O Despertar do Caranguejo Dourado

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      A armadura sagrada por fim havia me envolvido. Éramos um só, todo aquele treinamento que tive ao longo dos anos havia me proporcionado um grande poder, tal poder que era maximizado pela energia dourada emitida pela armadura. Meu pai disparava várias rajadas de tiros de metralhadora em minha direção, mas nenhuma das balas sequer me atingia pelo fato de serem todas desintegradas pela aura de ouro ao meu redor, tal como um meteoro na atmosfera da Terra. Seus capangas sacavam suas armas e começavam a atirar desesperadamente, mas nada adiantou. Suas munições acabaram e o espanto tomou conta das faces de cada um dos mafiosos.

      Era aquele poder que eu desejava. A capacidade de estar sobre aqueles seres mortais rastejantes que não desejavam nada além de satisfazer o próprio ego. Gargalhei de forma sádica e impiedosa, canalizando minha força e olhando para todos aqueles infelizes que mais pareciam animais assustados; gritei com toda minha ira:

  — Morram seus desgraçados! Isso é pela minha mãe, minha família, meus amigos e por toda a crosta de sujeira que molda cada momento de suas vidas miseráveis! Ah!

      Movia-me na velocidade da luz, aplicando golpes tão violentos quanto o mar em fúria contra os capangas de meu pai, que um a um eram jogados longe, batendo com força no que estivesse pela frente; morrendo na hora. Ainda exasperado, olhei para meu pai que urinava nas calças, deixando os pingos caírem por entre suas pernas, que por sua vez, estavam trêmulas, fazendo-o cair de joelhos diante de mim e dizer covardemente:

  — Pietro, está tudo bem! Você é mais forte, merece o poder da caixa, me perdoe, por favor, eu te dou todo o meu dinheiro, tudo o que eu tenho! Deixe-me viver!

      Apertei os olhos, não conseguindo sentir sequer raiva daquele verme, apenas um profundo desprezo misturado de rancor. Dei uma risada sarcástica, apontando para ele meu indicador direito e exclamando:

  — Você nunca mais vai me chamar assim de novo. Durante anos eu aperfeiçoei esse golpe enquanto estudei sozinho sobre o Sekishiki, o lugar para onde vão as almas. Este golpe contém cada gota da sede de vingança que tenho por você, Don Lorenzo de Nápoles. Ondas do Inferno!

      As almas que meu corpo hospedava então se manifestaram. Rapidamente formaram aquelas ondas magnéticas que se expandiam à partir da ponta de meu dedo, indo em direção ao meu pai que estava a minha frente. Em milésimos de segundo ele fora arrastado para o céu. Fechei os olhos e suspirei me teletransportando novamente para aquele lugar, Yomotsu Hirasaka. Depois de tanto tempo, finalmente lá estava eu. Apareci bem ao lado de meu pai, que acordava sobre aquele chão de lama e enxofre que havia sujado todas as suas roupas. As mãos das almas que ainda vagavam, saíam do chão, o arranhando totalmente com garras que lhe provocavam cortes profundos. Este agonizando virava-se e me olhava nos olhos, gaguejando:

  — Onde... Onde eu estou? Ah!

      Apenas o ignorei. Peguei-o pela perna e comecei a arrastar sua alma ainda viva e em sofrimento por aqueles campos mórbidos repletos de chamas verdes que o iluminavam. Este olhava para a colina onde as almas desencarnadas saltavam para seu destino final, percebendo que seus companheiros mortos caminhavam na direção do buraco. Gritava por seus nomes de maneira suplicante:

  — Benedetto! Calvino, Damiano, Isidoro, Basílio, alguém! Parem de andar para esse buraco feito imbecis, por favor, me ajudem!

      Olhei para a cara dele, sacudindo a cabeça como um sinal de que não iriam fazer nada. Continuei arrastando-o da forma mais dolorosa possível, passando pelas partes onde havia mais rochas e mãos saindo do chão, para que ele sofresse ainda mais. O mesmo não parava de gritar, chorar, rezar, tudo ao mesmo tempo de forma que nem ele mesmo sabia o que estava fazendo em meio à toda aquela dor e agonia. Após alguns minutos arrastando-o, cheguei à entrada do poço para o mundo dos mortos, pegando-o pelo pescoço. Olhei naqueles olhos pela última vez, apertando sua garganta, escutando aquelas últimas palavras sufocadas, misturadas de um riso cínico:

   — No final eu... Venci... Mesmo tendo fugido de mim... Meu sangue vive... Em você... Fez com que todas aquelas pessoas morressem só pra ter o doce prazer... Da vingança... Meu filho! Você é tão cruel ou até mais que eu... Levou a mim e ao seu avô à morte.

      "Não, eu não sou como ele! Já basta!", pensei, apertando mais seu pescoço e olhando para o fundo daquele buraco. Disse em um tom frio, porém cheio de ódio para com ele:

  — Eu não sei o que tem lá embaixo, mas eu tenho certeza de que o peso da sua alma vai te fazer sofrer muito. Apodreça pela eternidade, seu maldito!

      Arremessei meu pai naquele poço sem qualquer misericórdia em meu coração. Seu último grito ecoou por alguns segundos enquanto ele caía e ricocheteava nas paredes do abismo. Suspirei fundo e limpei minhas mãos, teleportando de volta para a cidade, onde os sobreviventes já começavam a se mobilizar, recolhendo os corpos de seus familiares mortos ou procurando pelos que também sobreviveram.

Por Baixo da CascaWhere stories live. Discover now