A pior dor de todo o mundo

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Minha cabeça girava, doía, meu estomago se embrulhava. Estava com medo, apavorado e ainda assim, a beleza do Céu me surpreendia. Eu a amava e mesmo em meio a tanto medo, estava feliz por ter dito aquilo.

Alex.

A voz dele aumentava aos poucos junto com sons ocos, barulhos que não reconheci. Quase podia visualizar ele levantando do chão, tirando a madeira das pernas. Ele ia bater em mim. Bater muito.

— Stiles, você confia em mim? — O Paraíso sussurrou com os olhos medrosos, a expressão... desesperada. Queria poder protegê-la, fazê-la feliz.

— Os monstros existem! — Falei apressado e alto. Tive medo dela tentar mais uma vez me convencer a sair pela porta aberta.

— Eu sei, acredito em você.

Franzi o rosto e tentei olhar para trás, na direção da minha parte do mundo, do quarto, onde Alex estava. Mas o Céu não deixou. Ela se desprendeu do abraço e segurou meu rosto. Queria abraçá-la de novo. Queria muito.

— Você tem certeza que me ama? — A nova pergunta fez meu coração já disparado, acelerar ainda mais.

Ansioso, concordei com a cabeça, querendo repetir as palavras que tinha dito pouco antes. Ela sorriu sem mostrar os dentes. Eu amava vê-la sorrindo, porém, ela ainda chorava. As lágrimas não cansavam de cair dos olhos verdes.

O sorriso com o choro era uma combinação ruim. Mas ela continuava linda.

— Então confie em mim e feche os olhos, por favor. — Abri a boca, queria perguntar algo, mas Lydia negou com a cabeça e repetiu: — Feche os olhos.

Não podia negar aquele pedido. Ela me implorava, ela chorava. Queria agradar o Céu. Fechei os olhos e fui presenteado com as mãos pequenas agarrando as minhas.

— Você não vai abrir os olhos até eu deixar, escutou? Não importa o que aconteça, só vai abrir quando o Céu deixar!

Mesmo sem entender, confuso, confirmei com a cabeça. Sentia tanto medo, tanta dor, tanto nojo, que não era capaz falar. Queria limpar meus lábios inchados e nojentos, queria me encolher em um canto e implorar para Alex não bater em mim.

Mas eu precisava proteger o Céu.

— Vai fazer o que eu pedir, se não Alex vai me machucar!

Apavorado, abri os olhos e encarei Lydia. Ela chorava ainda mais.

— C-céu...

— Feche os olhos! — Ela falou alto e eu estremeci de medo. — Não abre até eu pedir, Stiles! Por favor, se não fizer isso, nós vamos nos machucar!

Voltei a fechar os olhos, decidido a obedecer. Fechei com muita força e senti as mãos e pernas tremendo. Fui puxado para cima e sem entender, fiquei de pé, obedecendo as mãos pequenas de Lydia.

— Vem! — Ela berrou e eu só me permiti ser arrastado por ela.

O Céu me segurava com tanta força que sentia suas unhas cravando nas minhas mãos, me ferindo. Mas não reclamei. Estava assustado demais, confuso demais, não conseguia entender o que acontecia.

Escutava os soluços e a respiração irregular do Paraíso. Ela chorava e eu também, soluçando como ela. Ainda pensava na cena humilhante que o Céu tinha visto, ainda pensava em Alex. Porém, continuei obedecendo a Lydia.

Ela começou a me puxar para alguma direção que eu não podia ver. Tropecei várias vezes, porém, a segui. Apertei a mão contra a sua, fazendo com que as unhas dela fossem ainda mais fundo em minha pele.

Gemi de dor, mas não ousei abri os olhos. Nem mesmo quando meus pés descalços passaram a pisar em algo irregular que causou dor. Muita dor. Sentia as solas dos pés se abrindo.

Lydia berrava constantemente. Gritava ordens. Coisas como: vem, cuidado, corre, não para.

Eu estava correndo. Apesar de ter corrido poucas vezes no mundo, eu sabia o que era correr. O Paraiso também devia estar correndo e eu queria ver isso, no entanto, não podia abrir os olhos.

Estava tão apavorado que se ela pedisse para eu abrir os olhos, talvez nem conseguisse. Não naquele momento, enquanto tentava raciocinar o que acontecia.

Alex! Por que eu não escutava mais a voz dele?

Se eu não estava apanhando, ele ainda não tinha chegado até mim. Mas era possível ele ainda estar caído? O Céu tinha machucado tanto ele?

Não sabia nem onde eu pisava, só sabia que doía. Doía muito.

Lydia não parava de correr. Eu não parava de correr. Queria parar, pois não conseguia respirar. Meus pulmões queimavam. Todo meu corpo queimava e suava. Suava demais.

Mas não tinha forças para falar com o Céu. Não tinha coragem. Às vezes, quando tropeçava, meus olhos quase abriam contra a minha vontade. Porém, sabia que não podia abrir, não podia desobedecer ao Paraíso.

Ela disse que Alex ia fazer maldade se eu abrisse os olhos. E isso não podia acontecer. Eu tinha que protegê-la, continuar de olhos fechados e correndo.

Tropeçava muito, sem parar. Tentava manter o equilíbrio, mesmo com os tornozelos doendo e sentindo algo melado escorrer por meus pés. Devia ser sangue. Tinha quase certeza, no entanto, não queria aceitar.

Odeio sangue.

Por mais que me esforçasse, um dos tropeços me venceu. Berrei com uma dor insuportável que surgiu do meu pé esquerdo e subiu pelas pernas, dominou meu corpo.

Desabei no chão desconhecido e não consegui mais manter os olhos fechados. Continuava segurando firme a mão de Lydia e por isso, senti seu peso caindo por cima de mim. Eu derrubei o Céu!

— Desculpa! — Disse sem forças, chorando.

Olhei para os lados, mas não conseguia enxergar. Tudo estava embaçado e... verde. Como se as partes do mundo tivessem sido pintadas com lápis de cor. Não reconheci a parte do mundo. Tudo estava desfocado.

Muita dor. Talvez a maior dor que já senti na vida. A maior dor do mundo.

— Meu Deus, Stiles!

— Desculpa, desculpa! — Não conseguia entender onde eu estava, nem enxergar o Céu, mas a sua voz agitou minha culpa e fez com que eu me desculpasse.

— Não precisa pedir desculpa, está tudo bem. — Pela sua voz, ela não parecia nada bem.

— Está doendo! — Disse desconcertado e mais uma vez, gritei. Tentei levar as mãos até o centro da dor, meus pés, pernas, mas fui impedido.

Senti as mãos de Lydia me segurando. Senti o toque quente me restringindo. Tentei lutar contra o aperto, porém, não consegui. A dor roubou minhas forças.

— Vai ficar tudo bem, confie em mim.

A dor era alucinante. Queimava, subia, descia, tirava meus sentidos. Só sentia dor e mais nada. O Céu estava falando, mas aos poucos, não consegui mais ouvir.

Fui me tornando surdo e totalmente cego. A visão foi escurecendo por mais que eu lutasse para manter os olhos bem abertos. O medo, o desespero, a confusão, tudo cedeu e abriu espaço para a dor.

Não pude sentir mais nada, entender mais nada.

Perdi todos os sentidos, todas as sensações.

Apaguei.

O Pequeno pedaço do céuWhere stories live. Discover now