Capítulo 5

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Depois de sair da escuridão extrema, Natasha acordou em um pesadelo enorme, ainda pior do que aquele do qual acabara de sair. Ela estava em pé na cozinha, seu sonambulismo havia voltado, mas o mais apavorante naquela cena era o objeto pontiagudo em suas mãos: uma faca ensanguentada. Automaticamente olhou para o seu vestido branco de cetim e havia uma mancha vermelha crescente, na altura de seu abdome.

Ela gritou. Gritou desesperadamente, o máximo que pôde, mas era como se ninguém a pudesse ouvir, como se nada adiantasse, então a dor começou a corroê-la, até que não sentisse mais nada.

***

Natalia acordou assustada, sentia uma forte dor, mas nunca havia sentido essa dor antes. Ao descer as escadas, assustou-se com o que viu, Natasha estava jogada no chão da cozinha, havia uma faca perto de sua mão, estava ensanguentada, assim como o vestido que usava.

Imediatamente correu em direção à irmã, segurou o corpo dela junto ao seu e começou a balbuciar um encantamento em latim:

Que os raios de luz e calor tragam de volta respiração e vida ao seu interior. Que o calor te envolva e o frio desapareça.

Ela soluçava, não suportaria a ideia de perder sua irmã, mas confiava em si mesma para saber que Natasha ficaria bem.

Sua mãe havia acordado e observava a cena, sua expressão era de puro pavor.

— Acha que funcionou? Sua irmã ficará bem?

— Mary? Não sabia que estava acordada — disse Natalia. — Não se preocupe, isso sempre funciona.

— Natalia, você sabe que não precisa me chamar de mãe só na presença de Natasha.

— Sim, eu sei, mas um dia ela não precisará mais de mim, e você também não.

— Querida, nós sempre precisaremos de você, é a nossa família, e nada no mundo vai mudar isso.

— Vocês também são a minha família, mas é assim que as coisas funcionam.

— Isso é uma coisa para se pensar depois — disse Mary, e depois completou: — Agora precisamos nos certificar de que ela não se lembre de nada.

— Mas... você não acha que ela tem o direito de saber?

— Nós já conversamos sobre isso.

— Mas se aquela bruxa está brincando com ela de novo, ela precisa saber.

— Eu nunca quis que ela fizesse parte disso, não é agora que eu vou querer. E se aquela bruxa brincar com a minha filha outra vez, ela verá do que eu sou capaz.

— Tudo bem, mas alguma hora ela vai acabar descobrindo, e será bem pior. — Ela se levantou do chão e foi em direção às escadas, mas parou e virou-se em direção à mãe antes que pisasse o primeiro degrau. — Não deveria haver segredos em uma família. Eu só não vou contar a ela, porque eu acho que é o seu dever, mas eu nunca vou virar as costas pra ela, assim como você está fazendo agora, e como estou fazendo com você. — Assim como foi dito, ela virou as costas à Mary, e seguiu seu rumo pelas escadas.

Mary enxugou as lágrimas que não sabia que estavam caindo, desacreditada do que acabara de acontecer, não conseguia imaginar um mundo em que Natalia não fosse sua filha, sua amiga, que estivesse ao seu lado sempre. Ela precisava recuperar o amor de sua filha mais velha, mas no momento, voltou sua atenção à mais nova e disse:

— Isso é para o seu bem. — Então fechou os olhos e estendeu as mãos sobre o corpo da filha, que estava desacordada, dizendo: — Sol de luz reluzente, faça-a esquecer a dor que ela sente.

Primavera | As 4 Estações [Livro I]Where stories live. Discover now