As Definições de Justiça

47 8 0
                                    

      Enquanto isso, muito longe dali...

  — Benedetto!

      Gritou o avarento mafioso a seu braço direito que aparecia sem delongas no escritório de seu chefe.

  — Sim senhor.

      Meu pai olhou para seu subordinado com um olhar ambicioso e gargalhando, exaltou:

  — Parece que nossos rivais, a máfia da Sicília, estão um a um deixando seu posto e fugindo. O relato é que um tipo de 'justiceiro' surgiu colocando ordem... E este carrega uma caixa imensa de puro ouro nas costas... Não há dúvidas!

      Discursou o imundo Napolitano, provocando dúvida em seu subordinado.

  — Ao que se refere, senhor? Seja o que for, estarei ao seu dispor!

      Exclamou o cão de guarda de meu pai, sentindo as mãos sob aquelas luvas brancas tocarem seu ombro.

  — Desde que o finado Padrinho Giuseppe deixou o chefiado da máfia Siciliana, a qualidade daqueles porcos deficientes caiu a ponto deles serem afugentados por um só homem. E esta caixa... É um dos itens mais cobiçados e desejados do mercado Negro. Dizem que apenas doze existem no universo e quem controla uma delas sequer, se torna capaz de controlar tudo! Diga aos homens para abastecerem seus carros e suas armas. Amanhã a Sicília será nossa e o poder desta caixa será meu, com isso toda a Itália terá como rei Lorenzo Cavichioli ! Hahahahaha!

      Don Lorenzo realmente não iria deixar essa oportunidade fugir. Naquela tarde toda sua frota estaria reunida, em todos os carros havia homens fortemente armados. Todos seguiriam o carro principal, conduzido por ele e seu braço direito, Benedetto. O plano por hora estava dando certo.

      Tive horríveis pesadelos e maus pressentimentos durante o curto sono que me fora proporcionado. Sensações de morte, culpa e medo me despertaram quase ao meio dia, suando frio. Felizmente aquela voz suave estava ali para me confortar:

  — Está tudo bem com você, bambino?

      Bambino era o termo usado em referência à mim naquela casa. Ao menos não era aquela palavra nojenta a qual meu avô e meus irmãos me chamavam ou o nome que meu pai havia me dado. Eu era realmente feliz ali. Será que eu precisava mesmo de vingança? Olhei para a menina de cabelos negros e perguntei:

  — Bianca, qual o seu sonho?

      Olhava fixamente para ela. Esta retribuía o olhar um pouco tímida, estalando os dedos e respondendo:

  — Bem... Meu sonho é ser forte e capaz de cuidar de minha família, nunca deixar ninguém sofrer. Acho que quero ser médica! E o seu?

      Sorri para ela, sentando na cama, abrindo os braços, bocejando e dizendo:

  — O meu sonho... Acho que meu sonho está no passado. Não sei dizer se minha vida faz muito sentido, então acredito que meu sonho seja apenas servir à justiça e nunca deixar que os pecados do homem tomem conta do mundo.

      Esta abriu um largo sorriso, dando um soquinho carinhoso em meu braço e logo pegando um travesseiro, afirmando:

  — Então quer ser o justiceiro... Bem... Se quer mesmo vencer o mal, terá de vencer meu travesseiro da justiça! Tome!

      Ela me acertou em cheio, embora não tivesse doído, apenas revidei com um ar de brincadeira. Acabamos entrando numa guerrinha de travesseiros que por sinal nos rendeu altas risadas. Ao fim nos jogamos no chão, cansados e ofegantes, caçoando da cara um do outro. Esta cochichou em meu ouvido após beijar minha bochecha:

Por Baixo da CascaOnde histórias criam vida. Descubra agora