XV

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Sábado, 26 de setembro de 1846.  

A cidade de Watford é banhada pela chuva constante da Inglaterra. Edmond se vira em seu leito e percebe uma luz entrar pela janela antiga da mansão, no quarto escuro dele. Ela ilumina o broche de ferro soldado de seu pai, que permanecia em cima do móvel. O que ele pensaria dele naquele momento? Certamente ficaria orgulhoso de seus esforços para proteger sua família acima de tudo, casando-se com alguém que jamais poderia amar. Mas será que ficaria orgulhoso ao descobrir o que o filho tinha feito, já compromissado?

Edmond pensava não ser possível ter feito algo com Rose, pois se lembrava apenas dos beijos, mas por que ela mentiria sobre uma coisa dessas? Ele se questionava se era realmente digno de Miss York.

Ele se levanta com rapidez e olha o broche, que fora guardado com carinho durante todos esses anos. Largando o broche, ele se dirige até a janela e afasta as cortinas, contemplando a chuva. "Ainda há tempo de fugir?" Ele se questionava. Seu coração gritava uma resposta positiva, seu cérebro sussurrava, sempre o mais racional: apenas faça o seu trabalho.

Como um bom homem vitoriano e como um bom inglês, ele não devia mostrar nem transparecer suas emoções. Mas ele as tinha. Sua situação de saúde parecia estável, ainda sim, no final de agosto, sua mãe havia mandado uma carta para o médico com o intuito de um exame de garantia para que pudesse casar-se tranquilamente. As marcas do passado assombravam-no e desde o dia em que aceitou casar-se, não deixou de desejar uma vez sequer que seu pai estivesse vivo para dar suporte, ou talvez até impedir o casamento.

Ele encara o chão e então suas ideias se clareiam: a presença de seu pai faria uma enorme diferença pois, o casamento não se faria necessário. Todo esse matrimônio girava sobre um único pilar: a chantagem de Isla para conseguir dinheiro e dar ao pai de Tayla enquanto falsificava documentos da posse da propriedade Hughes.

Ele tenta esquecer o ocorrido com Rose, até poderia contar para Tayla depois, mas em um momento correto, para não dificultar o processo do casamento. Edmond só não sabia que Rose dificultaria tudo sozinha.

Um criado bate na porta e ele vai até ela para abrir.

- Conde Hughes. – o criado faz uma reverencia. – Chegaram duas cartas. – Ele diz, segurando uma bandeja de metal com duas cartas de selos diferentes.

- Obrigada, Phil. Mamãe e vovó já tomaram o desjejum? – Ed pergunta.

- Não senhor, se dirigiram para o salão ainda a pouco.

Ele agradece e o criado se retira. Enquanto coloca as suas vestimentas, ele encara os selos:

Um era da casa dos York, fazendo Edmond estremecer. Outro era um selo padrão, que ao virar o envelope, Edmond pode descobrir o remetente: O Hospital de Londres. O conde estremece mais ainda, um frio percorre suas veias.

Descendo com pressa, ele chega até o salão. Deposita um beijo no rosto da mãe e na testa da avó, sentando-se assim, em sua cadeira. Com as cartas sobre a mesa, ele pega em uma xícara com a mão e com a outra ele pega uma faca. Edmond toma um gole de chá e a bebida desce quente por sua garganta. O conde larga a xícara e pega a primeira carta: A da família York.

Cortando o selo, ele abre a carta e inicia a leitura.

- Uma carta de sua noiva? – Olívia pergunta, curiosa.

- Se eu tivesse visto o nome de Tayla no envelope teria ateado fogo. – Edmond responde, ainda sem tirar os olhos da carta.

- Um dia vai ter que perdoá-la. – Isabelle diz por fim, lendo o jornal.

- Vocês a perdoaram? – Edmond finalmente levanta os olhos e encara as duas, que estavam sentadas uma de frente para a outra, com Edmond na ponta da mesa.

Quando Um Conde Se ApaixonaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora