As sete partes do mundo

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O Paraíso cuidou de mim. Eu achava que ela não gostava de mim. Mas eu estava enganado, porque ela cuidou de mim! Dá para acreditar? Eu sei que não. Mas é verdade!

Dormi e acordei milhões de vezes. Todo meu corpo doía, cada centímetro de pele. Doía por dentro e por fora. Era como se meu estomago estivesse sendo esmagado por algo muito grande. Enorme. Gigante. Grande como.... Uma geladeira! Uma não, duas. Várias geladeiras. Era como se elas me esmagassem contra a cama.

Parecia impossível respirar ou me mover direito, porém, o pequeno pedaço do céu cuidava de mim. Ela passava um pano úmido no meu rosto e a sensação era boa. Ela pressionava meus machucados, passava os dedos por meu cabelo.

Eu queria muito conseguir falar com ela, queria agradecer. Porém minha boca mal se movia. Toda vez que eu acordava, só conseguia chamá-la. Bastava eu dizer "céu, "paraíso" ou até mesmo, "Lydia", que ela aparecia no meu campo de visão.

Não sei quanto tempo passou. No entanto, eu nunca tenho noção do tempo. Só sei que Lydia colocou pedaços de pão na minha boca. Sustentou minha cabeça e fez com que eu comesse. Ela também me deu água de uma pequena garrafa.

Só por causa da comida, que eu sabia que Alex tinha entrado no meu pedaço do mundo. Mas eu não vi quando ele entrou, não vi quando ele deu aquela comida para Lydia. Eu só sabia que ela tinha dividido seu alimento comigo e isso fez com que eu gostasse ainda mais dela.

Teve um momento em que eu acordei sentindo algo gelado contra diversos pontos do meu corpo, inclusive no meu olho esquerdo. Era gelo e eu não tinha ideia de como o Paraiso tinha pego aquilo.

Eu só sabia que ela estava cuidando de mim. Ela falava comigo e cada vez mais, eu amava o som de sua voz. Era bom ouvi-la, mesmo quando eu não podia entender. A dor do meu corpo cedia para escutar o que ela tinha para dizer.

Ela cuidou de mim e por isso, assim que a dor começou a ceder e minha visão voltou a ganhar foco, segurei a mão de Lydia. Ela cutucava um hematoma ainda dolorido em meu braço e tudo que eu pude fazer, foi alcançar seus dedos e abraçá-los.

O céu se afastou do meu toque. Ela se afastou! Se ela gostava de mim, por que não deixou que eu segurasse sua mão? Eu queria nossos dedos juntos. Precisava! Mas tiver vergonha, muita vergonha. Se ela me rejeitasse novamente, se me afastasse de novo... eu ficaria para sempre olhando para o chão.

— Oi.

Ela falou. Falou comigo! Sua voz era doce. Doce como o chocolate que eu roubava de Alex quase que de modo compulsivo. O sabor adocicado era tão bom, que fazia com que valesse a pena apanhar para degustar daquilo.

A voz do meu pequeno pedaço do céu era deliciosa.

— Oi! — Foi tão difícil para falar, que me perguntei a quanto tempo eu não dizia nada.

— Por que você me chama de céu? — Seus lábios estavam exprimidos. Lindos lábios. Ela podia consumir o mundo todo com aquela boca grossa. — E de Paraiso?

Meu rosto ardeu, ardeu muito. Tive certeza de que meu rosto ficou vermelho. Talvez, só talvez, tão vermelho quanto o cabelo do Paraíso. Apesar que eu tinha certeza que era impossível imitar aquela exata cor.

— V-você é linda... e acabou de nascer. — Expliquei baixo. Sempre falava baixo.

Alex odiava que eu falasse alto. Ele batia em mim quando eu não falava baixo e eu não podia apanhar de novo. Não na frente do céu. Não enquanto meu corpo ainda doía. Doía como se tivesse mil geladeiras em cima de mim.

— Acabei de nascer?

Ela parecia...confusa. As sobrancelhas se uniam, a boca entreaberta. Por que ela estava confusa? Acho que ela não sabia que tinha acabado de nascer! Mas como podia não saber? Eu tinha que explicar para ela.

O Pequeno pedaço do céuOnde histórias criam vida. Descubra agora