Primavera | As 4 Estações [Livro I]

Capítulo 21

O frio tomava conta de seus ossos e de sua mente, não se sentia segura em seu próprio corpo, muito menos em sua cabeça, mas estava mergulhada na inconsciência, não havia escapatória. Medo e escuridão a cercavam, mas algo pequeno e reluzente chamou sua atenção, era um floco de neve. Ela o seguiu, não havia outro jeito. Ele a levou até uma porta amarela, então ela entrou. Sua visão foi imediatamente tomada por um clarão e depois uma cena, que no fundo ela reconhecia.

Havia uma mulher que a culpava por algo e depois a atingia com uma faca. Quando olhou para o corte profundo na barriga, que manchava suas roupas de vermelho, não pôde conter o pavor. Depois olhou de volta para sua agressora, procurando entender o motivo que a levou a isso, mas não era mais ela que estava lá, era Jhonny, que apreciava a cena com um belo sorriso no rosto. Nada mais fazia sentido nesse ponto, na verdade nunca fizera, mas em nenhum outro momento Natasha sentiu tanta vontade de gritar, de colocar para fora todo o horror que estava sentindo, então ela gritou como nunca havia gritado antes, e foi só então que percebeu que ele apontava para algo além dela. A garota se virou e viu um espelho, grande, muito maior do que ela própria, mas não era seu reflexo o exibido na superfície lisa do espelho, era o de um homem, um homem de cabelos castanhos e olhos azuis tão frios quanto o gelo. Naquele momento ela teve certeza.

Aquele era seu pai.

***

Depois que o encantamento foi lançado, Natasha ficou inconsciente por alguns minutos, até que enfim retornou.

Ela abriu os olhos e eles estavam azuis, até que piscou e a cor voltou ao normal.

— Me diz que aquilo foi só um pesadelo.

— Ah — Natalia suspirou aliviada — que bom que você está bem.

— O que foi isso que eu acabei de ver? — Natasha questionou.

— Provavelmente foi uma memória. Eu lancei um encantamento para que recupere todas as memórias que foram tiradas de você. Elas retornarão aos poucos, na ordem que seu subconsciente quiser expulsá-las.

— Então quer dizer que os segredos acabaram?

— Eu gostaria que nunca tivessem existido.

— Fico feliz em saber disso, talvez eu te odeie um pouco menos agora.

Natalia sorriu, aliviada. Constatou que, se Natasha estava de bom humor, sua raiva havia diminuído consideravelmente.

— Acho que descobri por que sinto aquilo perto de Jhonny.

— Descobriu? — Natalia arregalou os olhos em curiosidade.

— Eu tive um sonho... na verdade foi um pesadelo. Nele o Jhonny me atingia com uma faca e quando eu me olhava no espelho, eu via o reflexo do meu pai. — Natalia a encarou chocada. — Eu sei que parece loucura eu saber como ele é, mas eu sei que é ele. Pelo que eu soube dessa história toda, nós meio que dividimos o mesmo corpo, o que me preocupa muito, já que ele era um assassino.

— Mas ele deixou de ser quando conheceu sua mãe.

— A conta não bate, porque, pelo que eu fiquei sabendo, ele matou os pais de Jhonny quando ele ainda era um bebê, o que aconteceu depois de Luke conhecer minha mãe. Esse é o motivo, Jhonny o odeia com todas as forças, por isso me matou no sonho.

— Não sei se entendi.

— Eu nunca acreditei nessa coisa de energia, mas acho que faz sentido dizer que nossas energias não se conectam.

— Faz sentido, no mundo Statera a energia é algo muito importante.

— Então essa é a palavra para se referir a tudo isso, Statera?