Sempre ao Seu Lado

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– O 3 de ouros pede que você trabalhe em equipe, e A Sacerdotisa fala do seu caminho espiritual. Bem, me parecem os seres espirituais que você segue ou que te acompanham.

A taróloga falou aquilo com tanta certeza, que foi difícil de questionar. Mas, como assim trabalhar em equipe com os seres espirituais?

Eu não tenho dom de ver espíritos. Ou mesmo de ouvir. Sequer sonho com frequência! Às vezes, e somente às vezes, eu percebo minha intuição um pouco mais aguçada, como se não fosse eu mesmo pensando. Bem, mas se passam tantas coisas loucas em minha cabeça...

– Em seguida, apareceu O Hierofante como conselho. Ele diz assim: Foque nessas tarefas espirituais, que logo vai ter a resposta. Na verdade ela já está aí, com você, mas você ainda precisa de alguns entendimentos para que tudo fique claro.

E lá vem ela, novamente, com esses papos sobre coisas e seres espirituais.

Será que estou sendo enganado? Será que gastei dinheiro à toa nessa consulta? Ah... claro que sim... Afinal, como que alguém pode ajudar outra olhando para meros pedaços de papéis?

...

Saí da consulta, mas cheio de dúvidas.

Não que a moça não tenha explicado direito... Ela explicou, mas eu não compreendia. Não entendo muito bem essas coisas espirituais. Não me faz sentido que apareçam no jogo... Não busco por isso!

Sentei numa calçada e fiquei lá, pensativo.

O engraçado era o meu conflito interno! Eu devia estar ficando louco! Se eu pensava "Acho que a taróloga mentiu...", algum outro pensamento surgia de imediato, me cortando, dizendo "NÃO!".

Se eu pensava "Mas eu quase não busco essas coisas de espiritualidade...", um outro pensamento vinha por cima deste dizendo "Deveria".

Se eu cogitava em pensar "Estou ficando louco?", o outro pensamento vinha dizendo "Pare de pensar isso!".

Talvez fosse melhor uma consulta ao psicólogo?

...

Cheguei em casa e me joguei no sofá. Minha irmã estava lá no quarto dela, acendendo incensos. Recitando umas palavras. Mantras, eu acho. Fui lá, dar uma olhada.

Quer saber? Não vi nada de mais...

Ela recitava algo como "OM", tinha acendido um incenso... acho que de sândalo, e estava de olhos fechados. Meditando. Como aquilo poderia ter a ver com espiritualidade?

Assim que pensei essas exatas palavras, senti raiva. E... como posso explicar? Não era minha raiva! E não havia motivo para sentir raiva!

Contive aquele sentimento e fiquei calado. Em algum momento aquela meditação acabaria e eu aproveitaria para fazer umas perguntas para minha irmã.

...

Ela abriu os olhos lentamente...

Acendeu uma vela laranja e pediu disposição para o trabalho. Então foi se levantando devagarinho. Agradeceu... e quando me viu, ficou surpresa.

– O que você faz aí, maninho?

Ri meio sem graça. O sentimento de raiva sumiu, e no lugar veio uma vontade louca de enchê-la de perguntas. Algumas que até não me faziam sentido. Comecei justamente por essas:

– Sabe quando você pensa algo e esse algo não foi você quem pensou?

Mal falei e já comecei a ficar sem jeito. Eu queria rir de mim mesmo. Que pergunta idiota! Se eu pensei, claro que é meu pensamento!

GrimórioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora