VIII

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Tayla coloca seu vestido mais simples, prende seus longos cabelos e desce para o jantar. Nada desconfiam da moça e ela está sorridente como nunca, nada como uma boa noite de diversão.

Quem sabe não era essa a noite em que ela daria seu primeiro beijo? Teimava em negar, mas ás vezes era uma grande romântica, em excesso até. Se algum rapaz a desejasse com as roupas normais em que ela se encontrava, muito provável que ele a desejaria em qualquer ocasião, até mesmo quando ganhasse um filho. As vitorianas (e até a própria rainha Vitória) temiam a gravidez de um modo inexplicável.

Pensavam na morte durante o parto, ou na aparência ruim que podiam adquirir, com uma grande criança sendo gerada, fraca, sem ânimo. Se um rapaz gostasse de Tayla mesmo desarrumada, para ela seria um sentimento muito forte. Ela mal sabia que essa tática de elogiar o simples era uma das mais usadas por Edmond.

Ao findar da noite, todos já estavam recolhidos. O pai de Tayla saboreava um vinho em sua sala de jogos enquanto lia a política de hoje no jornal, a mãe de Tayla bordava uma manta para a sobrinha em seus aposentos e suas irmãs pegaram um livro na biblioteca da casa e se recolheram também.

Conferindo se tudo estava na mais perfeita ordem, ela espera o sinal de Daisy. Leva um susto com uma grande pedra arremessada contra sua janela. Com desespero para não acordar ninguém, ela se dirige até o vidro com bordas neoclássicas e o abre.

- O objetivo é quebrar uma janela de duzentos anos ou chamar a minha atenção?

- Pare de resmungar e desça logo daí. - Daisy diz, o mais baixo que pode.

Como uma boa fugitiva, ela se esgueira pela borda da janela e se agarra na árvore. Vai descendo devagar, até o chão de grama conseguir alcançar. Um abraço caloroso que só elas sabiam dar. Aquela noite seria apenas delas.

No clube, um participante confiante se prepara. Penteia seus cabelos, arranca sua camisa após arrancar o casaco e coloca as calças apropriadas. Escandalizar toda uma sociedade por ser um Conde boxeador? Era com ele mesmo. O Lobo á Rigor não era apenas chamado assim na conquista, mas no ringue ele não tinha piedade. Perdeu poucas, sendo a maior delas quando estava distraído e com a cabeça fora do lugar, pela morte do pai.

Desde então, ganhar tem sido uma honra. E cada vitória ele dedica á uma lady em especial, aquela que mais chamou sua atenção durante a luta. Will diz para ele algumas palavras de incentivo mas ele mal escuta, apenas foca em seu oponente que se preparava a pouco, que agora vem em sua direção, como um cachorro furioso. Garret Reynolds podia ser um cachorro com raiva, mas Edmond era o lobo, o incansável, o insuperável e o provável vitorioso.

Garret passa por ele e esbarra em seu ombro, provocando.

- Deixe para o ringue, o que tem que acontecer lá, Reynolds. Não quero que você apanhe antes da hora exata.

- Se engana se acha que vai ganhar essa luta, meu amigo. Seus tempos de glória acabaram, ninguém mais acredita que você possa ser um vencedor, assuma que está derrotado.

- Quem muito fala, faz pouco. Nos vemos no ringue. - Edmond responde, colocando seu roupão.

Nesse momento, Tayla chega no local com Daisy e ambas vão direto para a bancada de bebidas.

- Duas doses do seu melhor vinho, rapaz. - Tayla diz e só então percebe que seu cabelo está preso como o de uma lady.

- Solte essa coisa. - Daisy bate no coque do cabelo da amiga, soltando-o, revelando um longo e cacheado castanho.

O vestido vermelho claro de Tayla deixava ombros à mostra. Juntando seu cabelo longo, o vestido de ombros e as argolas que comprou em um mercado estrangeiro, ela parecia uma verdadeira espanhola, cigana.

Quando Um Conde Se ApaixonaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora