Capítulo 4

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– Pai?
Não podia acreditar que ele tinha voltado depois de tanto tempo, não era possível que ele voltara pra estragar a vida que construímos sem a presença dele.
– O que você quer aqui?
– Eu voltei pra casa.
– Voltou? Depois de quanto tempo? – me irritei. – Dez anos?
– Pedro... – ele abaixou a cabeça.
– Olha, não quero a sua presença, você abandonou a minha mãe e sumiu!!!
– Mas eu voltei. – o cara tentou me abraçar.
– Vai abraçar seus filhos bastardos!
– Não fala assim dos seus irmãos. – Fernando se ofendeu com o que eu disse.
– Eu tenho coisas da escola e do curso pra resolver, tchau.
– Manda um beijo pros seus irmãos.
– Eles acham que você está morto, Fernando!!!
Segui pra casa e pensando por que ele iria querer aparecer depois de dez anos, a presença dele já não era mais necessária.
Cheguei em casa e tentei evitar minha mãe o máximo, mas mãe tem o dom de saber quando um filho está escondendo alguma coisa.
Corri escada acima, deixei minhas coisas no quarto e fui pro banho eu precisava disso e sim precisava de ajuda com essa história do retorno do meu pai.
Saí do banho enrolado na toalha e minha mãe me encontrou no corredor e eu não estava a fim de conversar principalmente porque ela devia ter notado a minha distância naquele fim de tarde.
– Pedro, quero falar com você.
– Não dá, tenho umas coisas para fazer.
– Pedro Augusto, vem falar comigo ou volto aqui com a panela de pressão.
– Mais tarde, pode ser?
Corri pro quarto, vesti uma roupa qualquer e liguei para falar com os "Só" sobre o ocorrido; às vezes eles poderiam me ajudar. Disquei o número de Bernardo e ele atendeu rapidamente:
– Tem um pobre ligando pra mim...
– Cala a boca Super Cãomem, a parada é séria.
– Eita tio, calma ai...
– O quê?
– Vamos fazer conferência, vou ligar pra Gioconda e você coloca a Linda na linha.
– Certo.
Adicionei uma outra chamada enquanto deixei Bernardo em espera e coloquei os dois em conferência, ao mesmo tempo ele fez o mesmo com Gioconda.
– Fala, Pedro.
– Sou eu, Linda. - Bernardo brincou.
– Ah, Super Cãomem... – o tom de voz dela mudou completamente.
– Mentira, Linda, sou eu mesmo! Estamos em conferência.
– Por quê? - ela e suas perguntas.
– Preciso de ajuda.
– CHEGUEI NESSA PORRAAA, SEUS VAGAIS. - Gioconda entrou causando como sempre.
– Certo, vou direto ao assunto – comecei. - Meu pai voltou à cidade.
– Você tem pai? – Bernardo perguntou.
– Tenho, sua anta. Mas falamos pros meus irmãos que ele morreu.
– Mas eles têm o direito de saber que têm um pai - Linda disse.
– Um pai que some durante dez anos, Linda?
– Uau.
– Pedro, sua mãe já sabe? – Gioconda perguntou de forma calma.
– Não.
– Então você deve falar para ela.
– HAHAHAHAHAHAHAHA – Bernardo soltou uma gargalhada.
– O que foi isso, seu peste? – perguntei.
– Minha irmã caiu na esteira.
Neste momento esquecemos o assunto da volta do Fernando e começamos a rir e já fui contando da mulher que caiu no ônibus e também a outra que pisou no buraco e se estabacou no chão. Ficamos rindo à toa depois disso e Gioconda já nos deixou avisados que estava com os nossos nomes da gangue prontos, incluindo o da Linda que era um membro novo no grupo.
Depois de desligar, me juntei aos meus irmãos na sala e fui assistir filme, porém eles estavam assistindo desenho e eu me interessei, até porque eu sou apaixonado por desenhos. Eles cantavam a abertura e faziam os gestos, era uma comédia assistir com eles; eu entrava na brincadeira e começamos a cantar.
– CALA A BOCA! – gritou minha mãe.
– Eita mulher - falei.
– Eu quero assistir e não ouvir vocês! Fechem essas bocas.
– Aí credo, não pode nem cantar mais – reclamou minha irmã.
– Fui – falei ao levantar do sofá e ir pro quarto.
Subi as escadas e entrei no meu quarto e lá estava ele: Marrom, o gato. Fiquei navegando na internet e brincando com o felino, eu gostava da companhia dele.
Neste momento vi postagens da Ângela, a ex-namorada de Bernardo, no Facebook onde ela humilhava Violet. Fui checando o histórico e vi que aquela não era a primeira vez que isso acontecia, era um histórico grande de cyber bullying e eu me perguntava como a Violet estava suportando tudo aquilo calada. As coisas estavam muito graves, o emocional dela com certeza deveria estar destruído por trás daquele sorriso tímido dela. ainda bem que Bernardo estava se aproximando dela, ele mesmo sendo um idiota seria a companhia perfeita para ela.
Eu não poderia esperar menos dele e ao pensar nisso me lembrei do fato de que quem deu a ideia de colocar laxante na água foi de um tal de Aquer. Corri até meu celular e chamei ele no WhatsApp:
– Bernardo, quem é Aquer?
– Hey Pedro, por que tanto interesse no Vitor?
– Então o nome dele é Vitor?
– Sim e ele é um amigo que conheci no futebol depois que você passou a fazer aquele curso.
– Bernardo, não tenho culpa se minha mãe me colocou neste curso.
– E eu não tenho se você não tem tempo para os amigos.
– Sério, Bernardo? – me irritei. – Vai mesmo me culpar por estar fazendo algo pra crescer na vida? Mesmo que contra a vontade?
– Você só me ligou pra saber quem é Aquer, agora você já sabe.
– Velho, não começa com o drama!
– Não é drama, meu melhor amigo passa a fazer um curso e simplesmente não tem tempo mais pra mim.
– Bernardo, você notou que foram apenas dois dias de curso até agora? -– mantive a calma. – Imagina até o meio do ano.
– Não me importa.
– Eu só preciso me organizar nessa nova rotina, Super Cãomem.
– Boa noite Pedro.
– Mano? Vamos brigar por motivo fútil?
– Não estou brigando com ninguém. Vou jantar e depois vou pra cama, cara.
– Então beleza.
Não acreditei que eu tinha começado uma briga com meu melhor amigo por um motivo fútil: ciúmes dele estar arrumando um outro amigo.
Arrumei minhas coisas da escola do dia seguinte e será que Gioconda finalmente iria nos batizar com os nomes? Assim eu esperava pelo menos.

Só o Nome.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora