Capítulo 4

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    Na volta para casa mamãe ouvia uma música no volume máximo, a letra era até bonita, mas não suporto música de igreja.

- Mamãe, irei descer na casa da Clara. - digo olhando para a janela.

- Tudo bem amor. - disse e parou o carro.

Mamãe havia trocado o plantão com uma das enfermeiras do hospital, e eu achava isso um saco, quando ela está em casa fica vinte e quatro horas no meu pé me cobrando coisas.
Ela só me deixa ir para a casa da Clara porque acha que ela é crente de verdade.

- Quer que eu venha te buscar?

- Mamãe eu não tenho cinco anos, eu pego um táxi. - disse tirando o cinto de segurança, descendo e fazendo a volta até a causada.

- Não demore muito filha e cuidado. - disse colocando a cabeça para fora da janela.

- Terei. - virei de costas para ela e revirei os olhos. A casa de Clara fica logo na frente, ela mora em um condomínio.

Subo algumas escadas e bato na porta.

- Seu velho nojento! - grita uma mulher de idade. Supostamente mãe de Clara.

- Ahh, vai a merda! - um homem bêbado saiu de dentro da casa e passou por mim cambaleando.

- Vai! Vai seu mala, atraso de vida! - a mulher berrava para o marido.

Assustada fico imóvel observando a cena.

- Senhora... - minha voz saiu rouca e eu logo tratei te tossir para melhorar. - A Ana Clara está?

- Sim, ela está. - adentrou a sua residência e eu a segui.

- Clara! - berrou e ela saiu do quarto em lágrimas. - Essa garota está te procurando. - disse e caminhou para um outro cômodo nos deixando a sós.

- O que houve amiga? - me aproximo e a abraço.

- Eu sou a pessoa mais infeliz do mundo. - chorava.

- Mas o que aconteceu?

Nos liberamos do abraço.

- Meus pais, brigaram mais uma vez, eles brigam quase todos os dias, xingam, quebram tudo, e depois meu pai sai. Eu nunca te contei nada por vergonha, você tem uma vida perfeita, uma família perfeita. - falava em prantos.

- Clara eu sou sua amiga, você pode contar comigo sempre. E... sobre minha vida ser perfeita, não é bem assim. Todos temos problemas.

- Sim Teresa, temos problemas, mas os meus superam o de muitos. Você não tem pais brigando vinte e quatro horas, não vive orando para seu pai chegar sóbrio, não vive pelos cantos da casa chorando por não ter uma família unida, não passa necessidade... Sua vida é perfeita Teresa.

Clara me fez calar no mesmo instante, eu nunca havia parado para pensar nisso. Meus pais são unidos, minha mãe e meu pai são médicos, temos empregados, mansão, piscina, amor carinho... Eu tenho tudo que Clara nunca teve e assim mesmo eu vivo reclamando da vida.

Passo o dia inteiro conversando com Clara, comprei algumas coisas para comermos com o pouco dinheiro que tinha comigo, e a tarde se avançou, são quase oito da noite, está na hora de ir.

- Eu preciso ir agora amiga. - digo após verificar a hora em meu relógio.

- Ah não, vamos fazer algo para nos divertir. Vamos sair?

- Para onde?

- Para a boate "Morys". - deu um sorriso.

- Sério? - ergui uma das sobrancelhas.

Teresa- Uma Garota Quase Cristã- Livro 2Where stories live. Discover now