Capítulo 2

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Todos estavam se preparando para ir à praça ver a banda da cidade tocar, The Hopeful (Os Esperançosos), como tudo naquela cidade era baseado em esperança, os membros da banda decidiram homenageá-la. Eles se reuniriam às 8 da noite e duraria até a madrugada, e como a cidade era pequena, a maior parte dela estaria lá.

Jhonny nunca perdia um show. Enquanto preparava seu chá da tarde, ouvia as músicas antigas da banda e aumentava suas expectativas para a nova música que seria lançada à noite. Estava tão empolgado e ansioso que quase se esqueceu de todos os pensamentos que sempre enchiam sua cabeça. E de repente eles voltaram. Era como se um rio de pensamentos estivesse sendo despejado em um laguinho onde as pessoas observam os patos nadarem, e era como se sua cabeça fosse explodir. De repente a música já não apresentava uma distração tão grande.

Enquanto estava totalmente perdido em pensamentos, a chaleira apitou, o trazendo de volta à realidade. Enfim pôde tomar seu chá, então sentiu os pensamentos evaporarem como água aquecida.

O chá sempre o relaxou, sempre foi sua bebida favorita. Ele sabia que isso tinha a ver com sua linhagem. Chá era a bebida perfeita para pessoas como ele. Natural, quente e relaxante.

— Jhonny! — uma voz ecoou do lado de fora.

Era seu amigo, Louis. Jhonny abriu o portão e perguntou:

— E aí, cara, tudo bem?

— Sim, só quero saber se você vai lá na praça hoje, no show da banda.

— É claro, não perderia esse show por nada.

— Então nos vemos lá, estou muito ansioso pela nova música. Heitor me deixou ouvir um trecho, parece ser muito boa. — Heitor era cunhado de Louis e amigo dos dois, além de baterista da banda.

— Parece mesmo, também ouvi.

— Janelle vai? — perguntou Louis, curiosamente.

— Não, cara. Você sabe como ela é, não é o tipo de lugar que ela frequenta.

— É, entendo. Eu meio que tenho medo dela, então fico um pouco aliviado.

Ambos riram, depois despediram-se e Louis foi embora. Então os pensamentos de Jhonny assumiram o diálogo.

***

Aquele era um dos típicos dias em que todos se reuniriam na praça e ela ficaria em casa. Não que isso fosse ruim, já que era uma escolha dela, não tinha como reclamar.

Por mais que gostasse de ficar sozinha e sua personalidade tendesse a afastar as pessoas, Janelle nunca se sentia bem nesses dias específicos, porque ela sabia que durante toda a noite todas as pessoas que gostavam dela a esqueceriam completamente. Mas ela não podia exigir que seu namorado ou sua tia abandonassem o evento que tanto amavam para lhe fazer companhia, por mais que explodisse por dentro ela nunca faria isso.

Ela sempre escapava dos shows dizendo que não gostava de música, mas na realidade ela sabia que isso era impossível, ela só não gostava de estar em um lugar lotado de gente, isso sempre a deixava nervosa. E isso nunca foi dito a ninguém porque seria o mesmo que admitir que ela tinha medo, e as pessoas não podiam saber que Janelle Solano sentia medo de algo, pois isso destruiria toda a imagem que construiu de si mesma durante anos.

Enquanto estava sozinha, ela treinava. Praticar seus golpes era a única forma de não enlouquecer, porque era isso que acontecia quando estava sozinha. Ficar sem as pessoas que gostava a fazia lembrar do passado, de tudo o que a fez sofrer, daquilo que deixou marcas impossíveis de serem apagadas.

Ela não gostava de pensar no passado, tampouco pensava no futuro. Pensar no que podia acontecer embrulhava seu estômago. Ela nasceu diferente da maioria das pessoas, isso colocava uma grande responsabilidade em suas mãos, e mesmo que não fosse obrigada a nada, sabia que, se não lutasse, nunca se sentiria bem consigo mesma. Isso era uma escolha entre lutar ou enlouquecer, ou talvez lutar ou ficar parada vendo o mundo acabar, porque era isso que iria acontecer se pessoas como ela ficassem paradas.

Primavera | As 4 Estações [Livro I]Onde histórias criam vida. Descubra agora