Tudo em você é lindo

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Menstruação é a pior coisa do mundo. Juro! A pior de todas as coisas ruins. Há pouco tempo, eu nem sabia o que isso era. Mas o Paraíso me explicou e eu entendi. Entendi mais ou menos.

É uma coisa que só acontece com mulheres. Ou seja, só acontece com a Lydia, porque ela é a única mulher do mundo. O Céu disse que não é um machucado, porém, faz doer a barriga. Ela chama essa dor de cólica.

Eu queria que ela tivesse deixado eu ver o fazedor de xixi dela. Pedi para ver, mas ela não deixou...

Queria ter certeza que o fazedor de xixi dela não estava machucado, porém, o Céu jurou que não estava. Disse que saía sangue dali, mas que era normal. Falou que acontece todo mês.

Eu...eu não sei direito o que é mês. Às vezes pergunto para Alex, pergunto se já faz meses que eu existo. E ele ri. Ri de mim e não responde. Então fiquei com vergonha, com vergonha de perguntar para o céu o que era um mês. Por isso, não perguntei.

— Eu estou bem, Stiles.

Apesar das palavras do Céu, eu não consegui acreditar. Ela usava minha calça de moletom e o tecido ficava cada vez mais sujo de vermelho. Era sangue. Sangue do Céu.

— Você não para de sangrar. — Reclamei baixinho, a olhando com dúvida.

Já tinha dormido e acordado quatro vezes e Lydia continuava sangrando. Eu queria que ela parasse de sangrar e o Paraíso prometia que ia parar..., no entanto, estava demorando! Demorando muito.

Alex já tinha entrado no quarto para deixar comida e viu que o Céu estava sangrando. Eu pedi ajuda! Disse que ele tinha que ajudar Lydia.

Ele riu de mim e resmungou algo sobre absorventes. E Lydia...bem, ela só ficou encolhida na cama. Na minha cama. Ela sentia muito medo do Alex. Eu também sentia.

— Uma hora vai parar. Eu juro. — Ela repetiu a mesma frase que sempre dizia para mim. Eu amava ouvir sua voz. Era delicada, aguda... linda.

Ela era toda linda. Seus lábios, os olhos, a pele, o cabelo.... Linda. Perfeita. Eu amava cada pedaço de sua aparência. Amava escutá-la e por isso, odiava vê-la sangrando.

— Nunca pensei que ia desejar tanto ter absorvente... — Foi última reclamação de Lydia. Falou bem baixinho.

**

O céu tinha razão. Ela sempre tem. Chegou algum momento, não sei quando, que ela parou de sangrar. Como se fosse mágica. Mágica como tem em um dos três livros do mundo.

Ela parecia mais calma. Depois que parou de sangrar, depois que eu fiquei muitas, muitas vezes lendo os livros antes do Céu dormir, ela pareceu melhor. Não chorava tanto. Não gritava tanto. O Paraíso só se encolhia quando o Alex entrava no quarto e ficava calada. Totalmente.

Mas ela fala comigo! Dá para acreditar?! Sei que parece mentira..., porém, cada vez mais, Lydia fala comigo. Ela conversa comigo e eu amo isso. Amo conversar.

Quando só existia eu e o Alex, eu não tinha com quem conversar. Porque ele não gosta de mim e eu não gosto dele. Ele é malvado.

Alex se recusava a falar comigo. Eu ficava triste com isso. Lydia é diferente dele. Ela pergunta sobre as partes do mundo, pergunta sobre minha vida, sobre o que eu gosto de fazer e o que não gosto.

Eu amo falar. Amo contar o que antes, não tinha como dizer para ninguém. No entanto, é melhor ainda quando o Céu fala com aquela voz linda, aquele rosto lindo.

Amo ver como os lábios infinitamente grossos se movem enquanto ela fala. Tento imaginar como deve ser a textura daquela boca. Queria esticar a mão e tocar naqueles lábios para sentir. Queria muito. Muito. Mas tenho medo dela brigar comigo se eu tocar em sua boca.

O Pequeno pedaço do céuWhere stories live. Discover now