Capítulo 6

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A minha primeira reação foi essa: eu não sabia se deveria me sentir bem ou chocado. Claro que o garoto havia me ameaçado, porém isso não era motivo para que eu desejasse a morte dele, pois eu não era alguém sem coração e entendia a dor dos outros.
Levantei do sofá e fui em direção à cozinha onde estava a minha mãe, ainda em estado de processamento de noticia. Ela estava terminando o almoço e não demorou muito para que ela notasse que a minha fisionomia estava diferente.
– Pedro, o que aconteceu para estar com essa cara? – perguntou ela.
– É... Um avião caiu indo para o Nepal!
– Uma tragédia, não é mesmo?
– O amigo de Bernardo estava naquele voo.
– Ai Jesus, como esta o Bê com isso? – perguntou ela, já toda preocupada.
– Ainda não sei, acredito que ele ainda esteja dormindo.
– Vou ligar já para a Rosa! – disse apressada.
– Nem pense nisso – a impedi de fazer o que desejava.
Ela ao terminar o almoço se serviu e eu logo em seguida e assim comemos em silêncio. Enquanto eu comia ficava imaginando se deveria falar pra ela ou não sobre o retorno de meu pai; eu achava muito estranho ele não ter procurado ela ainda ou ele já havia feito isso e ela estava mantendo isso em segredo da mesma forma em que eu estava fazendo para evitar a minha irritação. Ela sabendo muito bem o que eu achava principalmente depois de anos atrás ela cogitar a ideia de aceitá-lo de volta. Já que estávamos a sós resolvi sondar:
– Mãe, andou acontecendo algo de diferente esta semana?
– Não filho, por quê? – ela ficou curiosa.
– Eu te achei abatida, apenas isso – para todo caso, essa desculpa estava feita.
– É só cansaço de trabalho, meu filho – sua feição era de cansaço mesmo.
– Descanse.
Eu era observador e ela não havia esboçado nenhuma reação a minha pergunta e cheguei a conclusão de que ele não havia aparecido cara a cara com minha mãe. Subi para meu quarto e separei uma roupa e logo depois fui para o banho, precisava me encontrar com Bernardo para nossa sessão filmes idiotas do fim de semana, ou para jogar vídeogame, mas eu já sabia que isso não aconteceria depois que ele soubesse da noticia.
Tomei meu banho, me vesti e desci para me despedir de minha mãe que se encontrava na sala assistindo. Depois de pegar minha bicicleta, que estava encostada na garagem, segui em direção a casa do meu melhor amigo.
No caminho eu fiquei imaginando como iria conciliar tudo isso de uma vez, ajudar o Spice Boy a passar por isso, mesmo tendo a Violet eu me sentia na obrigação de ajudá-lo. Ele fez o mesmo quando Fernando partiu, o outro seria contar a minha mãe sobre o retorno do traidor a cidade. Eu precisava resolver isso o quanto antes.
Chegando na casa dele eu tinha que tomar a seguinte decisão: gritar o nome dele no portão ou tocar a campainha que era o mais sensato a se fazer, como sou o melhor amigo mais chato que existe eu fiz o favor de gritar.
– BERNARDOOOOO???
– Eita guri, tem alguém te gritando ai no portão – disse Raimundo, o padrasto dele.
– Meu Deus, Pedro – ele fechou a cara para mim. – Tem essa campainha ai pra quê?
– Sei lá, enfeite – respondi.
– Quando toca esse trem, pode ter certeza que é visita pra minha mãe. Entra ai, vagal.
– Vagal não, agora eu sou muito ocupado.
Já dentro da casa, cumprimentei as pessoas presentes e fomos direto para o quarto dele, pois íamos jogar vídeogame e claro, o vídeogame ficava lá. Entrei e admirei um quadro novo que ele tinha exposto na parede, não tinha visto ali da última vez que estive lá então realmente era algo de novidade.
– Pedro, vai escolhendo o jogo ai que eu vou tomar banho!
– Beleza!
– Se meu celular tocar atende, por favor?
– OK!
Ele entrou no banheiro e eu fui colocar o jogo que eu queria jogar, fiz isso e me joguei na cama dele com tanta força que bati a cabeça na quina da janela e com o impacto mordi o lábio de forma que chegou a cortar. Comecei a rir feito um idiota por ter me cortado de forma tão ridícula, era uma coisa que nunca pensei que faria.
Iniciei o jogo e fiquei esperando o Super Cãomen voltar do banho para que pudéssemos joigar juntos.
Meia hora depois, exatamente meia hora depois, o único inútil mais útil que eu conhecia voltou do banho enrolado em uma toalha e começou a se trocar ignorando o fato de ter mais alguém no quarto. Até porque como crescemos juntos nos trocarmos na frente um do outro não havia problema algum para nós.
– Pedro – virou ele pra mim depois de ter vestido uma cueca –, estava eu feliz no banho e me decidi!
– Virou gay? – provoquei.
– Não seu cara de égua – ele riu.
– O que então? – indaguei revirando os olhos.
– Vamos pro cinema! – disse ele sorridente.
– Oi? Nem pensar – fiz questão de discordar. – Não vim preparado com dinheiro.
– Mas não precisamos de tanto assim, Predo.
– Predo? Sério que vai lembrar o pior apelido que já me deu na infância?
– Vamos? Diz que sim!!!
– Com você junto eu acabo gastando demais.
– Eu sei, os amigos servem pra isso – ele ria. – Vai ter um filme legal!
Depois de muito ele insistir eu concordei em ir para o cinema com ele. A minha vontade era de pedir que ele desligasse o celular para que não recebesse a ligação de alguém com essa triste noticia, mas eu já estava sendo egoísta em saber de tudo e não abrir o jogo. Não poderia fazer isso também, além do mais eu não tinha a coragem de passar essa informação.

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