Prólogo

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Estava em meio a uma nevasca. Ele sabia quais seriam os riscos em enfrentá-la nesse período, quando os poderes dela estavam mais fortes, mas o grande porém era que os dele também estavam, então não mediria esforços até que a derrotasse.

Chegando ao castelo — como ela gostava de chamar, pois se autoproclamava rainha —, os portões se abriram para ele, como se sua visita já fosse esperada. E de fato era. A esse ponto ele já devia saber que esse era o motivo para ela ter feito o que fez.

Ao adentrar a sala do trono, onde ela passava maior parte de seu dia agindo como uma rainha, viu que, de fato, estava aparentando uma. Usando um belo vestido branco gelo, sorriu ao vê-lo.

— Querido Luke, a que eu devo a honra de sua visita?

— Como se não soubesse. — Cerrou os dentes. — Solte-a! Eu sei que a capturou.

— Ah, você diz aquela bastarda? — disse ela com desprezo, enquanto encarava as próprias unhas. — Humanos não recebem honra em meu reino.

— Ela não é humana, pelo menos não totalmente.

— Ela é uma mescla da insignificância humana com o calor insuportável de nossos piores inimigos, por que eu deveria soltá-la? Eu não deveria ao menos mantê-la viva. Eu nunca daria a minha bênção a esse relacionamento.

— E quem disse que eu quero sua bênção?

Eu estou dizendo, sua mãe!

— Você nunca foi uma mãe para mim, nunca! Os Dawcold nunca aprenderam a amar, mas eu tive essa oportunidade, não quero mais ser um de vocês.

— Tem certeza de que é isso o que quer? Porque eu poderia colocar esse castelo todo atrás de você com um estalar de dedos.

— A mais absoluta certeza — respondeu ele, em desafio. — Mas só saio daqui com ela.

— Tudo bem, você pode ir e levar a mestiça contigo, mas sofrerá drásticas consequências no futuro.

***

Tempos depois:

— Você sabe que essa criança nascerá diferente, não podemos escondê-la disso, é o destino dela — ele disse, enquanto acariciava a barriga de sua esposa grávida.

— Mas nós não fazemos mais parte disso, e você seria capaz de fazê-la lutar contra seu próprio povo?

— Eu não sou mais um deles, deixou de ser meu povo quando saímos daquele lugar, meses atrás. — Depois de um tempo em silêncio, percebeu que a mulher estava um tanto estranha, então tratou de perguntar o que houve. — Você está bem?

— Sim... só tem uma coisa que está me incomodando faz algum tempo.

— O quê? — ele indagou, preocupado.

Ela estendeu um envelope selado com o anel de sua família.

— Você disse que cortou relações com sua... quero dizer, com qualquer Dawcold, então eu não te mostrei antes. Chegou no correio há algumas semanas.

Ele pegou o envelope e logo que viu o remetente, sua expressão mudou de preocupação a raiva.

— O que aquela megera quer comigo? — Ele tratou de abrir o envelope, que continha um bilhete em dawcoglifo, o alfabeto dos Dawcold.

Querido filho, sei que não quer que eu o chame assim, mas não me importo. Soube que sua esposa está grávida, mando essa mensagem para parabenizá-los e para te aconselhar a aproveitar cada minuto que puder com ela, não terá muito tempo quando essa criança nascer e roubar toda a sua energia vital.

De sua querida mãe, L. W.

Terminou de ler a carta, mas não disse nada, o ar lhe faltava. Não sabia como explicar à esposa que ele não estaria por perto quando o bebê nascesse, pois o nascimento daquela criança, significaria sua morte.

— O que diz na carta? — ela perguntou, aflita.

Ele a abraçou.

— Na carta diz que 100% da minha energia vital irá para o bebê.

— Isso é impossível! Cada Dawcold concede 50% de sua energia vital, assim como os Ligheat.

— De alguma forma é possível, talvez ela mesma tenha garantido que seja. Embora eu não faça ideia de como. Nunca antes houve um descendente de Ligheat e Dawcold.

— Isso quer dizer que... Não! Eu não posso perder você!

— Tudo bem, não é o fim do mundo, você ainda terá nosso filho, a melhor recordação que eu poderia te dar — disse ele, oferecendo a ela um sorriso triste.

Eles se abraçaram novamente e se permitiram chorar. Durante 9 meses inteiros, eles aproveitaram ao máximo cada momento juntos, até que a criança enfim nasceu e Luke deu seu último suspiro.

Primavera | As 4 Estações [Livro I]Where stories live. Discover now