23| Preservativo.

131 9 1
                                    

[Liam]

É extraordinário, ou talvez seja ainda melhor, porque a tenho deitada ao meu lado.

Sorrio sentidamente. Ela tem a cabeça encostada ao meu peito, enquanto eu descanso o meu queixo na sua cabeça coberta de cachos loiros. Ouço-lhe o coração a bater e o som da sua respiração, a sair pelo nariz num movimento regular e tranquilo.

Compreendo que era exatamente isto que queria desde que soube da sua existência, desde que lhe pus os olhos em cima, e tudo isso se tem vindo a comprovar nas últimas semanas, contudo não me sinto descontraído, porque tenho medo que ela se vá embora, desapareça pela porta fora e nunca mais volte.

- Querida, acorda. - digo, plantando alguns beijos nos seus cabelos que descansavam pela sua testa.

Ela adormeceu nos meus braços depois de a ter trazido para a cama. Creio que talvez também tenha adormecido, a dado momento, mas só consigo pensar nela desde ontem à noite e, se adormeci ou não, nunca saberei. A única coisa em que me consegui concentrar foi nela a dormir nos meus braços sob a claridade da cidade.

Ela resmunga um protesto e rola para ficar totalmente em cima de mim, o corpo envolto no lençol branco e o cabelo loiro completamente desgrenhado. É uma das melhores visões que um homem pode ter e desejo para que a possa ter para o resto da vida.

- Oh vá lá, amor... - ela diz e o meu coração bate com força ao ouvi-la chamar-me assim. - Vamos passar o dia todo a dormir.

Inclino-me e pouso os meus lábios nos dela, segurando-a pelos quadris com uma mão de cada lado.

A Victoria sorri com doçura, os olhos azuis a cintilar com aquela inocência de quem acaba de acordar.

Coloco-a ao meu lado e levanto-me após a beijar nos lábios. Visto os meus calções que estavam no cadeirão ali ao lado e sento-me na cama.

Ela estende-me os braços.

- Receio que tenhas de me levar ao colo para tudo o que é lado. - declara.

Seguro-lhe nos braços e ela senta-se na cama.

- Não tenho qualquer problema com isso. - respondo rindo. - Mas já agora qual é a razão?

Ela dá-me um beijo no nariz.

- Porque me parece que não consigo andar.

A compreensão multiplica o meu sorriso.

Ela começa a levantar-se da cama, deixando cair as pernas sobre o lado do colchão, revelando a sua nudez, e vejo-lhe o desconforto no rosto.

- Oh, merda, querida, lamento tanto! - lamento mesmo. Devia ter ido com mais calma e cuidado, mas nada foi sexo. Foi tudo amor, e saber que fui eu quem a deixou assim, faz-me sorrir.

- Isto não é para massajar o teu ego sexual - ela diz sorrindo. - mas fui tão bem fodida como nunca o tinha sido.

Rio alto, atirando a cabeça para trás.

- Eu não te fodi, Victoria. Eu fiz amor, contigo. - declaro. - Banho? - ela balança a cabeça negando.

Pego numa camisa minha e visto-lha. Levanto-a cuidadosamente nos braços, com ambas as pernas sobre o mesmo braço, em vez de ela enlaçar as suas pernas à volta da minha cintura, dado ao seu "estado".

- Estou definitivamente fora de serviço até amanhã. - ela informa.

- Parece-me bem - respondo-lhe com uma expressão suave. - Também não te deixaria fazê-lo.

Dou-lhe um beijo na testa, desço as escadas com ela ao colo e levo-a até à cozinha, onde a sento com cuidado num dos bancos altos ao balcão.

Parece um sonho tê-la sentada na minha cozinha, vestida somente com a minha camisa com uma noite tão incrível como a anterior.

- O que queres comer? - ela encolhe os ombros.

Preparo-nos uma omelete de cogumelos, espinafres e queijo magro, com fatias torradas de pão integral, com sumo de fruta natural.

Observo-a a comer e incapaz de não o fazer, sorrio. Ela é tão delicada até quando está a comer. Os seus movimentos são calmos e cuidadosos. Como poderia eu não amar esta mulher?

Mais cedo ou mais tarde, terei que abordar o assunto que ambos temos evitado desde ontem: Barry. Estou seriamente preocupado em relação a ela, à segurança dela e a maneira que isto a pode afetar. Terei que lhe dizer que ela tem que apresentar queixa contra aquele psicopata doente.

- O que foi? - ela apanha-me a observá-la.

- Amo-te. - as minhas palavras nunca foram tão sinceras quanto ao que sentia por uma mulher. Os meus sentimentos nunca foram tão fortes pela Miranda como são por esta linda mulher ao meu lado. Nunca nenhuma mulher fez o meu coração bater como se fosse explodir. Só ela.

Forma-se um sorriso nos seus lábios carnudos e delineados.

- Eu amo-te mais. - ela devolve.

- Isso é impossível, porque eu amo-te mais.

Ela ri e é um som tão agradável de se ouvir.

- Amamos os dois mais.

Ela termina a sua refeição e limpa a boca ao guardanapo.

- Preciso de te dizer uma coisa. - comento.

- Então diz. - ela tem agora toda a sua atenção em mim. - Sou toda de ouvidos.

- Eu não usei preservativo ontem.

- É isso? - ela dá uma pequena risada. - Eu sei. Eu tomo a pílula. - ela confirma as minhas suspeitas. -  Já sabes que não posso ter filhos. - isso deixa-me triste. Ela perdeu um bebé.

Lembro-me dela falar acerca disso.

- Tu estiveste grávida... - digo.

- Sim, mas eu tenho problemas nas trompas, e isso diminui muito as chances de engravidar. A minha gravidez era etópica... - ela diz absolutamente derrotada. - Nunca te poderei dar filhos.

Eu estou aqui desorientado sem saber como a consolar e ela está preocupada sobre não me puder dar filhos?

Levanto-me e encaixo-a nos meus braços. Sinto o seu coração acelerado bater enquanto afago as suas costas.

- Não vou dizer que está tudo bem, porque sei que isso não vai tranquilizar o meu coração e tampouco o teu. Eu sei que é algo que tu queres muito e haverás de ter. Existe tratamentos, existe a adoção, havemos de encontrar uma solução no momento certo. - deposito um beijo demorado no cimo da sua cabeça e ela faz uma aspiração profunda.

- Então não te queres separar de mim? - afasto-me o suficiente para encará-la.

Separar-me dela? Havemos de ultrapassar isto juntos.
Só há uma forma de lhe comprovar que não me vou separar dela.

- Casas comigo?

Ela afasta-se de mim, ficando com as costas totalmente eretas. Ela fita-me alguns instantes e depois dá uma risada.

- Isso é sério? - ela pergunta com aquelas puras piscinas azuis arregaladas.

- É claro que é. - respondo.

Ela leva as mãos à boca e deixa escapar um suspiro.

- Falta o anel. - eu digo-lhe num meio sorriso. - Mas eu estou a falar mesmo...- ela interrompe-me.

- Eu digo sim. - o quê? - Vou esperar que faças o pedido novamente daqui a uns anos, mas a resposta vai ser sempre sim.

- Que mal tinha se fosse agora?

- Agora quando?

- Amanhã, na próxima semana ou no próximo mês? - agora que penso nessa possibilidade é sem dúvida uma grande ideia.

-  Isso é loucura. - ela comenta.

Amor & ObsessãoWhere stories live. Discover now