram. Gêmeos aproximou-se e colocou sua mão sobre meu ombro, olhando para mim e dizendo com sinceridade:

  — De agora em diante, sua família são os cavaleiros de ouro, aguardando pela volta de nossa Deusa. Seja bem vindo entre nós, nobre cavaleiro!

      Chegando ao santuário, naquelas montanhas que pareciam tocar a lua, segui pelas escadarias. A primeira casa, áries, era guardada por um homem estranho de longos e lisos cabelos, suas sobrancelhas eram ovais e seu sorriso limpo. Este acenou com a mão, cumprimentando Saga e Aioros, também me dando Boas vindas:

  — Eu sou Mu de áries, o conhecedor da essência das armaduras. Seja bem vindo em nome de Athena, amigo.

      Subindo mais longos minutos de escadaria, passei pela segunda casa, touro. Um garoto muito alto e forte retirava seu elmo. Ele era feio, mas muito simpático. Cumprimentou com um sorriso aberto a todos e também me deu as boas vindas:

  — Sou Aldebaran de touro, seu companheiro. Haha! Bem vindo!

      Ao subir mais escadas, chegando à terceira casa, gêmeos, Saga se sentou, despedindo-se de Aioros e de mim, me desejando boa sorte como cavaleiro. Por fim, após mais um lance de escadas, lá estava ela, a casa de cancer. Entrei e contemplei aquela imensidão, aquelas construções ricas em detalhes, que traziam à tona as épocas mitológicas. Enfim, de um garotinho caipira à guardião do Santuário na Grécia, Cavaleiro da casa de cancer. Aioros partiu para sua casa zodiacal, que por sinal era uma das últimas, deixando me sozinho por um momento.

      Algo parecia faltar naquelas paredes tão vastas; durante anos treinei por aquilo. Invoquei todas as almas daqueles que eu havia matado até o momento. Aprisionei todas nas paredes, em forma de cabeças que expressavam pavor e sofrimento. Eles seriam eternamente meus réus e suas almas ficariam a vagar por ali sem descanso durante toda a eternidade. De agora em diante, todos os vermes que eu matasse teriam o mesmo destino.

       Exausto, caí de joelhos. Senti aquele perfume adentrar pela porta dos fundos; aquele menino um pouco mais novo, de aparência frágil, cabelos loiros e olhos verdes com uma expressão de admiração, enquanto segurava uma rosa vermelha. Este se dirigiu à mim:

  — Nada mal... Consegue criar coisas com o cosmo assim como eu... Somos realmente parecidos. Também fui guiado pelo senhor Aioros.

      Olhei para ele um pouco espantado. Por que ele não se assustou com aquilo? Fiquei o encarando mesmo assim, mas este persistiu, completando:

  — Oh! desculpe pela gafe! Sou o cavaleiro dourado de peixes, Afrodite de peixes! Qual é o seu nome, menino tímido de cancer? Ficou sem palavras com minha beleza?

      Afrodite sorriu. Mesmo eu tendo criado aquelas ilusões para afastar as pessoas de mim, ele foi capaz de ignorar. Por onde passava, deixava um belo tapete de rosas vermelhas criadas com seu cosmo. Levantei-me então, olhando para ele e após respirar fundo, me apresentei:

  — Eu não tinha um nome antes disso e foi até bom. A partir de agora, seja no Santuário ou em qualquer parte deste mundo, eu sou o caranguejo dourado. Meu meu nome é a máscara que encobre todas as outras colocadas por essa sociedade, a verdade absoluta... Cavaleiro de cancer, meu nome é Máscara da Morte.

Por Baixo da CascaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt