03| "Como poderei retribuir o favor?"

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Corri desde do hotel até ao Parque Yoyogi, numa marcha lenta, mas a verdade é que tenho tido pouco tempo para praticar jogging e comecei a sentir isso a meio do caminho mas não desisti e tentei correr e manter a minha respiração o mais normal possível, o que revelou ser uma tarefa difícil. Todo o meu tempo nas últimas semanas tem sido única e exclusivamente para as minhas ilustrações. Deixei de ir ao ginásio e de praticar jogging. Para além da falta de tempo, também me deixei de me preocupar tanto com isso desde que eu e o Barry terminámos.

O que mais me surpreendeu durante todo o meu percurso corrido foi não encontrar uma única alminha a praticar qualquer tipo de desporto. Será que os japoneses não correm nem fazem caminhadas? Só se viam pessoas a correrem para os transportes por estarem atrasadas, outras apenas caminhavam para os seus postos de trabalho como diariamente o fazem. Existem asiáticos obesos? Se há, certamente não vivem na Ásia.

Que enfadonho!

Tirei os fones dos ouvidos e sentei-me num banco castanho no Yoyogi Park, pousando-os juntamente com o telemóvel ao meu lado. Baixei a cabeça e fui aos poucos recuperando a minha respiração e as minhas batidas cardíacas normais.

Levanto-me pronta a regressar ao hotel quando passa por mim um tipo de fones nos ouvidos enquanto corria.

Primeira impressão: não é japonês.

Julguei ser a única a praticar jogging por aqui, mas de qualquer forma, o tipo não era japonês. Como sei? Bom, não tinha aquele cabelo preto - preto como os japoneses. Obviamente que também o podem pintar, mas não parecia de todo japonês. Deus, mas o que estou eu aqui a pensar?

O tipo deixa cair qualquer coisa branca do bolso do casaco preso à cintura sem dar por isso e continua a fazer o seu percurso a correr.

Não faço ideia do que seja, no entanto, pode ser importante. Eu também iria gostar que me devolvessem alguma coisa que eu perdesse.

Apanho o objeto que me parece ser uma bomba de asmático e corro até ao indivíduo de forma a ficar ao seu lado e só ao final de um bocado é que ele decide abrandar a sua velocidade e olhar para mim. Retira um dos fones dos ouvidos e faz uma expressão de confusão.

Segunda impressão: não é mesmo japonês.

Terceira impressão: é moreno, de cabelos castanhos nem demasiado claros nem escuros.

Os seus cabelos estavam desalinhados e brilhavam sob o sol.

A íris dos seus olhos é castanha. O seu rosto não barbeado, é perfeito. Os seus olhos dizem tanto, porém, é uma nuvem de desconhecimento para mim.

De repente, pensei na sorte que a mulher que acorda ao seu lado todos os dias tem ao encontrar este olhar mal abra os olhos. Estou fascinada.

- Sim? - ele pergunta em japonês com a sua prenuncia inglesa tirando-me do meu entrave repentino.

Quarta impressão: voz leigeiramente rouca e sexy.

Rio-me dele e consigo perceber que fica tenso.

- Eu falo inglês, obrigada.

Vejo o alívio na sua expressão por eu falar inglês. Que idiota! Não se vê logo que não sou daqui?

- Acho que isto lhe pertence. - mostro-lhe a bomba de asma na minha mão e faço um sorriso ao qual não é correspondido.

- Oh, sim, é meu. Obrigado. - ele pega a bomba da minha mão e os seus dedos tocam na palma da minha mão, causando-me um arrepio. - Como poderei retribuir o favor?

Neste momento já ambos tínhamos parado por completo a nossa marcha de jogging.

O quê? Eu não quero nenhuma recompensa por ter devolvido um objeto ao dono que por sinal parece ser importante.

- Então? - ele pergunta.

Mordo o meu lábio inferior.

- Eu não quero recompensas. Eu apenas vi cair a sua bomba e devolvi-a ao dono. E é uma coisa importante para si. - respondo.

- Foi sensato da sua parte. Agradeço muito. Talvez um café por agradecimento?

Teimoso.

- Ouça, foi uma coisa sem importância. Não é preciso oferecer-me nada. Um "obrigado" basta e já o fez.

- Faço questão. - ele insiste.

Teimoso.

- Eu na verdade tenho que ir.

Eu não tenho nada combinado, mas não posso.

- Porque não? - ele tira-me de novo dos meus devaneios.

- Acabei de chegar e preciso de um pouco de descanso.

- Cinco minutos. - ele pede e vamos caminhando até à saída do parque. - Cheguei ontem à noite. - ele confessa-me.

- Férias? - pergunto.

- Não.

Chegamos ao final do parque e cada um seguiu o seu caminho. O tipo não insistiu mais o que me alivia bastante porque iria ficar sem jeito de recusar.

Desta vez fui a caminhar para o hotel. Eu tenho que voltar ao ginásio e às minhas corridas rapidamente.

Assim que chego ao meu quarto, atiro-me para cima da cama e penso naqueles olhos.

Verifico o meu telemóvel e não tenho nenhuma mensagem de Paige mas tenho uma da minha mãe a perguntar se cheguei bem. Dou uma resposta rápida a dizer que estou bem, que cheguei bem e para ela não se preocupar.

Deixo o meu telemóvel em cima da cama e vou tomar um banho de emersão cheio de espuma.

Saio do banho e enrolo-me no robe de banho do hotel. Deito-me assim mesmo na cama sem me preocupar em vestir roupa interior ou qualquer outra peça.

Fechei os olhos por o que me pareceram cinco minutos e ao final de um bocado batem à porta. Resmungo e levanto-me.

- Hey dorminhoca! - Thomas dá-me um beijo e entra no meu quarto.

Fecho a porta e caminho atrás dele.

- Espero que estejas melhor. - digo.

Ele sorri.

- Sim. Os teus comprimidos milagrosos, um banho e um pouco de descanso fizeram sem dúvida muita diferença. - ele responde. - A tua corrida foi boa?

Oh sim.

- Sim. Foi agradável. E não me perdi.

Ele dá um riso.

- Vinha convidar-te para almoçar.

Almoçar? Ainda agora me deitei.

- Que horas são? - pergunto.

Ele olha para o relógio de pulso.

- Vinte para as três. - responde.

O quê? Dormi todo este tempo?

- Pensei que fosse mais cedo. - tiro umas jeans de ganga da mala e uma blusa simples e umas sandálias rasteiras da mala e corro para a casa de banho. Só quando chego à casa de banho é que me lembro que preciso de roupa interior, então volto atrás e escolho uma lingerie branca e volto à casa de banho. - Aceito o teu convite para almoçar. Eu apenas fechei os olhos cinco minutos e de repente são três da tarde? - digo da casa de banho e visto-me.

Thomas apenas ri do meu stress mas não diz nada.

Faço uma maquilhagem leve e deixo os meus cabelos soltos e volto para o quarto.

- Se dormiste tanto é porque precisavas.

- Bom, talvez. - respondo enquanto calço as sandálias. - Estou pronta.

- Fantástica, como sempre. - ele rola os olhos por mim e levanta-se da poltrona perto da janela.

- Vamos almoçar onde?

- Bem, há de ser almoço meio alancharado. E será surpresa, Miss Renner.

Reviro os olhos e saímos do meu quarto.

Amor & ObsessãoWhere stories live. Discover now