08| Quem é ele?

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- Falta muito para o fim, querida? – a senhora Meyer questiona, obviamente curiosa.

Levo as chávenas de chá para a cozinha passando-as por água e coloco-as no escorredor.

- Não, talvez consigamos terminar o livro na próxima semana.

A senhora Meyer é uma senhora com 83 anos, que infelizmente perdeu o seu marido há muitos anos devido a um acidente trágico de carro. A idosa mora numas casas abaixo da casa dos meus pais. A minha mãe costuma fazer-lhe as refeições e ajudá-la na sua higiene, leva-a às consultas e também gosta de a levar a passear. Tristemente, esta senhora não pôde ter filhos, mas considera a minha mãe como filha e a mim e Christopher (o meu irmão) como netos.

Ela tem uma gata com o pelo nos tons de cinza chamada Emy e um cão com pelo totalmente preto e brilhante chamado Joli. São os animais mais adoráveis do mundo, só dá vontade de os apertar como se fossem peluches.

83 anos para esta senhora não são nada. É vaidosa e ainda se movimenta bem com a ajuda da sua bengala com brilhantes. Tem olhos azuis e o seu cabelo está completamente grisalho mas encaracolado. Ela sabe o que dizer em qualquer situação, tem sempre uma palavra amiga a dizer, não julga. É tão bom puder conversar com ela. Transmite-nos uma calma e uma paz incrível.

- Já escolheu o próximo livro que quer que lhe leia, senhora Meyer? – eu interrogo aconchegando-a melhor no sofá com as almofadas feitas pelas suas próprias mãos.

- Não, querida. Acho que vou deixar ao teu critério. – ela responde com um sorriso radiante.

- Fica bem? A minha mãe virá mais tarde, e eu prometo que tenterei vir mais vezes. – dou-lhe um beijo na bochecha e ela puxa-me contra o seu peito, abraçando-me carinhosamente.

- Vai com Deus, meu amor. Não te esqueças que gosto muito de ti. – ela solta-me dos seus braços.

Pego na minha mala onde coloco o meu telemóvel e de onde tiro as chaves do carro.

- Eu também gosto muito de si, senhora Meyer. – despeço-me dela e caminho até ao carro.

Ligo a ignição e conduzo até casa. Odeio o facto de ter que conduzir ao final do dia. O tráfego é horrível. É a hora que toda a gente sai do trabalho, é a hora que os centros comerciais fecham, e é a hora que a confusão se instala. Acabo por perder mais tempo no trânsito do que num centro comercial. Isto é surreal.

Estaciono o carro e caminho até casa. Abro a porta, pouso a minha pasta e a mala no cadeirão à entrada e descalço os meus sapatos.

Chego à sala e vejo alguém a folhear o meu bloco de desenhos. Mas que merda!

Pouso os sapatos perto da porta fazendo exatamente o barulho que pretendia.

- Chris...

O meu irmão vira-se para mim encontrando os meus olhos.

- Vicky! – ele atravessa a sala para me abraçar.

Permito que ele me abrace. Odeio o facto de ele ser mais alto e eu ter que me colocar na ponta dos pés para consegui abraça-lo adequadamente. É o meu irmão, caramba. Eu tinha saudades dele.

- Por que não me disseste que vinhas? Quando chegaste? – bato-lhe no peito fazendo cara feia.

Eu não estou chateada mas ele podia-me ter dito que vinha a Inglaterra.

- Cheguei esta manhã. – ele confessa.

- Tu és um filho da mãe! Espero que o saibas.

Ele ri.

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