Paraísos não deviam chorar

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Eu estava cansado. Todo meu corpo pedia por descanso. Principalmente minhas mãos. E minha boca. Minha boca doía. Não conseguia sentir meus lábios quando tocava neles.

Eu gostaria de deitar na minha cama. Deitar e dormir. Estava aliviado por finalmente estar no meu pedaço do mundo. Queria abraçar meu corpo. Precisava.

Talvez eu conseguisse esquecer o que fiz com Alex. Esquecer o dia que durou cento e sessenta e oito horas. Queria muito esquecer. Odiava quando ele me obrigava a fazer a brincadeira nele. Não era divertido. Não para mim.

— Você está triste? — Perguntei para o céu. Meu pequeno pedaço do céu.

Ela já tinha dito que não estava bem. Eu queria fazê-la sorrir. Sabia que ela tinha o sorriso mais lindo do mundo. De todo o mundo. Todinho. Precisava ver ela feliz. Apesar de que ela não gostava de mim.

— Vai a merda, Stiles.

Tremi. Apoiei as costas na parede e fiquei olhando para Lydia. Ela estava sentada na cama. Minha cama. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Eu queria secar aquelas lágrimas. Não aguentava mais vê-la chorar!

Paraísos não deviam chorar.

Se ela tinha vindo do céu, caído bem no meu quarto, ela era uma espécie de anjo. Não era? Tinha quase certeza que sim. Isso explicaria como ela era tão linda. Explicaria como seus cabelos eram tão vermelhos e os olhos tão verdes.

— Não fale palavras feias, céu. — Reclamei baixinho. Muito baixo. — Você veio do Paraíso.

Ela olhou para mim. Mas não do jeito que eu gostava. Não da forma que me fazia ter vontade de grudar seus olhos apontados em minha direção. Ela olhou com raiva. O céu estava com raiva de mim.

— Deus! Você.... Está falando sério?!

A voz dela aumentou. A linda voz ficou alta. Encolhi os ombros, olhei para o chão. Vi que o céu ficou de pé. Eu gostava quando ela ficava em pé. Gostava de olhar suas pernas. Mesmo escondidas pela calça. Minha calça.

— E-eu só...

— Será que você é tão burro assim?! Não entendeu nada do que aconteceu aqui? Não viu o que Alex fez comigo?

As mãos dela. As pequenas mãos estavam fechadas em punho e tremiam. Tremiam muito. Fechei os olhos, esperei que ela batesse em mim. Sabia que ia bater. Ela ia me machucar igual ao Alex.

— E-estava com saudades de você. — Gaguejei envergonhado, respirando fundo. — E-eu juro que tentei. Tentei distrair Alex.

— Distrair? O que você estava fazendo, Stiles? Eu fiquei sozinha! — Ela gritava. Ela gritava! Meus ouvidos doíam. — Pensei que tivesse morrido! Como eu ia fugir desse lugar sozinha? — Tive medo de olhar para ela. Medo de deixar o céu mais irritado. — Não que você pareça ser capaz de me ajudar.

— E-eu... Alex pediu para eu brincar com o fazer de xixi dele. — Expliquei a contragosto. Sentia vergonha. Muita vergonha.

Queria que o céu tivesse orgulho de mim. Queria que ela gostasse de mim. Mas ela me odiava. Me odiava. Odiava muito.

Ela era meu céu. Ela era a primeira mulher do mundo e sentia raiva de mim.

— Ele... ele pediu o quê?!

— Para brincar.

— Brincar como, Stiles? — Ela parou de gritar. Mas o rosto continuava bravo. E eu... eu continuava com medo.

— Com as mãos. — Respondi rápido. Balancei os ombros. Não gostava de falar sobre aquilo. — E com a boca. Ele pediu para eu colocar a boca no fazer de xixi.

O Pequeno pedaço do céuOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz