Conheci a primeira mulher do mundo

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Abri os olhos. Os fechei novamente. Pisquei diversas vezes seguidas.

Aquilo não podia ser real. Impossível! Nunca em toda minha vida vi algo tão lindo, tão assustador, tão arrebatador. Sentia vontade de chorar, meu peito estava acelerado, não conseguia respirar.

Estiquei o braço para baixo, tentando encostar na visão mais linda do mundo. No entanto, o medo retraiu meus músculos, impediu que eu alcançasse o pequeno pedaço do céu que tinha despencado ao meu lado.

— Respira! — Falei muito, muito baixinho.

Não queria acordar a perfeição estendida no chão de madeira. Queria acreditar que era real, precisava ser real! Se não fosse mais uma ilusão da minha cabeça, o maior sonho da minha vida teria se realizado.

Encolhi as pernas deixando os joelhos encontrarem meu peito. Continuei com um braço meio estendido para baixo na intenção de tocar na beldade. Estava com medo, muito medo.

Talvez se eu tocasse na pequena porção do Paraíso, ela fosse se desmanchar em minhas mãos. Não podia me arriscar! Tinha que ficar quieto, apenas olhando. Mas eu queria tocar nela! Nunca desejei tanto uma coisa como aquilo. Meus dedos tremiam de ansiedade.

Arrastei o corpo pela cama dura. Deixei minha cabeça pender na direção da criatura linda. Deus! Aquilo era uma ilusão. Só podia ser! No mundo real não existe coisas tão lindas.

Mundo.

Nos livros que tenho o costume de ler, mundo é algo enorme. Gigante. Imenso. Mas isso é mentira. Não é assim. O mundo real é tão pequeno, que todos os dias eu ando por todo o mundo. Todinho. Cada pedaço.

O mundo real é dividido em sete pequenas partes. A parte em que eu vivo é o quarto. O mundo tem dois quartos. Um meu e outro do Alex. O mundo tem uma cozinha pequena e feia. Não gosto de lá. Também tem uma sala e uma área de serviço. O mundo também tem banheiro. Dois banheiros!

No mundo existe pessoas. Duas pessoas. Eu e Alex. Ninguém mais existe.

Por isso sei que o pedaço do céu ao meu lado não pode ser real. Era impossível que ela tivesse surgido no mundo. Ninguém nasce assim, do nada. Se bem que... eu não sei como as pessoas nascem. Alex nunca me contou.

A beldade parecia uma pessoa. Uma pessoa como eu, como Alex. Mas tinha algo muito diferente. Aquela era a ilusão mais linda que eu tinha. Nunca vi algo tão real e tão... lindo.

A pessoa não era ele. Era ela. Tinha certeza! Aquele ser bonito não seguia nenhuma característica de um homem. Tinha que ser uma... mulher.

Você sabe o que é uma mulher? Eu sei! Já li sobre isso. Nos livros existem mulheres feias e outras bonitas. Elas são pessoas como eu, mas não são chamadas de homem.

Eu não sei porquê. Não era mais fácil chamar toda pessoa de homem? Talvez fosse pela diferença entre os corpos. Nos livros, falam como se o corpo de uma mulher fosse diferente. Eu só não sei o motivo. Nunca explicam o que é tão diferente!

Costumam ter a pele mais fina do que a dos homens. Ou pelo menos, nos livros elas têm. Elas também têm cabelo macio e a roupa fica diferente no corpo por causa de um volume na frente do peito.

É chamado de seios. Mas não consigo imaginar o que uma mulher poderia ter na frente do peito que fizesse a blusa levantar. Uma vez eu perguntei para Alex o que era. Perguntei como que seios se pareciam. Ele riu de mim e disse que eu não conhecia a melhor coisa da vida.

Então sempre achei que mulher era a melhor coisa da vida. E a mais bonita.

Se a pessoa que eu estou imaginando deitada no chão do quarto for mesmo uma mulher, vou saber que sempre estive certo. Mulher é a melhor coisa do mundo.

O Pequeno pedaço do céuWhere stories live. Discover now