Capítulo 8

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"Eles são horríveis e implacáveis, tudo fica frio na presença deles, são capazes das maiores atrocidades para conseguirem o que querem, nunca têm piedade de ninguém, assim como não tiveram de seus pais. Eles são frios como o gelo, não têm sentimentos."

Foi o que Jhonny ouviu quando criança, ao perguntar quem fora o responsável pela morte de seus pais.

Ele estava atordoado nos últimos dias, pensando em tudo o que já havia acontecido e tudo o que ainda iria acontecer em decorrência do desejo insano de destruição que moldava aqueles seres. Ele pouco sabia sobre eles, mas não suportaria mais viver em um mundo no qual eles habitassem, por isso tamanha era sua dedicação aos treinos.

Rose e Calvin haviam viajado fazia uma semana e chegariam nesse dia. Jhonny sentia-se reconfortado, pois com eles ali, não teria tanto tempo para pensar em seus problemas, o que ocorria quando estava só.

Depois que ele regou as plantas do jardim de sua casa, a campainha tocou. Jhonny adiantou-se em arrumar sua "pequena bagunça", indo atender logo em seguida, certo de que seus pais adotivos haviam chegado. Mas ao abrir o portão, teve uma grande surpresa.

— Mel? — balbuciou, enquanto ela adentrava sua casa como um raio. — O que está acontecendo?

— Você ainda não saiu de casa hoje? — perguntou ela, andando de forma impaciente de um lado para o outro.

— Não. — Era um dia de domingo, Jhonny não costumava sair aos domingos.

Ela estava tremendo, estava claro que havia alguma coisa muito errada. Melyssa estava sempre muito animada.

— É horrível, está tudo morrendo, é como se o outono tivesse passado na frente do verão na fila das estações.

Jhonny arregalou os olhos, apavorado.

— Você sabe o que isso significa?

— A guerra está próxima...

— Eles estão cada vez mais perto de nos atacar, precisaremos de toda a ajuda possível — concluiu Jhonny.

— Lutaremos ao lado de vocês.

— Ótimo. Pelo menos temos a vantagem de ser primavera.

— É, mas por quanto tempo? Pelo que eu vi hoje, ela não durará muito — disse Melyssa, preocupada.

— Então devemos agir rápido. E se atacarmos primeiro? — sugeriu Jhonny.

— Os Dawcold são espertos, eles provavelmente já têm um plano. Querem essa guerra logo, mas precisam que estejamos no outono para começarem a atacar, então eles planejam adiantar o outono, mas como?

Jhonny tentou ignorar o arrepio que percorreu sua espinha quando Melyssa pronunciou o nome dos terríveis seres que eram a causa dos seus pesadelos, e disse:

— Não sei, mas é isso que precisamos fazer, descobrir o plano deles.

— Sim, eu sei, mas quem decide isso é o Conselho, e nós não somos do Conselho, precisamos contatar Aurora e Flora. Mas sugiro que você vá sozinho ou com Janelle, eu costumo não ser bem recebida em lugares como esse.

— Tudo bem, irei com Rose e Calvin, como Flora é tia de Rose, nos recepcionará bem, o problema é Aurora.

— Faz o que eu falei, leve Janelle.

— Ela não tem muita tolerância com autoridades. Além do mais, ela está viajando.

— Está?

— Sim, viajou ontem, foi falar com a mãe. Nem me pergunte o porquê.

— Certo, você conhece mais alguém que possa ir com vocês?

— Não, mas... — Nesse momento, uma rajada de vento varreu a cidade.

— Precisa encontrar alguém, já não temos tempo.

— Eu sei, mas quem?

Jhonny, nesse instante, viu pela janela uma luz dourada se acender e apagar, a duas quadras dali, e achou aquilo bem familiar.

— Que tal uma jiine? — sugeriu o loiro.

— Uma jiine? Em Hope Path? É muito improvável.

— Não é, eu sei como é energia jiine e eu acabei de senti-la.

— Tudo bem, então vá atrás dela.

— Não é tão simples, ela acabou de se teletransportar, você sabe que as jiines fazem isso.

— Droga, e agora? Como vamos encontrá-la?

— Não faço a menor ideia, mas preciso encontrar um meio.

— Bom, então vai aí pensando, porque eu preciso ir.

— Achei que você fosse me ajudar com isso.

— Nem pensar, Esther prometeu que me pagaria um balde de churros.

— Um balde de churros?! — questionou Jhonny, incrédulo.

— Sim, nunca viu?

— Claro que já vi, você já desfilou com vários desses por aí, eu só estou surpreso que você esteja preocupada com comida em um momento como esse.

— Não existe momento ruim para se pensar em comida, além do mais, eu não quero morrer de barriga vazia. De qualquer modo eu preciso ir, antes que ela mude de ideia.

— Tá bom, vai lá, eu faço tudo sozinho.

— Eu te dei as informações, já é alguma coisa. Mês que vem, se o mundo não acabar, é você quem vai pagar o balde de churros.

— Com certeza eu vou, Melzinha — falou com sarcasmo.

— Não me chama assim, tchau! — Saiu da mesma forma que entrou.

Assim que Melyssa saiu, Jhonny começou a pensar em um modo para encontrar a jiine, quando começou a sentir sua energia com uma intensidade um pouco menor do que sentiu antes, isso queria dizer que ela estava mais afastada, mas ainda assim perto. Foi então que começou a seguir a energia freneticamente, sabia que estava certo, aquela jiine poderia ajudá-lo de alguma forma. A vontade de encontrá-la e de colocar um fim ao império das criaturas cruéis que planejavam destruir seu mundo, o impulsionava. Sabia que não era normal aquele tipo de energia circular pelo seu corpo, nunca sentiu tanta adrenalina, de modo que correu por dezenas de quadras e não conseguiu se cansar.

Olhando ao redor, pôde ver com seus próprios olhos, o terror que Melyssa havia falado. A morte os cercava, toda a cor havia sumido, aquilo o fez sangrar por dentro, mas por mais doloroso que fosse, ele não poderia parar.

Seu celular tocou, por um momento havia esquecido o que estava fazendo antes de Melyssa invadir sua casa com essa drástica notícia, por um momento, havia esquecido que seus pais voltariam logo, e aquele telefonema o fez recordar-se disso. Mas não poderia atender no momento, ele sabia que o racional era atender, mas o que o movia era bem maior que a razão. Era seu destino. Aquele era o início da vida para a qual sempre fora preparado, a vida que sempre esperara e, embora tivesse medo, sempre quisera.

Depois de correr um pouco mais, pôde sentir a energia com uma intensidade infinitamente maior. Ele a havia encontrado, bem no centro da cidade.  

Primavera | As 4 Estações [Livro I]Where stories live. Discover now